Falta apoio à ciência no Brasil, diz cientista

24 / 05 / 20

Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), falou dos esforços de cientistas brasileiros no combate à Covid-19

A Covid-19 tem se alastrado rapidamente pelo Brasil nas últimas semanas. Até o momento, foram confirmados mais de 330 mil casos e 21 mil óbitos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já aponta a América Latina como o novo epicentro da pandemia, e alerta para a situação brasileira, que é a mais grave da região.

Para o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, o grande empecilho na luta contra o coronavírus no Brasil é a falta de apoio aos cientistas. É isso o que ele aponta em entrevista à Nature, uma das mais importantes publicações científicas do mundo.

Davidovich destacou que a comunidade científica brasileira tem trabalhado intensamente para encontrar formas de combater o coronavírus: enquanto engenheiros desenvolvem respiradores mais baratos, químicos procuram compostos que possam ser usados em tratamentos. Porém, ele contou que alguns cientistas chegaram a receber ameaças por terem divulgado um estudo que apontava para a ineficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de Covid-19. “Isso mostra a situação que temos aqui. A Academia Brasileira de Ciências pediu apoio do governo para defender e proteger esses cientistas”, disse.

Apesar desses ataques, as organizações científicas não têm parado de difundir informações pela imprensa e por plataformas online. “Em uma entrevista para a televisão, eu disse que medicamentos deveriam ser receitados por médicos, e não pelo presidente do Brasil. Também organizamos um dia inteiro de marcha virtual pela ciência, no qual essas questões foram discutidas”, afirmou Davidovich.

O presidente da Academia Brasileira de Ciências ainda destacou os aprendizados que o combate à Zika já havia deixado para o Brasil, como a importância de se investir em medidas de precaução e em bons equipamentos. No entanto, nenhuma política pública foi desenvolvida a partir desses aprendizados, o que teria sido importante para o enfrentamento ao coronavírus.

Davidovich também lamentou os cortes de verbas na ciência, que têm aumentado a cada ano, e apontou um paradoxo: ainda que o Brasil tenha cerca de 20% da biodiversidade da Terra, nós não aproveitamos esse potencial para desenvolver novos produtos farmacêuticos.

A esperança do especialista é que a ciência não saia de foco depois que a pandemia de Covid-19 passar, embora ele analise: “As pessoas dizem que a ciência é importante neste momento – mas por outro lado, algumas delas ainda acham que a Terra é plana, que humanos não produzem nenhum efeito sobre o clima e que a seleção natural é errada”.

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