Renan não vai impedir manobra para criar tribunais

31 / 05 / 13

Senador estará em Portugal e admitiu não ter poderes para barrar manobra do deputado André Vargas, vice-presidente do Congresso, para promulgar emenda

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse nesta sexta-feira (31) que não vai impedir a promulgação da emenda constitucional que cria quatro tribunais regionais federais.

Como o senador estará fora do país em viagem oficial da Portugal, a partir de quarta-feira, Renan admitiu não ter poderes para barrar manobra articulada pelo deputado André Vargas (PT-PR), vice-presidente do Congresso, para promulgar a emenda.

“Eu não promulguei a proposta que cria os tribunais exatamente porque há uma redação que a Câmara aprovou diferente da redação que o Senado havia aprovado. Mas é evidente que eu não posso deixar de fazer uma viagem oficial, nem posso limitar o papel constitucional do primeiro vice-presidente. Se ele desejar promulgar, eu não tenho o que fazer”, afirmou.

A Folha revelou hoje que Vargas aproveitará a interinidade no cargo para promulgar a emenda, aprovada em abril pelo Congresso. A expectativa de congressistas é que a promulgação ocorra na próxima quinta-feira (6).

A proposta cria tribunais com sedes no Paraná, em Minas Gerais, na Bahia e no Amazonas. Hoje, há cinco tribunais regionais federais –em Brasília, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Pernambuco e no Rio Grande do Sul.

Num agrado ao presidente do STF, Joaquim Barbosa, principal crítico da proposta, Renan afirmou em abril que não iria promulgar a emenda por causa de “problemas técnicos”, que poderiam provocar sua anulação na Justiça. Segundo Renan, há uma pequena divergência entre o texto aprovado pela Câmara e o que passou no Senado.

Barbosa argumenta que os novos tribunais poderão aumentar os gastos do Poder Judiciário em até R$ 8 bilhões por ano, sem acabar com o excesso de processos que congestiona a Justiça Federal.

Numa reunião com associações de juízes que defendem os novos tribunais, o presidente do STF chegou a acusá-las de agir de forma “sorrateira” ao trabalhar a favor da proposta no Congresso.

Vargas diz que não fará nada sozinho, sem o aval de Renan. “Eu só farei se houver um entendimento”, disse à Folha.

Os dois conversaram sobre a manobra nos últimos dias. Para não dar a impressão de que houve um recuo, Renan afirmou que não pode deixar de participar de um “compromisso oficial” do Senado para impedir a promulgação.

A promulgação da emenda depende do aval dos integrantes das mesas diretoras da Câmara e do Senado. Com Renan fora do país, Vargas assumirá interinamente o comando do Congresso por ser o vice-presidente da Câmara.

Segundo as normas do Congresso, a promulgação tem que ocorrer em sessão conjunta da Câmara e do Senado, mas o protocolo pode ser quebrado se houver entendimento das duas Casas.

Pressionado por associações de magistrados e políticos dos Estados que irão sediar os novos tribunais se forem criados, Renan tem alertado que, se a emenda for promulgada, deverá ser contestada imediatamente no STF, onde poderá ser derrubada.

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