Folha visita oito praias de nudismo do Brasil; leia relatos

22 / 01 / 15

Prefeitura do Rio oficializou nudismo em Abricó; outras sete praias brasileiras são oficiais

A partir deste ponto, a nudez é obrigatória. Não do texto, mas do corpo em oito recantos do litoral brasileiro.

Caminhar e lagartear no sol bronzeando os recônditos do físico é regra nas praias de naturismo do país –que ganharam recentemente mais um reconhecimento legal.

Praia de Barra Seca, no município de Linhares, no norte do Espírito Santo; é a primeira e única praia de nudismo do Espírito Santo.

Em novembro, a Prefeitura do Rio sancionou lei oficializando o nudismo em Abricó; outras sete praias brasileiras (na Paraíba, na Bahia, no Espírito Santo, no Rio e em Santa Catarina) são oficiais ou por força de decreto ou de lei municipal. Em qualquer outro ponto da costa em que o banhista tire a roupa, ele pode ser detido por ato obsceno.

“Já percebemos um aumento na frequência da praia com pessoas que, agora, com a lei, devem estar se sentindo mais seguras”, afirma Pedro Ribeiro, presidente da associação naturista de Abricó.

Zelar pela ética do naturismo –como não deixar ninguém fotografar ou observar banhistas ostensivamente– é um desafio não só de Ribeiro. Segundo Renata Freire, que assume a presidência da Federação Brasileira de Naturismo no fim deste mês, a atividade ainda precisa ser reconhecida como algo sério.

“Há desconhecimento por parte de gente que acha que pode assumir comportamentos inadequados porque o lugar é naturista, ainda que eles sejam impróprios em qualquer lugar”, diz Renata.

Segundo César Xisto, presidente da Associação Baiana de Naturismo, um homem se excitar é normal. “O que não pode é ficar se insinuando.”

O “problema” da nudez para o brasileiro, diz a antropóloga e colunista da Folha Mirian Goldenberg, é que ele não a vê como uma coisa natural como em outros países.

“Na Europa, o corpo não é o principal capital das pessoas”, diz. “Mesmo nua, a europeia não está se exibindo. Já a brasileira coloca biquíni, mas faz questão de mostrar a marquinha. Fica de fio dental, mas não tira a calcinha.”

Para ajudar a despir preconceitos e entender como funciona o naturismo no Brasil, repórteres da Folha tiraram a sunga para contar como são as praias em que o nudismo é oficial no país.

São Paulo, o Estado mais populoso do país, ainda não tem uma porção oficial de litoral em que se possa circular nu. E deve continuar assim por mais um tempo.

A luta para oficializar a prática na praia Brava, em São Sebastião, litoral norte, já foi abandonada pela Federação Brasileira de Naturismo.

“Não queremos praias para criar caso, e lá houve um mal-estar, principalmente com os surfistas. Então, não estamos mais correndo atrás dela”, afiram Renata Freire, futura presidente do órgão.

Procurada, a Secretaria de Turismo de São Sebastião disse que aguarda eventuais trâmites oficiais para ouvir a comunidade, mas ressaltou que a prefeitura não vê a Brava como ponto de naturismo –e não estimula a prática.

Segundo Renata, alguns grupos de naturistas de São Paulo miram, no momento, a praia da Desertinha, em Peruíbe (SP). Quem vai lá no fim de semana pode até encontrar alguém pelado. “Mas por lá, até onde sabemos, nenhum frequentador está em desacordo com o naturismo.”

Procurada, a prefeitura de Peruíbe disse que desconhece a prática de nudismo no local.

Não é preciso, porém, ir à praia para ficar pelado em público: a federação tem, entre seus filiados, campings, pousadas e clubes em 12 Estados.

Confira relatos das oito praias:

Praia de Barra Seca (ES)
Praia do Abricó (RJ)
Olho de Boi (RJ)
Massarandupió (BA)
Tambaba (PB)
Praia da Galheta (SC)
Praia do Pinho (SC)
Pedras Altas (SC)

Clima família domina as areias de Barra Seca, em Linhares (ES)

ROBERTO DE OLIVEIRA
ENVIADO ESPECIAL AO ESPÍRITO SANTO

Como são danadinhos esses naturistas! Escolheram uma praia longe da muvuca, entre o balanço do mar e a correnteza de um rio margeado por coqueirais, com sol o ano inteiro, acompanhado de uma brisa constante e infraestrutura pé na areia.

Requisito óbvio para desfrutar desse pedacinho de paraíso: tem que tirar a roupa.

Com esse calor dos infernos, a praia não vive abarrotada de banhistas. Barra Seca é naturista, sim, mas lá impera uma clima bem família. É como se seus avôs, titios e sobrinhos estivessem bem ali –todos sem roupa, é claro.

Barra Seca, no Espírito Santo

Com cerca de 5.000 habitantes, Barra Seca é a única praia naturista do Espírito Santo. Da capital, Vitória, são 120 km pela BR-101 até Linhares, no norte do Estado, mais 50 km de asfalto numa planície repleta de fazendas de gado e outros 8 km de terra.

Só então o visitante se depara com uma placa indicando a praia naturista. Um nativo conhecido como Quinze, que não se despe em público, faz num barco a travessia de 200 m do rio até o outro lado (R$ 5 o trecho), onde se abre uma trilha de 150 m pela areia até a entrada. A partir de lá, nem sunga, nem biquíni.

Os naturistas têm aos seus pés cerca de 10 km de praia totalmente deserta, mas a área nudista está bem sinalizada com bandeirinhas coloridas num raio de 200 m. Para tomar banho, o rio atrai mais do que o mar, selvagem.

Do lado direito de quem chega, fica o espaço para casais/famílias. À esquerda, o dos desacompanhados, que podem ser convidados a se juntar ao grupo maior após uma visita de “inspeção” do professor de contabilidade Márcio Braga, 65, presidente da entidade naturista.

Criada em 1994, a praia conta com uma churrasqueira, quatro banheiros, seis chuveiros e área para camping com energia elétrica.

Se precisar de algo para beber ou comer, é só chamar o Quinze. Da areia, os naturistas mantêm contato com o nativo, que fica num bar, do outro lado do rio, por meio de aparelhos de “walk-talk”.

Só não têm vez –nem são bem-vindos– os adeptos do chamado naturismo picante. “Aquilo não é naturismo. É putaria mesmo”, diz Braga.

PERFIL família
Acesso fácil? sim
Nudismo é obrigatório? sim
Homem pode ir sozinho? sim
Tem infraestrutura? sim

NATURISMO SE TORNOU MAIS QUE NATURAL
por Roberto de Oliveira

“Uma coisa é tirar a sunga numa praia deserta, outra é ficar nu em público. Há mais de 20 anos, estávamos num grupo. No meio da trilha de acesso à praia, cada um começou a tirar a roupa. Ao chegar à área nudista, todo mundo estava pelado. A partir daí, o naturismo tornou-se mais que natural.”

Em Abricó, no Rio, há ‘stand up pelado’ entre as opções de lazer

CHICO FELITTI

ENVIADO ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO

É difícil se sentir vestido de menos no Rio de Janeiro. Mas mesmo cariocas acostumados a tomar o elevador de sunga podem se sentir desafiados por Abricó, a mais recente praia oficial de nudismo.

Similar às vizinhas Prainha e Reserva, na zona oeste, Abricó tem águas verdes e areia fina com menos gente do que Ipanema ou Leme. Pudera: chegar lá a partir da zona sul é uma viagem de uma hora ou mais, dependendo do trânsito. Um táxi saindo do Copacabana Palace custa R$ 120 nos fins de semana.

O gasto para por aí. Chegando a Abricó, pode-se comer os sanduíches naturais de Érica Oliveira (R$ 7) e pagar R$ 5 por uma cerveja.

Com o calor no Rio chegando fácil a 40°C, estar preparado é tudo. E a economia com roupa de banho vai embora em um dia de protetor solar fator 100 –para as partes que nunca viram o sol.

Mas se veem poucas marcas de biquíni ou de sunga: bronzeado homogêneo é a regra –as visitas são frequentes. “Venho todo fim de semana. Não me acostumo mais às praias da zona sul, lotadas e com roupa demais”, diz a vendedora Carmen Mota, 37, que levou o filho, Gabriel, 11, para um sábado no Abricó. “Aqui parece uma comunidade.”

Opções de lazer não faltam. Casais jogam frescobol sem ter movimentos limitados. Pode-se também alugar uma prancha de stand-up paddle, cujo nome foi adaptado e é chamado de “stand up pelado”.

Nos finais de semana, quando o nudismo é obrigatório (de segunda a quinta, é opcional), um segurança sósia de Alexandre Frota faz a ronda para se certificar de que ninguém empunhe o celular –até porque ali não há sinal. Ao ver o repórter tirando fotos da praia, pediu que a Folha voltasse ao lado das pedras que levam à “praia de vestidos”, onde curiosos tentam espiar a praia dos pelados.

PERFIL família
Acesso fácil? sim
Nudismo é obrigatório? sim, mas com restrições
Homem pode ir sozinho? não
Tem infraestrutura? sim, mas com restrições.

Olho de Boi, em Búzios (RJ), surpreende com a vista

CHICO FELITTI
ENVIADO AO RIO DE JANEIRO

Tudo azul, todo mundo nu. E meio exausto: para chegar à praia Olho de Boi, em Búzios (RJ), é preciso suar a camisa (ou o torso onde haveria uma camiseta, caso não se tratasse de reduto naturista). Mas o esforço se justifica assim que a água transparente aparece.

A trilha que leva da praia Brava até lá é insidiosa. Meia hora de cansaço depois, você vai perder o que restou de fôlego com a vista: águas de um azul mediterrâneo banham a praia, que mistura areia com pedra.

Ao contrário de Abricó, também no Rio, a nudez é mais um pedido, feito numa placa, do que uma ordem. Uma vez naturalizado, as opções são andar pela faixa de areia, o que leva menos de 15 minutos, ou amainar o calor com a água gelada e calma.

O mergulho perto das pedras permite ver a vida submarina, que abunda no local. Peixes, arraias, cavalos-marinhos e outras criaturas dão as caras sem timidez.

De companhia humana, só uma barraca. A caipirinha de cachaça é doce, ainda que um tanto salgada –R$ 30 por quase meio litro. Os preços de cadeira e de guarda-sol variam de R$ 20 a R$ 40, a depender do sotaque do freguês.

“Não me senti confortável”, diz a sueca Susanna Emelie, 25, que visitava pela primeira vez o Brasil. “Os preços são altos e as pessoas, ou melhor, os homens olham demais.”

Numa manhã de domingo, eram poucas as pessoas na praia, oficializada em 1994. Além de um grupo de paulistas e de duas suecas, havia alguns homens encostados no paredão de pedra, que pareciam interagir com sua nudez.

Caso o pudor bata, não pense que o mar vai esconder algo: a água é transparente a ponto de ver se a pedicure dos colegas está em dia.

PERFIL agito
Acesso fácil? não
Nudismo é obrigatório? não
Homem pode ir sozinho? sim
Tem infraestrutura? sim, mas com restrições

CLIMA MEIO PESADELO AINDA ME ASSOLA
Por Chico Felitti

“Ao chegarmos (seis primos, de 12 a 15 anos) a uma praia de nudismo (não oficial) na BA, esperávamos ser recompensados com a recíproca do sexo oposto –que não acontecia. O mesmo clima, meio transgressor, meio pesadelo, ainda me assola. Mas cinco minutos em Abricó e o constrangimento se foi. Parecia até que eu tinha nascido nu.”

“Aqui não é zoológico”, diz entidade de Massarandupió, em Entre Rios (BA)

JOÃO PEDRO PITOMBO
DA BAHIA

Depois de cruzar 80 km de rodovias a partir de Salvador, mais 5 km numa estrada de terra até a beira da praia, o visitante de Massarandupió, pequena vila do litoral norte da Bahia, tem dois caminhos.

Do lado esquerdo, há 8 km da faixa de areia de praia tradicional –a “área têxtil”, numa referência jocosa ao tecido dos biquínis e sungas.

Caminhando para o lado oposto, uma faixa de 2 km é território livre para quem quer tomar sol ou nadar no mar sem nada de roupa.

Criada em 1999, a praia de nudismo de Massarandupió é uma das mais tradicionais do país. O mar calmo, com recifes que formam piscinas, é o destaque, que ainda inclui dunas. Com sorte, é possível ver a retirada de filhotes de tartarugas-marinhas da areia por agentes do Projeto Tamar.

Duas barracas atendem aos banhistas, com um cardápio que inclui de moqueca de peixe a carne de sol –os preços variam de R$ 30 a R$ 80.

Entre comer e nadar, Fausto Rocha, 59, frequentador do local, diverte-se. “É uma delícia cair no mar e depois ir para o rio. Ainda tem uns peixinhos dando uma beliscada.”

Beliscam qualquer parte porque maiôs não são bem-vindos: “Aqui não é zoológico para virem só olhar”, diz César Xisto, presidente da Associação Baiana de Naturismo.

Dois seguranças e um “diretor de praia” ajudam no controle nos fins de semana, quando chegam a receber 400 pessoas. A preferência é que a área seja visitada por casais –por precaução, foram espalhadas placas com a mensagem “Sexo aqui, não”. Além da praia, a vila tem três pousadas naturistas e a Ecovila –área voltada para a prática.

O jornalista se identificou à Associação Baiana de Naturismo e não tirou a roupa para fazer a reportagem

PERFIL família
Acesso fácil? não
Nudismo é obrigatório? sim
Homem pode ir sozinho? sim
Tem infraestrutura? sim.

Em Tambaba, no município de Conde (PB), homem, só com mulher

ROBERTO DE OLIVEIRA
NA PARAÍBA

Sorriso amarelo estampado no rosto, prontos para disparar máquinas, celulares e “pau de selfie”, turistas deixam ansiosos o estacionamento e aceleram rumo à praia. Espiam, fazem piadinhas –tem gente até que enrubesce–, mas a maioria se intimida na hora de cruzar a fronteira que separa os pelados dos com trajes de banho.

Pena que um gesto corriqueiro, o de se despir, impeça o visitante de conhecer o que a praia de Tambaba tem de mais impressionante: a combinação de mata preservada, falésias multicoloridas e rochas no meio daquele mar de águas mornas e cor esmeralda que originam piscinas naturais por todo o canto.

No trecho mais paradisíaco do litoral sul da Paraíba, no município do Conde (a cerca de 30 km de João Pessoa), Tambaba foi a primeira praia oficial de nudismo do Nordeste, criada em 1991.

Para chegar até lá, o banhista deve acessar a PB-008, rodovia estadual que presenteia o visitante com uma sucessão de cartões-postais ao margear a costa sul.

A vestimenta só é liberada num pequeno trecho do lado esquerdo da praia, que, na maré baixa, também forma piscinas naturais.

Bem delimitada é a zona que divide as duas áreas. Uma recepcionista orienta sobre o funcionamento da praia naturista. Basta subir uma passarela, guardar a sua roupa e cair do outro lado como veio ao mundo.

A praia de nudismo mantém uma faixa de areia com cerca de 600 m cercada por vegetação de restinga, coqueiros e por uma respeitável área de mata atlântica. Nela, trilhas levam a apreciar a vista do alto de falésias.

Tambaba atrai naturistas crianças, jovens e da velha guarda de todo o país e também gente do exterior.

Nas areias que baniram os trajes funcionam um bar/restaurante e uma pousada. Por imposições sanitárias, funcionários são obrigados a permanecer vestidos.

Em setembro, sedia o Open de Surf Naturista, do qual só participam, é claro, peladões. Já em outubro, realiza o Tambaba Fest, com música ao vivo e o maior banho coletivo naturista de todo o Brasil.

Em Tambaba, não é permitida a entrada de homens desacompanhados de mulheres, assim como não se pode filmar ou fotografar sem autorização prévia. Cada casal, porém, pode levar um convidado.

PERFIL misto
Acesso é fácil? sim
Nudismo é obrigatório? sim
Homem pode ir sozinho? não
Tem infraestrutura? sim.

Na praia da Galheta, em Florianópolis (SC), nudez não é obrigatória

GUSTAVO SIMON
ENVIADO A SANTA CATARINA

Na primeira caminhada na praia da Galheta, em Florianópolis, por volta das 11h de um sábado, a reportagem contou mais siris se embrenhando na areia do que gente pelada sob guarda-sóis.

É que a nudez, apesar de ser permitida por lei desde 1997, não é obrigatória por ali –em agosto do ano passado, um vereador tentou, em vão, vetar a prática.

Por não ter “fiscais da nudez”, a Galheta acaba se tornando alternativa de famílias e casais à vizinha praia Mole, mais cheia e barulhenta.

É dela que parte a trilha, leve, percorrida em cerca de dez minutos, que leva à praia nudista da capital catarinense (um outro caminho, a partir da Barra da Lagoa, é restrito aos mais aventureiros).

Rodeada por um morro com mata nativa preservada, a Galheta tem cerca de 1 quilômetro –e faixa de areia bem larga, o que permite até certa privacidade ao naturista de primeira viagem.

Mas as pessoas acabam se concentrando nas áreas próximas às três barracas do local. Simples, elas têm cardápio limitado a lanches como açaí e sanduíche natural (R$ 8 cada um) e bebidas –cerveja (R$ 5) e água (R$ 3).

Para aplacar o calor, há também uma bica (que traz água fresca do morro) e pedras (grandes o bastante para dar sombra). Mas, em se tratando de praia, bom mesmo é aproveitar o mar.

Apesar de ter ondas fortes –os surfistas são habitués–, a água preserva um quê de cristalina, principalmente no canto esquerdo. Por ali, as ondas quebram com menos força e pode-se tomar banhos mais tranquilos.

Como também abriga duas das três barracas, essa região concentra o maior movimento na Galheta: quando a reportagem esteve lá, havia casais, duas famílias e um número maior de solteiros.

Ao longo do dia, com mais frequentadores chegando e se livrando de biquínis e sungas, a nudez se tornou, enfim, algo corrente.

Mas no mesmo canto esquerdo, nas pedras, o clima não é de tanta naturalidade: homens circulam sozinhos com atitude suspeita, apesar de não importunar quem está de passagem; ao escalar uma rocha para fotografar a orla, a reportagem foi surpreendida por dois casais em atos íntimos.

PERFIL misto
Acesso é fácil? sim
Nudismo é obrigatório? não
Homem pode ir sozinho? sim
Praia tem infraestrutura? sim.

Pioneira, praia do Pinho, em Balneário Camboriú (SC), tem boa infraestrutura

GUSTAVO SIMON
ENVIADO A SANTA CATARINA

A história do naturismo no país passa pela praia do Pinho, em Balneário Camboriú, a 85 km de Florianópolis: foi ali que a primeira associação do tipo foi fundada, em 1986.

Talvez por isso a praia tenha uma estrutura profissional: estacionamento, restaurante, banheiros, salva-vidas e até uma pousada (diárias a R$ 270 para o casal, sem refeições; a nudez é liberada); só falta uma boa ducha.

O melhor jeito de chegar é de carro, a partir da rodovia Interpraias –cobra-se uma taxa de R$ 20 pelo acesso.

Praia do Pinho, em Santa Catarina

Mas, nessas áreas comuns, ainda que muitos circulem ao natural, ficar nu é opcional; tirar a roupa para valer só é obrigatório mesmo na areia.

Daí é possível se ver submetido aos olhares curiosos de gente que vem ao lugar não exatamente para tomar banhos de sol ou mergulhar no mar de águas agitadas.

Segundo um integrante da administração da praia, funcionários do restaurante e um grupo de apoio zelam para que nenhum ato que escape à ética naturista aconteça.

A reportagem de fato viu um grupo de três rapazes ser convidado a sair da faixa de areia depois de não se despir.

Mas também flagrou, no final da tarde, em diferentes grupos nas pedras, homens empunhando celulares para fotografar a orla –e, provavelmente, seus frequentadores.

A praia é uma das poucas que ainda separa uma faixa da areia para casais –medida vista com restrições por parte da comunidade. Solteiros só podem circular no lado esquerdo ou em uma prainha contígua à principal.

Acessado por uma trilha (gratuita) que também parte da Interpraias, esse trecho tem nudez opcional –e certo clima incômodo de algazarra.

Mas o clima na praia principal é amistoso. Banhistas parecem ir com frequência –foi corriqueiro ver grupos se cumprimentando.

PERFIL misto
Acesso é fácil? sim
Nudismo é obrigatório? sim
Homem pode ir sozinho? sim
Praia tem infraestrutura? sim

TORCI PARA NÃO ENCONTRAR CONHECIDOS
Por Gustavo Simon

“Da primeira vez que fui a uma praia de nudismo, também a trabalho, dei a sorte de ser um banhista solitário –e vivi apenas a boa liberdade de nadar pelado. Agora, em praias lotadas, vi que só há motivo para nervosismo –se é que há– na hora de baixar a sunga. Depois, em meio a estranhos, todos pelados, é fácil relevar a nudez. Mas, no fundo, confesso: torci para não dar de cara com conhecidos.”

Pedras Altas, em Palhoça (SC), tem mar com cara de piscina natural

GUSTAVO SIMON
ENVIADO A SANTA CATARINA

Melhor ir de carro para conhecer a pequena Pedras Altas, em Palhoça (SC). Da capital, Florianópolis, são cerca de 30 km até a Enseada do Brito, na saída 228 da BR-101.

Desse centrinho, são mais 6 km de estrada (metade deles de terra, com buracos) até a placa que avisa: pessoas nuas podem circular por ali.

É possível parar o carro na estrada, antes do portão que leva a um camping e a um barzinho simples, mas a maioria paga os R$ 20 do acesso ao estacionamento.

Descendo, encontra-se o bar, com mesas e cadeiras de plástico à disposição, e uma pequena enseada, com menos de 100 m de extensão.

Mal dá tempo de querer caminhar pela estreita faixa de areia, cheia de conchas.

Com o verão oferecendo um sol a cada banhista, o mar é tão convidativo quanto azulzinho e límpido. E faz jus ao rótulo de piscina natural: as ondas são praticamente inexistentes, já que Pedras Altas está numa baía protegida.

Pedras separam essa orla diminuta de outra um pouco maior. E uma placa indica que o segundo trecho é só para casais ou naturistas de carteirinha –se em vigor, a separação não funcionou na prática no dia de pouco movimento em que a Folha esteve lá.

Com faixa de areia mais generosa, diversas árvores a fazer as vezes de guarda-sol e mar igualmente calmo, com fundo de rochas, essa porção de Pedras Altas abriga o camping, frequentado sobretudo por casais acima dos 40 anos.

Ainda que reservado, o público dá ao lugar um clima ameno, que nem faz lembrar que se está pelado.

Na hora de ir embora, ter vindo de carro não é problema: a sunga, sequinha, não molha o banco.

PERFIL família
Acesso é fácil? sim, mas com restrições
Nudismo é obrigatório? sim
Homem pode ir sozinho? sim
Praia tem infraestrutura? sim.

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