Consultório na Rua leva arte para crianças carentes

19 / 01 / 15

Ideia de oficineiros é a de montar um ponto cultural no bairro do Vergel do Lago

É debaixo de uma amendoeira, que um grupo composto por sete meninos das favelas da orla da Lagoa Mundaú – Torre, Muvuca, Bicho do Pé, Mundaú e Fazendinha – ensaia a batida dos tambores. O músico Dalmo Almeida, oficineiro do Consultório na Rua iniciou esse trabalho há quatro meses. Ele é o que se pode chamar de “descobridor de talentos”. Uma ou duas vezes na semana, a turma se apronta para batucar, sob o olhar atento do mestre e os olhares orgulhosos de mães catadoras de sururu, parentes, amigos e vizinhos.

Na mesma área, por trás dos barracos e do campinho de futebol improvisado no bairro do Vergel do Lago, a produtora, atriz e também oficineira do Consultório na Rua, Dinah Ferreira, realiza uma trabalho paralelo com meninas da localidade, iniciado no mesmo horário da turma do músico Dalmo. E foram as próprias meninas que decidiram batizar o grupo de “Borboletas da Mundaú”.

A ideia dos oficineiros – que há longos anos fazem visitas vespertinas àquela comunidade – é a de montar um ponto cultural, erguendo um barraco na localidade, onde essa garotada possa aprender a fazer seus próprios instrumentos musicais e as meninas, a confeccionar suas fantasias. O projeto é extensivo às mães que aprenderão a confeccionar produtos com material reciclável para depois comercializá-los, transformando o mesmo espaço numa oficina de geração de renda.

Dalmo é músico, mas também sabe construir instrumentos musicais. Ele mantém sua oficina em casa e quer transferir o que sabe para os meninos no futuro ponto de cultura: “Queremos erguer um barracão onde possamos fazer tudo isso”, diz Dalmo, ponderando que hoje, a única fonte de renda da maioria dessas famílias das favelas da orla lagunar, se concentra na catação e venda do sururu.

Dalmo Almeida sabe bem da luta para realizar um sonho; o de conseguir dar oportunidade às crianças e a seus familiares. Dalmo morou por oito anos na favela Mundaú quando veio de Salvador para Maceió e diz que tem certeza de que o sonho da garotada pode tornar-se realidade, como aconteceu com ele: “Tudo que tenho hoje consegui através da música; andei de avião por conta da música; estive em lugares que nunca pensei conhecer na vida, tenho um teto, uma ocupação; e mantenho outro sonho, o de ver essa garotada realizar seus sonhos, como aconteceu comigo”.

Brian, um garoto de 15 anos, chamou a atenção de Dalmo durante as visitas do consultório. O garoto tocava e improvisava a confecção de seus próprios instrumentos musicais, com latas, e resto de entulhos que encontrava no lixo e nas ruas. Foi esse menino quem inspirou o oficineiro e o fez dar início ao trabalho do “Batuque da Mundaú”. “Brian é um grande talento. Quero aproveitá-lo para ser meu monitor quando tivermos o ponto de cultura”, frisa o músico.

Quando o ensaio começa, os braços franzinos dos meninos da Mundaú ganham força e dão ritmo ao batuque. Enquanto tocam, eles esboçam um ar de felicidade, esquecendo por alguns instantes, da vida difícil à margem da lagoa.

“Quero levar essas meninas para conhecer arte. Procuro locais onde há exposições para levá-las, para que possam entrar em contato com toda expressão de arte”, destaca Dinah Ferreira. A atriz e oficineira encontrou no eclético grupo das “Borboletas da Mundaú” meninas com gosto pela dança e pela arte da interpretação. “No Natal ensaiamos um número e nos apresentamos numa praça do bairro. Queremos fazer muito mais, ensaiar número de danças e pequenas peças teatrais de cunho educativo para serem apresentadas em datas pontuais e eventos culturais de Maceió”, planeja Dinah.

Colaboração

Para conseguir realizar esse sonho, Dalmo e Dinah já realizaram bazar de roupas usadas. Com o dinheiro arrecadado foi possível comprar as roupas das “Borboletas”, maquiagem, sapatilha, e um parte do material para confecção de instrumentos musicais. A intenção de organizar novos bazares para dar continuidade ao projeto, até que o ponto de cultura transforme-se numa realidade, e o programa de geração de renda possa manter o trabalho recém iniciado por esses abnegados profissionais do Consultório na Rua.

Pessoas – físicas e jurídicas – que quiserem ajudar ao projeto podem fazer doações de instrumentos musicais (ainda que não estejam servindo mais), madeirite flexível, fantasias, maquiagens, miçangas e apetrechos artísticos na sede do Consultório na Rua no PAM Salgadinho, de segunda à sexta-feira, em horário comercial.

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