Rede Globo, 50 anos de amor e ódio

27 / 04 / 15

História de uma das mais ricas TVs abertas do mundo é permeada de altos e baixos

Abril é o mês dos 50 anos da Rede Globo. Maior emissora e produtora de conteúdo do país praticamente desde sua infância corporativa, uma das maiores e mais ricas TVs abertas do mundo, também é uma dessas empresas que fazem parte da família brasileira. Tanto para o bem como para o mal. Como bancos, a empresa de água, a de energia e a internet. A gente sempre reclama, mas é difícil viver sem.

Em cinco décadas, a história da senhora Globo é permeada de altos e baixos e, principalmente, de momentos de amor e de ódio no coração de nós, brasileiros.

Ora enchíamos a boca para falar “viva a Globo, a 2ª/3ª maior TV do mundo”, “porque é a única que tem esse padrão de excelência”, ou “isso sim é que é novela!”; ora a espezinhávamos como vil, canalha, manipuladora, “porque onde já se viu esse filhote da ditadura”, e mais uma porção de adjetivos desabonadores. Se estamos arrependidos? Nananana…

Ano após ano, como se fosse uma estrela do rock ou do cinema, ou as torcidas do Bahia e do Vitória, a “Vênus Platinada” (epíteto, vamos combinar, bem cafoninha que você deu a si mesma) ganhou fãs e detratores. Ambos fiéis. Um verdadeiro Ba-Vi.

Porém, seria preciso ter um espírito muito parcial e mesquinho para não encontrar qualidades e momentos encantadores na sua história. Ainda mais porque você entra diariamente na nossa casa, aliás, na de quase 100% da população brasileira.

Uma TV que consegue a façanha de manter sintonizada metade das TVs ligadas o dia todo, e que ainda segura 25% dos aparelhos de TV ligados também durante toda a madrugada, enquanto o Brasil dorme, precisa ser respeitada, e muito.

Ibope

Beeeem, é verdade que sua fase atual, em termos de criatividade e audiência, não anda lááá das melhores. Mas, vejam, queridos leitores de A TARDE, mesmo vivendo um de seus piores momentos em termos de ibope, especialmente em produtos como Jornal Nacional, novelas, futebol ao vivo, programas de auditório etc., essa senhora ainda tem sozinha, na maioria das faixas horárias, mais audiência que todas as demais TVs abertas somadas.

Isso vale para a calorosa Bahia, a estressada São Paulo, o ensolarado Rio, a verdejante Minas e, para coroar, também o jovem ‘Estado da TV paga’. Mal dá para acreditar, mas uma em cada 4 TVs por assinatura no país só assiste a Globo. Vejam só. Pagar para assistir algo que é gratuito, pelo simples fato de ter mais qualidade de imagem, de vê-la melhor, significa que você é até mais que uma emissora. É um hábito. Uma companhia diária de milhões de brasileiros.

Os telespectadores cinquentões (como este colunista tiozão-esportivo) ainda podem suspirar com o que a senhora nos deu quando ainda era mocinha

Como era adorável voltar da enfadonha missa aos domingos (olha que eu era obrigado a frequentar sob a mira do chinelo materno), chegar em casa, ligar a TV preto e branco e assistir aos Concertos Para a Juventude. Ou, aos sábados à tarde, ficar pilhadinho tomando Coca-Cola com açúcar (isso mesmo) vendo o sensacional Rock Concert, um programa que misturava documentário, curiosidades e muita música, apresentado por um de seus filhos mais geniais, Nelson Motta.

E foi verdade mesmo ou eu sonhei que você exibiu nos anos 70 um show inteiriiiinho do Rick Wakeman na véspera de Natal? E eu lá, naquela chatice de Missa do Galo, desejando que o padre tivesse um piripaque e eu pudesse largar o sininho e fugir correndo para casa. Foi verdade, eu sei, mas parecia um sonho para um jovem estudante de piano ver seu maior ídolo naquela capa de cetim branco esvoaçando sobre seus sintetizadores mágicos. Que presente você me deu!

Suspiro também causou aquela adorável novela das 7 Marrom Glacê. Como seu mocinho, Paulo Figueiredo, eu também fiquei apaixonado simultaneamente pelas duas irmãs protagonistas: Sura Berditchevsky e Louise Cardoso. Aiai…

E que atire o primeiro controle remoto quem não amou a batalha entre Regina Duarte e Aracy Balabanian em A Rainha da Sucata. E o que dizer das segundas, quintas e sábados, cujas noites eram sagradas para morrer de rir com o fantástico gênio Jô Soares, o hilário Paulo Silvino, o impagável Agildo Ribeiro ou o mestre Chico Anysio!

E tem muito mais de onde veio tudo isso. Teve a Sessão Zás Trás, TV Pirata, Casseta, Globo Repórter, Fantástico, Buzina do Chacrinha, Globinho com Paula Saldanha, o primeiro Rock in Rio ao vivo. Aliás, mais recentemente ganhamos outra coisa sensacional: o Tá no Ar… A lista de coisas boas que a senhora nos deu é imensa.

Ditadura

Mas, a mesma dama que trouxe tanto deleite para nossos olhos e ouvidos, foi a mesma que deu apoio à ditadura (é d minúsculo mesmo), ajudou aquele tal de senhor Collor, perseguiu o velhinho Brizola, e esteve acometida de uma misteriosa cegueira e surdez temporárias, apesar de o Brasil inteiro estar nas ruas gritando Diretas Já. Lembra disso?

Sim, dona Vênus, você ficou melindrada e até consternada, mas mereceu, sim, ouvir a turba gritando nas ruas: “O Povo não é bobo, fora Rede Globo”. Foi uma lição a você.

Todo mundo comete erros, ok, e você não deixa de ser uma senhora muito competente que ainda merece respeito. Ora, você faz parte de nossa vida há 50 anos e isso é muito, muuuuuito tempo. Puxa, cinco décadas de casamento? Convenhamos, estava mais que na hora de a gente discutir essa relação. Mas, pronto, pronto, agora passou…

Afinal, suas qualidades são definitivamente bem maiores que seus defeitos. Você nos deu muito mais alegrias que tristezas, e disso não há dúvida. É uma cinquentona bonitona, sarada e inteligente. Aceite hoje este texto singelo como se fosse um bolinho coberto com chantili e mais este buquê de flores. Feliz Aniversário, dona Globo!

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