Morte de Pedro Collor completa 21 anos

20 / 12 / 15

Ele foi o autor das denúncias que deram início ao impeachment de Fernando Collor

O empresário alagoano Pedro Collor de Mello faleceu no dia 19 de dezembro de 1994. Portanto, no último sábado (19/12/2015), completou 21 anos da sua morte. No entanto, mais uma vez, os veículos de comunicação da Organização Arnon de Mello, que ele ajudou a alavancar, ignoraram o fato solenemente: não publicaram uma só nota sobre tão importante efeméride.

No ano passado, por essa época, o site Almanaque Alagoas publicou a matéria abaixo para lembrar as duas décadas da morte do empresário que tanto fez pela comunicação em Alagoas. Naquela oportunidade, tanto o jornal Gazeta de Alagoas como a TV Gazeta também censuraram o fato. Como se vê parece que o nome de Pedro Collor foi deletado dos arquivos da Organização Arnon de Mello, pelo menos enquanto o ex-presidente e atual senador Fernando Collor (PTB) estiver a frente das empresas da família.

A raiva que Fernando Collor nutre pelo irmão só tem um motivo: o impeachment que o tirou da presidência da República em 1992. Na época, foi Pedro Collor quem revelou à imprensa o esquema de corrupção no governo Collor, orquestrado por PC Farias. A de4nuncia resultou na abertura do processo de impeachment e Collor foi obrigado a renunciar à presidência. Pedro morreu dois anos depois do impeachment, em decorrência de um tumor na cabeça.

IMPEACHMENT

O impeachment de Fernando Collor de Mello , o primeiro presidente eleito democraticamente após a ditadura militar, é cercado de fatos que dão à história real um caráter de trama ficcional – por vezes, com tons dramáticos. Um deles é que muitos dos que foram personagens ativos dos acontecimentos que culminaram na derrocada do ex-presidente em 1992 tiveram um fim ainda mais trágico: a morte. Doenças e assassinatos misteriosos atingiram alguns dos que ou atacavam o presidente ou participavam ativamente do seu governo.

Uma das vozes que pedia o impeachment de Collor na Câmara em setembro de 1992, Ulysses Guimarães não chegou a ver a renúncia e a cassação do presidente. Em 12 de outubro daquele ano, o deputado federal sofreu um acidente de helicóptero ao deixar Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Morreram, além de Ulysses, sua mulher, Mora, o ex-senador Severo Gomes e a esposa Ana Maria. O corpo do deputado foi o único que nunca foi encontrado.

Pedro Collor de Mello , irmão do ex-presidente, também viria a ter uma sina infeliz após ter denunciado na imprensa o esquema orquestrado pelo ex-tesoureiro da campanha de Fernando Paulo César Farias no governo. Pedro deu uma entrevista à revista Veja na qual afirmara categoricamente que PC Farias era “testa-de-ferro” de Collor em seus negócios.

Dois anos depois, em 19 de dezembro de 1994, um câncer no cérebro provocava sua morte prematura, aos recém-completados 42 anos. Ele possuía quatro tumores malignos, o que impossibilitava uma cirurgia.

E não foram só os seus acusadores que morreram pouco após o impeachment. O pivô do escândalo de corrupção, PC Farias , foi encontrado morto em 1996 junto à sua namorada, Suzana Marcolino, em sua casa de praia em Guaxuma, Alagoas. A primeira tese, defendida por um perito, foi a de que houvera um crime passional: Suzana teria matado PC e, posteriormente, cometido suicídio.

Entretanto, no ano seguinte, o Ministério Público contratou outros especialistas que afirmaram que o crime se tratava de um duplo homicídio. Essa tese foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal no ano passado e os quatro ex-seguranças de PC Farias, apontados como coautores do assassinato, deverão ir a júri popular.

Segundo a 8ª Vara Criminal de Maceió, o julgamento de Adeildo Costa dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva está na pauta mas não foi marcado até o momento. A previsão é que ocorra ainda esse ano.

A mãe de Pedro e Fernando, Leda Collor de Mello , teve uma participação relevante na época em que eclodiram as primeiras denúncias contra o então presidente. Assim que Pedro revelou um dossiê contra PC Farias à revista Veja, no início de maio, ela afastou o filho da direção das Organizações Arnon de Mello, grupo de comunicações de Alagoas fundado pelo marido.

O comunicado assinado por Leda dizia que Pedro fora afastado da empresa da família, porque tinha problemas de ordem mental, o que foi desmentido logo depois por exames aos quais ele se submeteu. Em entrevista à Veja, posterior ao ocorrido, Pedro afirmara que sua mãe havia sido manipulada a assinar seu afastamento. Pouco depois da morte de seu caçula, Leda teve o mesmo destino. Em 25 de fevereiro de 1995, ela faleceu, vítima de broncopneumonia.

Outra vítima da “maldição” da era Collor foi Elma Farias , mulher de PC. Em 20 de julho de 1994, ela morreu em Brasília, devido a um quadro de edema pulmonar agudo e insuficiência cardíaca. Cinco anos depois, a sua irmã, Élia Bezerra, concedeu uma entrevista à revista IstoÉ na qual garantiu que Elma havia sido assassinada.

“Mataram minha irmã e ninguém disse nada. Depois, assassinaram o Paulo César e montaram um circo para proteger o assassino”, disse Élia na entrevista. Ela afirmou também que depois da fuga de PC do Brasil em 1994, a família Farias entrou em uma disputa desenfreada para determinar quem ficaria com o controle do dinheiro – e isso teria provocado a morte de sua irmã. Não houve qualquer confirmação do seu relato.

Outra morte cercada de mistério foi a do ex-diretor de Habitação da Caixa Econômica Federal do governo Collor José Carlos Guimarães . O corpo do amigo do ex-presidente foi encontrado no fundo da piscina de sua casa, com pesos amarrados ao tornozelo, e foi atestado suicídio.

Ele respondia por 15 processos na Justiça por irregularidades praticadas em seu período no governo e passava por problemas financeiros, mas alguns amigos na época acreditavam que esses não teriam sido motivos suficientes para que Guimarães se matasse. Ele deixou um bilhete para a mulher e os filhos, no qual dizia estar cansado da vida: “Perdoem o que estão fazendo”, escreve, no plural. O enterro de Guimarães foi o primeiro ao qual Collor compareceu após o fatídico ano de 1992. Ele não esteve nos funerais nem do irmão nem da mãe.

*Texto publicado inicialmente pelo site Ig São Paulo e reproduzido pelo site Almanaque Alagoas em 2014.

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