Lindemberg é condenado a 98 anos de prisão

16 / 02 / 12

Réu foi condenado por todos os crimes dos quais foi acusado

Lindemberg Alves Fernandes, 25 anos, foi condenado nesta quinta-feira (16) pelo cárcere privado e morte da ex-namorada Eloá Pimentel, então com 15 anos, em 2008. O réu foi sentenciado a 98 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicial fechado, mais 1.320 dias-multa. A decisão saiu no quarto dia de júri, em Santo André, no ABC Paulista. Ele não poderá recorrer em liberdade.

O valor dos dias-multa, que serão revertidos ao Fundo Penitenciário, não foi divulgado pela juíza Milena Dias. Lindemberg foi considerado culpado de 12 crimes: homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima) em relação a Eloá; tentativa de homicídio duplamente qualificado em relação ao disparo contra Nayara Rodrigues; e tentativa de homicídio qualificado (para assegurar a execução de crimes) contra o sargento da Polícia Militar Atos Antonio Valeriano. Ele também foi denunciado cinco vezes por cárcere privado qualificado em relação a Nayara (duas vezes), a Eloá e aos dois adolescentes que estavam no apartamento no momento da invasão, e quatro vezes por disparo de arma de fogo em lugar habitado.

O julgamento foi marcado pelo depoimento de Lindemberg, que quebrou silêncio de mais de três anos sobre o caso. Ele surpreendeu, no início de sua fala, ao pedir desculpas à mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel. “Eu vim para contar a verdade, porque eu tenho uma dívida muito grande com a família dela. Eu queria pedir perdão em público, porque eu entendo a dor da Dona Tina. Eu queria pedir perdão para ela por tudo o que aconteceu.”

No depoimento, o réu disse que o casal havia retomado o namoro dias antes, em segredo, e que foi ao apartamento para visitar Eloá. Lindemberg disse que andava armado porque havia recebido ameaças de morte por telefone. Na chegada ao imóvel, porém, ele se surpreendeu com a presença de três amigos da jovem. Quando soube que havia sido traído com um dos adolescentes, Lindemberg exigiu que eles deixassem o apartamento, para que ele conversasse a sós com a namorada. O trio, porém, se recusou a sair.

Sobre o desfecho do cárcere, Lindemberg disse que tinha medo de se entregar à polícia. “Eu não tinha confiança na polícia. Em certo momento, a polícia abaixou a maçaneta da porta, quando disseram que não se aproximariam”, disse. Ele disse ainda que atirou contra Eloá após a polícia explodir a porta. “Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar, atirei. Foi tudo muito rápido”, afirmou. Ele acrescentou que não poderia afirmar que havia atirado contra Nayara porque não se lembrava.

Durante o júri, a advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, protagonizou bate-bocas com a promotoria, os assistentes de acusação e até mesmo com a juíza, a quem sugeriu que voltasse a estudar. Suas declarações sobre Lindemberg ser um “bom rapaz” geraram revolta no público que acompanhava o julgamento. No segundo dia, ela precisou deixar o prédio do fórum escoltada. No início do terceiro dia de júri, a advogada ouviu gritos de “vai embora” e “fora”, e pediu que a população parasse de hostilizá-la. “Eu não sou acusada, eu não sou ré”, afirmou.

Em seus depoimentos, os três jovens que ficaram em cárcere com Eloá disseram que Lindemberg tinha a intenção de matá-la. “Ele rendeu todo mundo e, em determinado momento, disse que a intenção dele era matar a Eloá e sair andando”, disse Nayara, que foi baleada no rosto no desfecho do cárcere.

Dois irmãos de Eloá prestaram depoimento, mas a mãe foi dispensada. O policial militar Ronickson Pimentel dos Santos, irmão mais velho da vítima, classificou Lindemberg de “monstro, louco e agressivo”. A jornalista, Ana Cristina disse não ter visto arrependimento no rosto do réu.

Apesar de a acusação focar na gravidade dos crimes atribuídos a Lindemberg, a defesa tentou culpar a imprensa e a atuação da polícia pelo desfecho do cárcere. No primeiro dia, a advogada exibiu mais de três horas de vídeos com reportagens em que é questionada a ação do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da Polícia Militar, e o trabalho da imprensa. “Todos, no meu ponto de vista, são corresponsáveis (pela tragédia). Inclusive a sociedade”, afirmou Ana Lúcia.

.: O mais longo cárcere de SP

A estudante Eloá Pimentel, 15 anos, morreu em 18 de outubro de 2008, um dia após ser baleada na cabeça e na virilha dentro de seu apartamento, em Santo André, na Grande São Paulo. Os tiros foram disparados quando policiais invadiam o imóvel para tentar libertar a jovem, que passou 101 horas refém do ex-namorado Lindemberg Alves Fernandes. Foi o mais longo caso de cárcere privado no Estado de São Paulo.

Armado e inconformado com o fim do relacionamento, Lindemberg invadiu o local no dia 13 de outubro, rendendo Eloá e três colegas – Nayara Rodrigues da Silva, Victor Lopes de Campos e Iago Vieira de Oliveira. Os dois adolescentes logo foram libertados pelo acusado. Nayara, por sua vez, chegou a deixar o cativeiro no dia 14, mas retornou ao imóvel dois dias depois para tentar negociar com Lindemberg. Entretanto, ao se aproximar do ex-namorado de sua amiga, Nayara foi rendida e voltou a ser feita refém.

Mesmo com o aparente cansaço de Lindemberg, indicando uma possível rendição, no final da tarde no dia 17 a polícia invadiu o apartamento, supostamente após ouvir um disparo no interior do imóvel. Antes de ser dominado, segundo a polícia, Lindemberg teve tempo de atirar contra as reféns, matando Eloá e ferindo Nayara no rosto.

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