20% dos alunos abandonam o ensino superior no Brasil

15 / 02 / 11

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Falta de orientação no Ensino Médio, idealização de carreiras, problemas no nivelamento entre estudantes e dificuldades para lidar com os altos custos do ensino estão entre as principais causas para que um em cada cinco alunos tenha abandonado a faculdade em 2009, segundo dados do MEC (Ministério da Educação). A média de desistentes (21%) é inferior à registrada em 2008 (22%), mas ainda considerada muito alta, levando em conta o número de universitários que abandonaram seus cursos, que chegou a 896.455.

Os dados do Ministério não contemplam explicações sobre as causas do abandono, que atinge 24,5% do total de alunos das universidades privadas e 10,5% daqueles que estavam nas públicas. Para a coordenadora de Vestibular da Trevisan Escola de Negócios, Leticia Bechara, os números refletem um Ensino Médio voltado para o vestibular sem a devida apresentação das áreas, carreiras e assuntos profissionais. “A maioria das escolas esquece de focar na identificação de habilidades e possibilidades dos alunos, focando apenas na passagem para o Ensino Superior. Eles acabam escolhendo o curso sem muitos subsídios, e isso se reflete no abandono”, analisa.

O orientador vocacional Sílvio Duarte Bock corrobora o argumento de que as escolas não incentivam de forma adequada a reflexão sobre a escolha profissional, e acrescenta que a entrada maciça da classe C nos salas de aula do Ensino Superior também contribui para esse alto índice de evasão. “É um grupo que está “encantado” com o acesso à universidade, e acaba optando pelo ingresso direto, sem avaliar as consequências, os valores e a projeção de futuro”, explica.

Visão errada

Bock, que é doutor em educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), acrescenta que os veículos de comunicação também têm um papel preponderante na formação das ideias que os jovens têm sobre determinada carreira ou profissão e, às vezes, contribuem para escolhas equivocadas. “Desde que nascem, as pessoas formam uma imagem a respeito das profissões, que não são falsas, mas são imagens supervalorizadas, idealizadas. É bom lembrar que ninguém pensa a profissão de forma abstrata, mas normalmente conhece um profissional e gostaria de ter a vida e o poder que ele tem. Isso não é errado, mas é preciso mostrar todo o contexto da carreira”, aponta o orientador.

Letícia, da Trevisan Escola de Negócios, lembra que há cursos como Relações Internacionais e Gastronomia que são a “bola da vez” e atraem cada vez mais alunos, mas boa parte deles sequer conhece o cotidiano e o mercado dos respectivos profissionais. Com isso, muitos buscam as graduações pelo deslumbramento.

“Poucos sabem qual o campo de atuação de um profissional de Relações Internacionais, por exemplo. Seria muito difícil apresentar as mais de 200 graduações que existem hoje, mas é preciso dar maior atenção para a escolha, já que muitas vezes ela ocorre com jovens de idade entre 17 e 18 anos”, explica.

Evasão e prejuízo

O saldo do abandono de alunos passa de bancos universitários vazios ou mão de obra menos capacitada no mercado. As perdas financeiras com os quase 900 mil estudantes que abandonaram o curso em 2009 passam de R$ 9 bilhões, segundo cálculo do pesquisador do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, Ciência e Tecnologia, Oscar Hipólito. Os dados são do próprio Censo do Ensino Superior divulgado pelo Ministério da Educação, levando em conta o custo de R$ 15 mil ao ano com alunos na rede pública e R$ 9 mil ao ano nas instituições privadas.

Hipólito, que também é ex-diretor do Instituto de Física do Campus São Carlos da USP (Universidade de São Paulo), lembra que esse valor, ainda que alto, é subestimado. “Estamos levando em conta os gastos com infraestrutura, prédios, material de ensino, biblioteca e custeio de salários que são fixos, independentemente do número de alunos em sala de aula. Se colocarmos o preço da mão de obra que deixa de ser capacitada, e os recursos que deixarão de ser empregados em transporte, alimentação e itens de consumo, o valor sobe, e muito”, aposta.

Segundo o estudo realizado por Hipólito, apenas 47,2% dos estudantes se formam após quatro anos de curso. Significa que mais da metade dos alunos demora, cinco, seis ou mais anos para concluir a graduação. Outro dado preocupante da pesquisa é que, apesar da redução de 1% no número de desistentes entre 2008 e 2009, a taxa de matrículas que tinha crescido 14,8% em 2002, só cresceu 0,7% em 2009.

Solução

Hipólito critica a falta de ações do poder público e defende uma radical mudança na política de educação do País. “É necessário acompanhar o aluno desde o início, oferecer créditos educativos muito mais flexíveis que os existentes, apostar na capacitação e no desenvolvimento humano para colher os frutos nas próximas décadas”. O professor lembra ainda que o País conta um grande deficit no desenvolvimento de tecnologia e profissionais de pesquisa, fruto da falta de investimentos na formação de profissionais, além de mestres e doutores.

Já Bock acredita que as escolas podem orientar mais e melhor, e consequentemente melhorar esse cenário de vagas ociosas. “Penso que pode se dar uma atenção maior à análise de habilidades dos estudantes. Não basta fazer feiras de profissões ou palestras, é necessário deslocar um pouco o foco do vestibular e Enem para as necessidades individuais”, ressalta, lembrando que o Exame Nacional de Ensino Médio virou termômetro de qualidade para a maioria das escolas, distorcendo o real papel das instituições de ensino. O alto índice de evasão no Ensino Superior atrapalha também o já atrasado desempenho do Brasil na busca para atingir as metas do Plano Nacional de Educação – cuja ideia era alcançar 30% da população entre 18 e 24 anos no Ensino Superior até 2010. O indicador ainda não chega aos 13% atualmente.

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