PMDB não quer mais cargos, diz Eliseu Padilha

23 / 03 / 15

Em entrevista exclusiva ao Terra, novo articulador político do governo defende Dilma, garante que partido não postula mais espaço e descarta maioria dos boatos sobre reforma ministerial

Conhecido por sua capacidade de articulação e lembrado por sua lealdade para com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, desde a semana passada faz parte do núcleo político da presidente Dilma Rousseff (PT). Avesso a grandes exposições na mídia, ele prefere atuar nos bastidores, mantém bom trânsito com lideranças de todas as legendas e conhece seu partido, o PMDB, como poucos. Parlamentares com mais tempo de Casa lembram que, como deputado ou ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Padilha conseguiu projetar com precisão o posicionamento de congressistas em votações importantes.

Na bolsa de apostas de Brasília, desde a última semana, Padilha passou a ser indicado como um dos prováveis substitutos de Pepe Vargas (PT) na Secretaria de Relações Institucionais, caso ocorra a reforma ministerial, ainda rechaçada por Dilma. Em entrevista exclusiva ao Terra , o ministro afirma, porém, que o PMDB não briga por mais espaço agora, elogia Pepe e considera sem procedência a maior parte das notícias sobre mudanças nos cargos de liderança do governo. É enfático ao defender Dilma. Mas, ao tecer suas considerações sobre as manifestações das ruas e a relação com o Congresso, deixa claras as posições do PMDB dentro do governo petista.

Terra – O senhor acredita que a crise política já teve seu ápice ou ele ainda pode estar por vir?
Eliseu Padilha – Penso que o pior já passou porque, quando se pensa em crise política, há dois fatores a serem considerados: o Congresso Nacional e o povo na rua. Houve um tempo, que já ficou no passado, em que se tinha dúvidas sobre se o Parlamento, e mais especificamente se a Câmara dos Deputados, faria oposição ao governo. Houve quem antevesse que o presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha, pudesse se constituir em um player de oposição. Quem assim pensou enganou-se. Ele optou por representar a autonomia e independência do poder Legislativo. Hoje não resta dúvida de que está defendendo a autonomia da instituição, sem esquecer que é filiado ao PMDB, partido que faz parte do governo. Ele não é oposição ao governo, como alguns supunham que ele pudesse vir a ser em função do episódio da eleição, que todos já conhecem. Quanto às manifestações de rua: o Ulysses Guimarães dizia que todo o político teme e deve respeitar as ruas. Tivemos recentemente uma grande manifestação que, por óbvio, expressa uma inconformidade. Foi uma representação muito significativa, de toda a sociedade. Foi democrática e importante, no sentido de sinalizar politicamente para todos os poderes e todas as instâncias da federação (municipal, estadual e nacional) que há na sociedade uma insatisfação com a prestação dos serviços públicos. É uma população que hoje quer decência em primeiro lugar e, em segundo lugar, eficiência.

Terra – Não foi uma manifestação contra o governo?
Padilha – Não. Foi uma manifestação ordeira, legítima e apolítica. Não há uma coordenação política, nenhum partido pode dizer que foi importante para a manifestação. Não, foi a cidadania brasileira, que cresceu e cresce muito pela difusão das mídias sociais. Algumas pessoas não se deram conta ainda de que estamos convivendo com uma absoluta democratização do conhecimento e, por consequência, de todas as ações políticas. Isso se faz 24 horas por dia nas mídias online. As pessoas falam preponderantemente sobre política, sobre a vida em sociedade, o poder público, e apontam eficiências ou ineficiências. Há uma inconformidade política nas manifestações que, a meu juízo, não é pessoal contra ninguém. Houve menção, no nível intermediário, à presidenta. Primeiro à corrupção, depois aos políticos, e depois à presidenta. Por que a presidência da República? Porque, se você quer fazer uma manifestação contra o poder político, a expressão máxima é a presidência da República. Muitos pensam que a presidência tem o poder para resolver tudo. Pessoalmente, ninguém imputou absolutamente nada à presidenta, até porque não tinha como imputar a ela qualquer fato que pudesse motivar tal manifestação.

Terra – Mas são frequentes os xingamentos contra a presidente…
Padilha – Quem faz interpretação política, e eu por força das circunstâncias faço, observa que as referências não são ao exercício funcional da presidência. O que se manifesta é uma inconformidade com o poder, o exercício do poder político em geral. Quando fala em presidente, está falando também em prefeito, governador, nos agentes políticos, especialmente os do poder Executivo, que, na República, são os que têm a ‘caneta na mão’.

Terra – Voltando para a relação com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O fato de ele anunciar a saída do ex-ministro Cid Gomes não foi mais uma demonstração de poder do que de autonomia em relação ao Executivo?
Padilha – Por que Eduardo Cunha comunicou a saída do ministro? Porque foi o primeiro a receber a informação do Palácio (do Planalto), para acalmar os ânimos do plenário, e imediatamente a tornou pública. Ele não criou a informação, ele a transmitiu. Foi uma distinção feita a ele, Eduardo, que estava ali, no plenário da Câmara, onde o teatro do conflito político se organizara. Também estava nessa comunicação o interesse do governo, do ministro que com ele falou, de acalmar o plenário, e isso foi feito com a maior rapidez possível. No Palácio, sempre há uma burocracia institucional para que a comunicação se torne pública.

Terra – Isto não tensionou ainda mais as relações entre o governo e a Câmara dos Deputados?
Padilha – Pelo contrário. Gerou um apaziguamento. A informação foi dada ao Eduardo Cunha para que pudesse tranquilizar a Casa. Tanto foi assim que ele deu a notícia e, em menos de cinco minutos, entrou na ordem do dia e deixou no passado o episódio do ministro.

Terra – Este mesmo papel pode ser desempenhado pelo PMDB para acalmar as manifestações de rua?
Padilha – O PMDB vai fazer 50 anos em 2016 e é o maior partido do Brasil. Tem o maior número de vereadores, prefeitos, deputados estaduais, governadores. Dentro do Congresso, conta com quadros tradicionais. Muitos partidos saíram do ventre do MDB/PMDB. Aí estão PT, PSDB e PSB. O PMDB detém a presidência da Câmara, do Senado, do Congresso, as maiores bancadas. E, me perdoe pela imodéstia, seus quadros estão seguramente entre os melhores operadores políticos do Congresso, os que relatam os projetos mais importantes e, por isso, fazem com que ocorram ou não as aprovações, e sejam levadas à execução por parte do Executivo. O PMDB tem proporcionalmente o maior número destes quadros e por isso condições de conduzir o processo. Quando me perguntam se fará oposição, respondo: o PMDB tem o vice-presidente da República, Michel Temer, uma liderança consolidada há décadas dentro do partido. Presidente do partido. Nós, peemedebistas somos todos parte do governo. O PMDB pode ter inconformidades pessoais, locais ou regionais. Mas, sem esquecer o compromisso de, no governo federal, ser base.

Terra – O governo não deveria procurar uma aproximação com a classe média?
Padilha – Quero fazer aqui uma distinção. A presidenta Dilma, que é a voz oficial do governo, nunca fez distinção de classe. Nunca ouvi da presidenta, e nem nunca li em algum lugar, que ela tenha feito referências a classes. Ao contrário: ela sempre diz que governa republicanamente para todos. Se porventura alguém falou, foi em nome pessoal, respeitamos. Na democracia, o que mais temos que respeitar é o direito de as pessoas dizerem tudo o que pensam. E temos o direito de discordar. Nunca ouvi da presidenta qualquer manifestação neste sentido, e quem fala pelo governo é ela.

Terra – O governo vai fazer um movimento em direção a essa grande parcela da população que é a classe média?
Padilha – Não podemos brigar com os fatos. Tivemos a facilitação tributária da linha branca em 2014, e a facilitação dos automóveis populares. Para resumir, o governo renunciou a muita receita nos últimos anos exatamente em favor da sociedade. O governo fez com que milhões de brasileiros ascendessem à classe média. O diálogo do governo com a sociedade é feito por meio de gestos. E os gestos do Executivo em relação à sociedade estão nas conquistas que foram consolidadas. Eu sou ministro de uma área, a Aviação Civil, que é preponderantemente concentrada na classe média. Bem, no ano passado, tivemos 112 milhões de passagens vendidas. O número de passageiros que viajou de avião nos últimos dez anos mais do que duplicou. É óbvio que tem aí uma ação do governo em favor da classe média. A passagem aérea nos últimos dez anos ficou 48% mais barata. Terá forma mais objetiva de demonstrar uma ação em direção à classe média (de redução acentuada de preços)? Você pode responder que o transporte aéreo é feito por companhias particulares. Ok. Mas quem determinou a liberdade do mercado, quem fiscaliza, quem vê como as companhias estão agindo, é o governo federal. Ele é que controla o sistema. A tarifa tem liberdade de mercado, mas é uma liberdade regulada pelo governo, e essa regulação é que proporcionou a queda dos preços.

Terra – O senhor acredita que o governo vai ter dificuldades na aprovação do ajuste fiscal? Elas virão principalmente de quais setores?
Padilha – Foi constatado que, em função da receita prevista, a despesa e os investimentos do governo terão que ser contidos. E terão que ser cortadas algumas vantagens fiscais ou criadas novas receitas por meio de tributos. As contas precisam voltar a fechar. O governo não faz mágica. Agora está tendo que subtrair algumas vantagens, por vezes indevidas. O ministro da Previdência citou, por exemplo, o caso de pessoas, por vezes parentes distantes, que contraem matrimônio, uma na faixa dos 20 anos e outra na faixa dos 85 anos, com o claro objetivo de deixar uma pensão por morte para alguém por muito tempo. São distorções, não deveriam nem acontecer, por isso não foram previstas na concepção original do processo, e agora serão corrigidas. Como o Congresso é a caixa de ressonância do que diz a nação, as conformidades e as inconformidades chegam lá. Haverá sobre determinados tópicos um natural processo de negociação. Muitas vezes, como ocorreu com a correção do imposto de renda, são construídas alternativas conjuntamente. Acredito que o ajuste vai ser aprovado após o necessário debate no Congresso.

Terra – O PMDB pleiteia aumentar seu espaço ou peso dentro do governo?
Padilha – Não. Falo com vários senadores e muitos deputados durante o dia. E o sentimento que existe é o de que o PMDB não deve, neste momento, postular essa ampliação. Porque se criou uma versão, vista com muita frequência nos meios de comunicação, de que o PMDB busca muito cargo, só tem pretensão a cargos. Não é assim. Este não é momento de postular, de ficar no ‘quero mais ou quero menos’. O que está em jogo neste momento é muito maior. É ajustarmos as contas e termos condições de prosseguir avançando nas conquistas sociais que ajudamos a construir.

Terra – O senhor acredita que a Operação Lava Jato vai continuar a ter desdobramentos? Eles podem fazer com que o governo continue ‘sangrando’?
Padilha – Vamos ter sim novos desdobramentos da Lava Jato, não sei ainda em que direção, e acho que ninguém sabe, porque dependem de ouvir pessoas, relatos, confissões. Seria irresponsabilidade de minha parte dizer não, porque sei que haverá um longo tempo de trabalho por parte das autoridades competentes. Estamos só na fase de investigação.

Terra – Esses desdobramentos podem atingir o centro do governo?
Padilha – Não. Tenho certeza absoluta de que a presidenta Dilma não tem nenhum tipo de participação nos fatos apurados nesse processo. Absolutamente, não.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *