Superbactéria mata oito pacientes do HU

06 / 04 / 11

Dez pacientes estão contaminados pela bactéria

A direção do Hospital Universitário de Alagoas (HU) confirmou na manhã desta quarta-feira (6), em entrevista coletiva à imprensa, a morte de duas pessoas causadas pela superbactéria Acinetobacter Baumannii. Com essas duas mortes, sobe para oito o número de vítimas fatais da superbactéria, sendo cinco adultos e três recém-nascidos.

Embora confirme a contaminação de outros dez pacientes pela bactéria, os diretores do HU garantem não haver risco de epidemia, o que contraria os funcionários do hospital, que faz parte da estrutura da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Com medo de contaminação, um grupo de servidores denunciou à direção da unidade de tratar o caso de forma negligente.

“Os trabalhadores o HU correm risco de morte pela superbactéria. Nós estamos trabalhando com medo”, alerta o funcionário Moisés Pereira. Segundo ele, “as poucas informações passadas pela direção sobre a superbactéria são insuficientes para garantir a integridade física dos servidores, familiares de pacientes e pessoas que circulam dentro do hospital”.

Outros hospitais infectados

Para o diretor médico do hospital, Alberto Fontan, não há risco de a superbactéria se disseminar entre os funcionários do HU. No entanto, ele alertou para possibilidade da contaminação de outros hospitais de Alagoas. De acordo com Fontan, apenas três pacientes foram contaminados pela superbactéria no HU, os demais já chegaram infectados.

“O que acontece é que pelo menos cinco pacientes foram procedentes de outros hospitais. Provavelmente a bactéria veio de fora e a rede hospitalar pública precisa tomar cuidado. Não havia nenhum registro de superbactéria aqui até a chegada dos pacientes. Achamos que esses doentes, antes de serem isolados, propagaram a doença para outros”, disse Fontan.

Ainda de acordo com Fontan, “de alguma forma a doença foi vinculada a UTI Néo Natal por meio de alguma mãe, já que os bebês que estão na UTI têm baixa imunidade. Alguma mãe infectada deve ter dado a luz, passado a superbactéria para o bebê, que passou para outros e, por consequência, para outras mães”.

Após as mortes de três bebês e um idoso, sob a suspeita de que tenham sido causadas pela superbactéria, a maternidade e a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital foram fechadas por tempo indeterminado na última sexta-feira (1º). A direção do HU ainda não tem previsão de quando a UTI estará liberada.

Com a maternidade e a UTI Neonatal do HU fechadas, a maternidade Escola Santa Mônica – que atender pacientes com gravidez de risco – está superlotada. No entanto, o diretor médico da maternidade, Telmo Arlindo, garantiu que existem leitos reservados em outras maternidades particulares para atender as parturientes, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Outra superbactéria

A superbactéria que atinge o HU de Alagoas é a Acinetobacter Baumannii, diferente da superbactéria que, desde o ano passado, preocupa as autoridades sanitárias brasileiras – a KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemases), que já causou mortes no Distrito Federal, Tocantins, Amapá, Pernambuco e Rio de Janeiro.

A bactéria Acinetobacter, encontrada no HU de Alagoas, matou três bebês e um idoso, entre os meses de fevereiro e março. Um dos bebês nasceu prematuro e com má-formação, enquanto os outros dois eram prematuros extremos, nascidos com até 30 semanas de gestação. Já o idoso tinha sofrido um derrame e estava com a saúde bastante debilitada.

As superbactérias recebem esse nome porque são resistentes à maioria dos antibióticos usados nos hospitais. Elas acabam atingindo principalmente pessoas hospitalizadas com baixa imunidade, como pacientes de UTI. Elas são transmitidas por meio do contato direto, como o toque, ou pelo uso de um objeto comum. A lavagem das mãos é uma das formas de impedir a disseminação da bactéria nos hospitais.

Central de informações

Logo após a confirmação das oito mortes pela superbactéria, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) anunciou que vai criar uma Central de Informações para prevenir e administrar ocorrências na rede. A central irá funcionar todos os dias, no Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) e estará interligada à Vigilância Sanitária Estadual, visando adotar medidas que possam solucionar eventuais surtos.

A decisão de criar a Central de Notificação foi tomada durante reunião no Hospital Universitário. O encontro contou com a presença do presidente da unidade, Paulo Teixeira, a inspetora da Vigilância Sanitária Estadual, os técnicos da Sesau Vanilo Soares e Sandra Canuto, o secretário de Saúde de Maceió, Adeilson Loureiro, e os promotores de Justiça Ubirajara Ramos e Micheline Tenório.

Para estabelecer como ocorrerá o fluxo das notificações, os coordenadores das Comissões Internas de Infecção Hospitalar (CIIHs) terão uma reunião com os técnicos do Cievs e da Vigilância Sanitária Estadual. Nessa reunião, marcada para segunda-feira (11/4), no auditório da Sesau, serão traçadas também campanhas de prevenção a contaminação de bactérias, principalmente as multiresistentes.

“O objetivo é unir todas as autoridades da área de saúde, dos setores públicos e privados, para assegurar que surtos de bactérias multiresistentes sejam sanados com agilidade. Mas temos que atuar na prevenção, por meio de ações de vigilância epidemiológica, seja com o uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) pelos profissionais de saúde, ou por gestos simples, como a higienização das mãos”, destacou Sandra Canuto, técnica da Sesau.

MP abre inquérito

Após a reunião com representantes do HU e da Sesau, a promotora Micheline Tenório disse que o Ministério Público Estadual (MPEAL) já instaurou um Inquérito Civil Público para investigar as mortes dos pacientes vitimas da superbactéria. “Além disso, vamos fazer o acompanhamento de todas as ações implementadas a partir de agora para combater o problema e evitar novas mortes”, afirmou a promotora.

“Com a decisão de criar o Centro de Notificação, o MP entende que medidas para sanar o problema estão sendo adotadas. Ficamos ainda mais tranquilos porque a equipe da Sesau irá intensificar as campanhas educativas, com o objetivo de conscientizar os profissionais de saúde sobre os cuidados necessários para evitar as infecções hospitalares”, concluiu a promotora.

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