Irmã Dulce é canonizada pelo Papa no Vaticano

14 / 10 / 19

Livreto da cerimônia ressalta 'zelo missionário' da beata baiana

Milhares de fiéis e membros do clero lotaram a Praça de São Pedro, onde o Papa Francisco canonizou na manhã do último domingo a beata baiana Maria Dulce Lopes (1914-1992), Irmã Dulce , que agora já é Santa Dulce dos Pobres . Também foram canonizados outros quatro beatos: John Henry Newman, Giuseppina Vannini, Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan e Margherite Bays.

À exceção de Dulce, todos os canonizados morreram no século XIX ou nas primeiras três décadas do século XX, o que mostra a agilidade do processo que reconheceu a santidade da freira baiana.

Durante a missa, o Papa Francisco afirmou que essas pessoas que se dedicam ao serviço dos mais pobres na vida religiosa fizeram “um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo “.

Francisco comentou que é preciso “caminhar juntos” na fé, e não de forma isolada, e acompanhar os “que se perderam no caminho”. Os santos canonizados neste domingo levaram ao mundo essa mensagem, declarou.

— Peçamos para ser, assim, luzes gentis no meio das trevas do mundo — afirmou. — Hoje, agradecemos ao Senhor pelos novos santos, que caminharam na fé e agora invocamos como intercessores. Três deles são freiras e mostram-nos que a vida religiosa é um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo.

A cantora Margareth Menezes cantou um hino no começo da cerimônia, que passou despercebido pelos fiéis porque o sistema de áudio não estava ajustado. Ela e o saxofonista Waldonys terão uma nova chance nesta segunda-feira, às 10h (horário local) na primeira missa realizada em homenagem a Santa Dulce, em uma basílica romana.

A missa será na Basílica Sant’Andrea della Valle, localizada em Corso Vittorio Emanuelle II, em Roma, e será celebrada pelo Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger

Brasileiros no Vaticano

Antes do início da missa, a sobrinha de Irmã Dulce, Maria Rita Lopes , e o miraculado José Maurício Moreira se encontraram com o Papa no Vaticano. Os brasileiros deram a ele uma medalha da santa e uma imagem de 30 centímetros.

— Ele me disse: “A primeira santa brasileira”. Então, agora é oficial — brincou Maria Rita, que resumiu o dia em uma palavra: gratidão.

José Maurício se emocionou ao encontrar com o Papa nos bastidores e contou que, talvez sentindo seu nervosismo, ele segurou suas mãos .

— Nunca mais vou lavá-las — disse, sorrindo.

Na cerimônia de canonização, acompanhada por milhares de fiéis e membros do clero, que lotaram a plateia da Praça de São Pedro, as bandeiras brasileiras eram onipresentes, tanto no Vaticano quando nos bairros vizinhos de Roma.

Parte de uma comitiva de 50 pessoas que veio da Bahia para a ver a canonização em Roma usando um pacote de viagens ligado às obras sociais, que destina parte de sua receita em projetos da Irmã Dulce, a publicitária Bianca Lucena, de 41 anos, acredita que “a fé está acima de tudo”:

— O (miraculado) José Maurício veio com a gente, e eu senti a presença da Irmã Dulce o tempo inteiro. Tirei três fotos com ele e, em todas, os sinos da igreja tocaram. Só pode ser um sinal.

Dedicação aos pobres

No livreto sobre a cerimônia, a Irmã Dulce é assim descrita: “Dulce Lopes Pontes, no século Maria Rita, nasceu a 26 de maio de 1914 em São Salvador da Bahia, no seio de uma família abastada, marcada por fortes convicções cristãs e uma caridade operosa. Desde a infância, ela se destacou por uma grande sensibilidade para com os pobres e os necessitados.

Completados seus estudos superiores, abraçou a vida religiosa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, ligada à Ordem dos Frades Menores, servindo como enfermeira e professora. Animada por intenso zelo missionário, Irmã Dulce também se dedicou seriamente à instrução dos trabalhadores, mas foi sobretudo na assistência e cuidado dos últimos e dos mais sofredores que exerceu seu generoso serviço.

Irmã Dulce concretizou plenamente a sua ação caritativa com a fundação de uma associação de obras sociais e a construção de uma casa de acolhimento, o “Albergue Santo Antônio”. Sua caridade era maternal, carinhosa. A sua dedicação aos pobres tinha uma raiz sobrenatural e do Alto recebia forças e recursos para dar vida a uma maravilhosa atividade de serviço aos últimos.

Os últimos meses da vida da Beata estiveram marcados pela doença, que enfrentou com serenidade e completo abandono nos braços do Senhor. Em 13 de março de 1992, Irmã Dulce faleceu em São Salvador da Bahia, nimbada de grande fama de santidade. Em 3 de abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as heroicidades de suas virtudes e, em 22 de maio de 2011, celebrou-se o rito de sua Beatificação”.

A celebração eucarística com o rito da canonização é aberta com cânticos. Depois, o prefeito da Congregação da Causa de Todos os Santos, Angelo Becciu, solicitou ao Papa a canonização dos beatos. Becciu apresentou brevemente o perfil de cada um deles.

O pedido é seguido pelo “Litanie Sanctorum”, a ladainha mais antiga da Igreja Católica. A ladainha é um chamado para lembrarmos nossos ancestrais e pedir por sua intercessão. Nela é enumerada uma série de santos.

Em seguida vem a “fórmula da canonização”, uma oração feita pelo Papa em latim em que ele reconhecerá a canonização dos cinco beatos. O cardeal Becciu agradeceu ao Pontífice e pediu permissão para escrever uma carta apostólica para preparar a canonização. Na última parte do rito, Francisco fez novas orações e a liturgia.

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