Sobe para 32 nº de moradores de rua mortos em AL

15 / 11 / 10

Monique Camila dos Santos, 21 anos, foi executada a tiros, no Vergel do Lago

Sobe para 32 o número de moradores de rua mortos em Alagoas. Desse total, 31 foram mortos na capital e um caso foi registrado no interior do Estado. Na madrugada de hoje, a vítima da vez foi a moradora de rua Monique Camila dos Santos, de apenas 21 anos. Ela foi executada a tiros, na periferia de Maceió. De acordo com a polícia, a jovem foi assassinada com vários tiros, no bairro do Vergel do Lago, na periferia da cidade, em um dos lugares mais pobres da capital alagoana.

A mãe de Monique, Maria Nazaré da Silva disse que a filha tinha saído de casa, atraída pelas drogas e estava na rua desde o início do ano. Moradores da rua onde o corpo foi encontrado contaram que ouviram os disparos dos tiros, por volta das 4 horas da manhã. Os estampidos vinham de uma viela próxima à Rua da Paz. Quando saíram para ver o que tinha acontecido, os moradores perceberam que homens arrastavam o cadáver da vítima pela Rua da Esperança, abandonando o corpo da garota próximo a bueiro, no final da Rua dos Cajueiros.

O corpo de Monique foi levado para o Instituto Médico Legal Estácio de Lima, onde foi submetido a necropsia e liberado para o sepultamento. A polícia terá dificuldade para investigar o crime, já que no local impera a “lei do silêncio”. Os policiais disseram as pessoas não querem testemunhar, com medo de represálias. A morte de Monique pode estar associada à dívida que a garota teria com traficantes, que atuam na região. Por isso, ninguém quis fornecer maiores informações à polícia. O assassinato da garota será investigado por policiais da Delegacia do 3º Distrito, mas deverá ser acompanhado também pelos delegados da Força Nacional de Segurança Pública, que estão em Alagoas desde o dia 5 de novembro.

Força Nacional

No final da semana passada, o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri esteve em Maceió, para participar da Reunião de Secretários de Segurança Pública. Em entrevista à imprensa, ele prometeu enviar mais dez policiais para se juntar ao grupo de 45 policiais civis que se encontra em Alagoas, para ajudar a Policia Civil tentar elucidar centenas de homicídios registrados no Estado cujos inquéritos que estão inconclusos até 2007. “Mas isso não impede que esse grupo de policiais, que estão na primeira missão investigativa, de investigar a situação das mortes de moradores de rua”, afirmou o secretário.

Balestreri disse também que se tiver policial envolvido nos assassinatos de moradores de rua também serão investigados e punidos de acordo com a lei. As investigações das mortes de moradores de rua também estão sendo acompanhadas pelo Ministério Público Estadual e pela Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL).

Para o promotor de Justiça Alfredo Gaspar de Mendonça, coordenador do Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc), por trás de alguns desses crimes existem grupos de extermínios e milícias armadas, composta por policiais a serviço de comerciantes e traficantes de droga. Três policiais civis já foram denunciados pelo MPE, mas estão soltos e negam as acusações. Eles dizem que estão sendo usados como “bodes expiatórios”, para justificar a incompetência das autoridades de elucidarem esses crimes cometidos contra os moradores de rua.

Espancamento

Além do assassinato de Monique, a Polícia Civil registrou na manhã desta segunda feira o espancamento do morador de rua José Carlos Pereira, de 42 anos, que sobrevivia catando e vendendo latinhas. Ele foi espancado por um grupo de jovens de classe média, visivelmente embriagados, na Avenida Siqueira Campos, no bairro do Trapiche da Barra.

Segundo a polícia, o morador de rua foi espancado de forma cruel e entrou em coma após ter levado vários chutes na cabeça. Socorrido por populares, José Carlos foi levado para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde se encontra internado em estado grave. Os três agressores foram presos e identificados como Pedro Amaral da Silva, de 23 anos; José Jedson Guimarães dos Santos, 21 anos; e Edelvânio José Nascimento de Souza, 19 anos. Quando foram presos, os três negaram envolvimento com o crime, disseram que não foram eles que espaçaram o morador de rua.

Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Gilberto Irineu, atos de violência com este, praticado por filhos da classe média, mostram que as mortes dos 32 moradores de rua, registradas este ano em Alagoas, têm causas diferentes e devem ser investigadas de formas distintas. “Temos casos de crimes praticados por motivos fúteis, brigas existentes entre eles; crimes praticados pela discriminação social; crimes motivados por vingança ou dívidas contraídas pela venda e o consumo de drogas, principalmente pelo crack; e aquelas atribuídas aos grupos de extermínios, pelas armas usadas durante a execução”, observou o representante da OAB.

“O importante é que todos os casos sejam investigados e os culpados punidos, não podemos nós conformar com essa impunidade. Por isso, estamos atentos e cobrando das autoridades a elucidação de todos os casos”, acrescentou Gilberto Irineu. Segundo ele, Alagoas é campeã em homicídios porque a impunidade de certa forma incentiva determinados tipos de crime, principalmente quando as vítimas ao de origem humilde ou têm envolvimento com drogas.

O conselheiro da OAB chama atenção para os números de homicídio no Estado. De acordo com números oficiais, o índice de homicídios em Alagoas é um dos mais altos do País. Em 2008, foram 60,05 casos por 100 mil habitantes, mais do que o dobro da média nacional, que é de 26,64 casos para cada 100 mil habitantes. Só em 2009, foram mais de dois mil homicídios registrados no Estado. A média de mortes violentas por final de semana oscila entre 9 a 15 casos.

Neste final de semana, uma equipe da Polícia Civil foi deslocada até a Fazenda Licândia, no Conjunto Eustáquio Gomes, na parte alta de Maceió, onde os corpos de dois homens foram encontrados por populares crivados de bala. As vítimas – ainda não identificadas – teriam sido executadas a tiros de revólver e pistola.

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