Os 30 anos do Prêmio Salgema de Jornalismo

11 / 09 / 20

Uma série de matérias revela os bastidores do maior evento de comunicação do Estado

PRIMEIRO CAPÍTULO

O dia 10 de setembro de 1990 entraria para a história da comunicação em Alagoas como a data que deu início a mais importante premiação do jornalismo local. Foi escolhida a dedo, por ser o Dia da Imprensa. Nascia ali, naquela noite memorável, no auditório da Casa da Indústria de Alagoas, na Avenida Fernandes Lima, em Maceió, o Prêmio Salgema, considerado o “Óscar do Jornalismo” alagoano. O “ó do borogodó”, como iremos narrar nessa série de reportagens sobre os 30 anos do prêmio: do auge à censura.

Uma competição polêmica, importante e necessária. O “Óscar do Jornalismo Alagoano”. O maior evento de comunicação do Estado, envolvendo vários patrocinadores e parceiros, sob o comando do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas. Uma contribuição inestimável à memória da história contemporânea, da primeira à última edição, em 2018, quando o prêmio foi suspenso em solidariedade aos moradores dos bairros atingidos pela mineração.

Escrever sobre o prêmio, durante essa pandemia foi um desafio enorme, não só pela dificuldade de encontrar as pessoas, como o acesso à pesquisa, com as instituições fechadas durante a quarentena. Mesmo assim, conseguimos contato com grandes campeões do prêmio: Márcio Canuto, Adailson Calheiros, Arnaldo Ferreira, Marcelo Firmino, Bartolomeu Dresch, Deraldo Francisco, Wellington Santos, Marinete Barros e Bleine Oliveira.

Trocamos mensagens também com o jornalista e professor da Ufal, Érico Abreu, que contou sobre a entrada do Banco do Brasil como patrocinador do prêmio, em substituição da Salgema. Não conseguimos contato, ainda, com os jornalistas Adelmo dos Santos e Nelson Ferreira, que foram os principais idealizadores do prêmio: o primeiro como presidente do Sindicato; e o segundo como então assessor de comunicação da Salgema.

A primeira matéria a conquistar o grande prêmio Salgema, em 1990, foi escrita pelo saudoso jornalista Dênis Agra, que naquele ano conquistaria também o troféu da categoria Informação Econômica, ambas publicadas na edição de 1 a 7 de setembro de 1990 da revista Última Palavra. Dênis conquistou o primeiro grande prêmio denunciando o uso da máquina pública pelo então governador Fernando Collor, candidato à presidência da República.

Licenciado do cargo de governador e em plena campanha presidencial, Collor usava integrantes da Policia Militar na sua guarda pretoriana. Com o título “A Brigada de Collor”, a matéria premiada mostrava claramente como Alagoas bancava a segurança particular do governador em campanha pela presidência do País, em 1989. Dênis começa a matéria ligando para o hotel onde estavam hospedados os integrantes da tropa colorida.

Na ligação telefônica, o soldado Eduardo confirma tudo, sem imaginar a gravidade da situação. Ao todo, eram 5 oficiais, 7 sargentos e 22 praças, entre cabos e soldados, na “Brigada de Collor”, entre eles o então tenente Dário César e o sargento PM que foi assassinado na Avenida Siqueira Campos, em Maceió, depois que o usineiro João Lyra ficou sabendo que o militar tivera um caso com sua ex-mulher.

Na matéria premiada, Dênis consegue a confirmação que os PMs recebiam do Estado e pelo comitê do PRN em Brasília. Só no hotel Bristol, na capital federal, estavam hospedados, à disposição do comitê, 22 soldados e cabos da “Brigada de Collor”. Todos sob o comando do Batalhão de Guarda, com sede no Palácio dos Martírio, onde o então governador Moacir Andrade despachava, sabendo de tudo e comungando com a ilegalidade.

Em 1991, a fotografia foi a estrela da noite de gala do jornalismo alagoano, durante a entrega da segunda edição do Prêmio Salgema, na cidade de São Miguel dos Campos. O repórter fotográfico Adailson Calheiros, do então Jornal de Alagoas, conquistou o grande prêmio, consagrando-se o grande campeão do ano. Foi a primeira e última vez que uma foto derrubou todos os outros trabalhos, de imagem a texto.

Mas não foi uma foto qualquer, foi uma sequência sinistra de fotos, com imagens chocantes da execução de bandidos em plena via pública. Uma execução sumária de dois homens presos e acusados de crimes, quando eram levados para o presídio. Os assassinos fugiram sem que os policiais que levavam os bandidos esboçassem reação, passando com os carros em fuga por cima dos corpos, deixando para trás um rastro do sangue.

Em 1992, a repórter Arla Coqueiro conquista a terceira edição do prêmio, com uma reportagem exibida pela TV Pajuçara. Foi a primeira vez que uma mulher e uma reportagem de vídeo conquistavam o grande prêmio. Com uma reportagem sobre a folclórica Feira do Passarinho, Arla entra para o panteão dos campeões, ao lado de Dênis Agra e Adailson Calheiros, abrindo caminho para outras colegas repetirem o feito.

Em 1993, o campeão foi o repórter Márcio Canuto, que ganharia também o grande prêmio do ano seguinte. Márcio ganhou em 93 com o vídeo-reportagem “Dia das Mães” e em 1994 com “Alagoas, o Paraíso Tropical”. As duas matérias são ótimas, mas a primeira é demais, quando ele presta homenagem às mães se passando por mãe de juiz de futebol, entrando no Rei Pelé disfarçado de mulher, com peruca e tudo. Claro.

Esportes

Nos esportes, outras três matérias premiadas chamaram a minha atenção, nessas cinco primeiras edições do Prêmio: a primeira fala da corrupção no futebol, assunto até hoje em voga, envolvendo dirigentes de todas as patentes, das Federações à Fifa; a segunda, destaca a trajetória vitoriosa do corredor Santana, um atleta obstinado que corre o mundo patrocinado pela Salgema; e a terceira pede a atenção da mídia para as categorias de base.

Nessa terceira matéria, assinada pelo jornalista Raimundo Nonato, o então presidente da Associação dos Cronistas Desportivos de Alagoas, Raimundo Jorge, cobra uma cobertura maior da mídia. Comentando sobre um campeonato infanto-juvenil amador, patrocinado pela Gazeta em parceria com o Sesi, Jorge pede que essas competições tenham uma cobertura maior da imprensa, principalmente, por meio das emissoras de rádio, “isso ajudaria na descoberta de futuros talentos”.

A matéria sobre o corredor Santana aparece no livro Memória do Prêmio Salgema como escrita apenas pelo saudoso jornalista José Machado, mas a mesma teve a participação também do repórter Warner Oliveira. Os dois trabalhavam no Jornal de Hoje, que publicou a matéria assinada por ambos, mas apenas Machado concorreu ao prêmio.

Homenagens

Além dos premiados, outros profissionais de comunicação também foram lembrados e homenageados pelo prêmio, ao longo desses trinta anos de premiação. Entre participantes, convidados, jurados e homenageados, o prêmio reuniu, em três décadas, a nata do jornalismo brasileiro, trazendo para Alagoas os mais renomados e respeitados profissionais da comunicação do Brasil. A série revela, no capítulo sobre os bastidores do prêmio, os nomes consagrados da mídia brasileira que participaram da premiação, julgando os trabalhos ou apresentado o evento, como mestre de cerimônia.

Lembramos também os vencedores da Medalha Dênis Agra, criada logo após a morte do jornalista em 1992, para homenagear aqueles que contribuíram para a consolidação da categoria e a formação dos jornalistas alagoanos. O primeiro a ser homenageado, com a Medalha Dênis Agra, foi o saudoso jornalista Zacarias Santana, que durante muitos anos comandou a redação do jornal Gazeta de Alagoas. O também saudoso jornalista Freitas Neto também foi lembrado pelo prêmio, dando nome ao troféu destinado aos estudantes de comunicação, contribuindo assim para revelar talentos em nossas faculdades.

SEGUNDO CAPÍTULO

O texto a seguir faz parte do livro Memória do Prêmio Salgema de Jornalismo, lançado em setembro de 1995, contando como a premiação foi concebida e destacando seus primeiros campeões. Semana que vem, publicaremos mais dois capítulos sobre os 30 anos do prêmio, seus bastidores e matérias premiadas.

“MENSAGEM

O Prêmio Salgema de Jornalismo chega à sua 6º Edição com muitas vitórias a comemorar. Este livro é uma delas. Nele estão contidas reportagens, fotos e charges premiadas desde 1989. Ao longo desses anos o Prêmio afirmou sua credibilidade, confirmou e revelou valores entre os profissionais da imprensa do Estado de Alagoas. Cumpriu, com toda certeza seu papel.

O Prêmio Salgema de Jornalismo jamais visou a simples entrega de recompensas. Sua filosofia nunca foi e nuca será tão simplista. A instituição do Prêmio teve como princípios fundamentais o reconhecimento ao esforço, o incentivo à dedicação, o enaltecimento do mérito e, por fim, a premiação. E o que mais nos surpreendeu e realçou nosso orgulho foi o efeito catalisador do Prêmio. A reação dinâmica da categoria, o estimulo que se multiplicou a cada Edição serviram para documentar o acerto da rota traçada pela Salgema e pelo Sindicato da categoria.

Nós, da Salgema, por conhecermos no dia a dia os mecanismos de um processo, sabemos o quanto é difícil elaborar e dar partida a um projeto, acompanhá-lo passo a passo e fazer com que ele frutifique de modo salutar. E por saber desses caminhos é que podemos afirmar que o Prêmio Salgema de Jornalismo fluiu desde o início com facilidade. As forças envolvidas atuaram harmoniosamente na consecução dos objetivos. Organizadores e coordenadores em perfeita sintonia trataram de divulgar a importância do certame e fizeram mais: propiciaram os meios necessários à participação maciça da categoria. Esta, por seu turno, respondeu acima das expectativas. As diversas Comissões Julgadoras agiram de modo exemplar, premiando a quem merecia e contribuindo para o aprimoramento dos trabalhos apresentados a cada ano.

NELSON FERREIRA
Assessor de Comunicação Social
Salgema Indústrias Químicas S.A

APRESENTAÇÃO

O Prêmio Salgema de Jornalismo nasceu de um projeto do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Alagoas e da Assessoria de Comunicação Social (ASCOM) da Salgema Indústrias Químicas S.A. Na época do seu lançamento o então presidente do Sindicato, Adelmo dos Santos, definiu o projeto como “a melhor forma de incentivo aos profissionais de Alagoas e que se deve servir de elemento mobilizador para que a nossa imprensa redescubra o jornalismo investigativo”.

Naquele primeiro ano – 1990- os jornalistas que participavam do Prêmio disputavam uma quantia equivalente a 750 BTNs, prêmio principal, e 250 BTNs, valor por categoria. Diplomas e troféu – com a forma básica de uma máquina de escrever – completavam a premiação. O grande número de matérias inscritas indicava que o Prêmio estava no caminho certo. O então chefe de redação do jornal Gazeta de Alagoas, Claudemir Araújo, reconheceu: “O Prêmio regional foi um excelente incentivo ao jornalismo local que, muitas vezes, não tem como competir em igualdade de condições com os jornalistas dos grandes centros em concursos nacionais”.

Com o significativo apoio da categoria e dezenas de reportagens inscritas, o Prêmio Salgema de Jornalismo entrou para a história do jornalismo alagoano já a partir de sua criação.

A dimensão alcançada ficou registrada na cerimônia de entrega do Prêmio, realizada no dia 10 de setembro de 1990 – Dia da Imprensa- no auditório da Casa da Indústria. Os profissionais fizeram do Encontro um momento de reflexão. Os vários palestrantes usaram a tribuna para expor as dificuldades da categoria e do setor. Mostraram que a tiragem diária de todos os jornais alagoanos representava menos de 0,8% da população do Estado. As rádios atravessavam dificuldades financeiras e as emissoras de televisão não estavam investindo em novas contratações. Por outro lado, os profissionais do setor começavam a conviver com modernas tecnologias como computadores, editores de texto, ilhas de edição. O avanço facilitava o trabalho nas redações, mas criava o fantasma do desemprego. O sindicato também reclamou. A categoria não era convidada a participar de discussões primordiais para a sobrevivência da classe.

Reivindicações à parte, a festa foi um sucesso. O ganhador do I Prêmio Salgema de Jornalismo foi Dênis Agra, que ainda venceu em outra categoria, Informação Econômica. Mesmo assim, o jornalista não deixou de mostrar, com elegância, a sua ironia, ao prever, diante do quadro desestimulante da imprensa de Alagoas, que, “um dia a manchete principal dos jornais será: hoje tem reportagem”. Dênis Agra e os demais premiados receberam aplausos de uma plateia que reunia jornalistas, políticos, professores e empresários.

Se em 1990 o Prêmio Salgema de Jornalismo foi novidade, em 1991 foi ele que apresentou novidades. Foram introduzidas duas categorias: Vídeo-Reportagem e Charge. O valor dos prêmios passou a ser calculado pelo salário mínimo. O prêmio máximo fixado em 10 salários mínimos e os de categoria em 5. O número de trabalhos inscritos superou as expectativas e a qualidade das reportagens não ficou atrás. Na ocasião, o jornalista Nelson Ferreira, assessor de Comunicação Social da Salgema avaliava as dificuldades da Comissão Julgadora. “Tivemos grandes temas que foram explorados com competência. Vai ser difícil escolher os melhores”. Os melhores foram indicados e a entrega dos prêmios aconteceu durante o X Congresso Estadual dos Jornalistas realizado na cidade alagoana de São Miguel dos Campos.

A fotografia foi a estrela da noite de gala do jornalismo alagoano. O fotógrafo Adailson Calheiros, do Jornal de Alagoas, conquistou o Prêmio Salgema de Jornalismo. À festa estiveram presentes como convidados os jornalistas Gilberto Dimenstein (Folha de São Paulo) e Antônio Carlos Fon, que na ocasião presidia o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. Se em sua primeira edição o Prêmio entrava para a história do jornalismo alagoano, na segunda edição ele também servia como “referencial do nível qualitativo de tudo que é publicado em Alagoas”, segundo palavras de Joaldo Cavalcante, então presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas. E reforçava: “a cada ano o interesse é maior e notamos claramente que isso tem incentivado os profissionais na busca do aprimoramento”. A afirmação do jornalista era baseada num fato interessante: pela primeira vez reportagens publicadas em tablóides e em jornais de pequeno porte estavam sendo premiadas. Joaldo reconhecia no fato o esforço pessoal do repórter na investigação de assuntos que nem sempre ganhariam destaque na chamada grande imprensa.

Em 1992, já em sua 3º Edição, outras novidades foram incorporadas ao Prêmio. A partir daquele ano a relação dos vencedores passou a ser reconhecida somente no dia da premiação assim como o Oscar. Também em 92 o Prêmio Salgema de Jornalismo saltava do papel para a tela. A repórter Arla Coqueiro, da TV Pajuçara, recebeu o prêmio máximo com seu vídeo-reportagem “Feira do Passarinho”. Um fato, porém, cobriu de luto a imprensa de Alagoas naquele ano. Falecia, aos 41 anos, o jornalista Dênis Agra. O Sindicato dos Jornalistas e a Salgema decidiram prestar uma homenagem póstuma àquele que foi, sem dúvida, um dos mais combativos repórteres do Estado de Alagoas, instituindo a medalha Dênis Agra que passou a ser conferida a “personalidades que tenham contribuído para o engrandecimento da imprensa”. O jornalista Zacarias Santana foi escolhido naquele ano para receber a comenda. A comissão Julgadora o definiu como “um formador de jornalistas dede 1945”. Zacarias trabalhou na imprensa oficial, foi paginador da Gazeta de Alagoas, onde chegou ao cargo de diretor industrial, editor-chefe e vice-presidente. A medalha Dênis Agra, que traz o rosto do falecido jornalista cunhado no bronze, foi entregue a Zacarias que, de tanta emoção, não conseguiu falar em público. Dênis foi um dos formados por Zacarias.

A solenidade foi encerrada com discurso do Assessor de Comunicação Social da Salgema, Nelson Ferreira. “Não se trata de apenas distribuir prêmios, mas de reconhecer talentos e apontar tendências, o que a Comissão Julgadora fez muito bem”.

A categoria Vídeo-Reportagem voltou a encabeçar a lista dos ganhadores de 1993. Dessa vez o jornalista Márcio Canuto, da TV Gazeta, levou o troféu e um prêmio em dinheiro no valor equivalente a US$ 1,000.00. A escolha das melhores reportagens, fotos e charges deu o que fazer à Comissão Julgadora, responsável pela avaliação de mais de cem trabalhos inscritos. O tema de Márcio Canuto – “Dia das Mães”- conseguiu se sobressair pelo conteúdo e criatividade na forma de apresentação. A reportagem, por sua abordagem interessante, chegou a ser veiculada em rede nacional.

Nesse ano, apesar da qualidade de trabalhos inscritos, quatro categorias deixaram de ser contempladas por não preencher requisitos qualitativos. O convidado especial da 4º Edição foi o jornalista José Nêumane, então assessor de imprensa do Ministério da Indústria e Comércio. “O Prêmio é um sinal da força e da qualidade da imprensa alagoana e representa uma iniciativa rara no Brasil, onde existem apenas dois ou três prêmios nacionais”, disse. A medalha Dênis Agra foi conferida ao jornalista José Aldo Ivo por sua contribuição na criação da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Alagoas.

Em 1994, em sua 5ºEdição, o jornalista Márcio Canuto repetiu o feito com o Vídeo-Reportagem “Alagoas, o paraíso tropical”. Levou o troféu e 1.000,00. Como estava viajando foi representado por Arnaldo Ferreira. A festa foi um sucesso de público mais de 200 pessoas – e de organização. No auditório da Casa da Indústria, foi instalado um telão e nele exibidos, além do vídeo vencedor, cenas da vida do jornalista Teófilo Lins, falecido naquele ano. Teófilo foi fundador do Sindicato dos Jornalistas e diretor de vários jornais de Alagoas. Sua viúva, bastante emocionada, subiu ao palco para receber a Medalha Dênis Agra.

O auditório superlotado ouviu vários discursos. Nelson Ferreira afirmou que o objetivo maior do Prêmio “é incentivar a excelência da informação, prestigiando e reconhecendo a responsabilidade da imprensa livre na premiação de valores éticos da sociedade e no desenvolvimento da cidadania”. Já o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Marcelo Firmino, destacou a importância do concurso, “em contrapartida às dificuldades por que passa a profissão”.

Esse livro, que reúne reportagens, fotos e charges premiadas desde 90, foi lançado no dia 15 de setembro de 1995, durante a entrega do VI Prêmio Salgema de Jornalismo.

PREMIAÇÕES

1990
I Prêmio Salgema de Jornalismo
Repórter: Dênis Agra
Título: “A Brigada de Collor”
Veículo: Última Palavra (Ed. 80 – 01 a 07/09/89)

INFORMAÇÃO ECONÔMICA
Repórter: Dênis Agra
Título: “Nova Marca do Açúcar”
Veículo: Última Palavra (Ed. 80 – 01 a 07/09/89)

REPORTAGEM
Repórter: Marcelo Firmino
Título: “ETURB – irregularidades sobre quatro rodas”
Veículo: Última Palavra (Ed. 94 – 29/09 a 06/10/89)

INFORMAÇÃO CULTURAL
Repórter: Celeste Marques
Título: “Maceió, 150 anos”
Veículo: Última Palavra (Ed. 94 – 08 a 14/12/89)

INFORMAÇÃO CIENTÍFICA
Repórter: Carlos Roberto Pereira
Título: “Casos de AIDS no País já superam os 9 mil”
Veículo: Jornal de Alagoas (21/11/89)

FOTOGRAFIA
Fotógrafo: Adailson Calheiros
Título: “O camponês desolado observa o feijão jogado na praça”
Veículo: Jornal de Alagoas (27/07/90)

INFORMAÇÃO ESPORTIVA
Repórter: Raimundo Nonato
Título: “Brasil perde mais um título por teimosia e incompetência”
Veículo: Jornal de Alagoas (08/07/90)

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DÊNIS AGRA (1950 – 1992)

O troféu do I Prêmio Salgema de Jornalismo foi conquistado por Dênis Agra, um dos mais combativos repórteres do Estado de Alagoas, “modelo exemplar de seriedade, competência e profundo compromisso com a transformação de nossa sociedade”, segundo escreveu José Osmando de Araújo, colega de profissão e amigo do repórter nas “orelhas” do livro “A última Reportagem”, homenagem póstuma de outro amigo inseparável, o jornalista Joaldo Cavalcante.

Dênis Agra morreu aos 41 anos depois de contrair um câncer que o consumiu em menos de um ano. Sua brilhante trajetória no jornalismo alagoano, a intensa atuação política desde a época de repressão, os marcantes anos em que esteve à frente do Sindicato dos Jornalistas, até os últimos instantes de vida estão registrados com emoção no livro de Joaldo Cavalcante, resultado de uma série de entrevistas que Dênis Agra se propôs a conceder ao amigo jornalista durante o curto período em que lutou contra a doença.

Preso e torturado por sua atuação em um partido comunista e clandestino, Dênis continuou lutando com a mais poderosa arma que suas mãos aprenderam a manejar: a máquina de escrever. Foi repórter, chefe de reportagem e editor dos principais jornais do Estado de Alagoas, do “Última Palavra”, do Opinião. “Ombudsman” da Gazeta de Alagoas, presidente do Sindicato da categoria, entre outras tantas atuações na imprensa alagoana.

“Um homem de ferro feito de flor”, assim sintetizou Freitas Neto, falando em nome de toda a categoria, no último adeus ao jornalista.

A Salgema e o sindicato dos Jornalistas decidiram, após seu falecimento, instituir a Medalha Dênis Agra de Melhor Contribuição à Imprensa, numa justa homenagem a quem foi, acima de tudo, uma extraordinária figura humana.”

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PRIMEIRO CAMPEÃO

A primeira matéria a ser contemplada como grande prêmio Salgema foi produzida pelo saudoso Dênis Agra. É esta reportagem, que publicaremos a seguir, na íntegra:

“A Brigada de Collor”

Alagoas paga a segurança da Campanha do ex-governador
(São 5 oficiais, 7 sargentos e 22 cabos e soldados)

– Bom dia, é do Hotel Bristol.
– Aqui é de Maceió. Gostaria de falar com cabo Monteiro.
– Ele é da turma do Collor?
– É, sim.
– Momentinho que vou transferir a ligação.
– Alô!
– Quem fala, por favor?
– É o soldado Eduardo. O que deseja?
– Sou da Revista “Última Palavra”. Estou fazendo uma matéria sobre a experiência de vocês na Campanha do Collor.
– Olha, a gente segue o homem quando viaja…
– Quantos soldados estão hospedados aí?
– Aqui tem 22.
– O salário compensa?
– Mais ou menos, mas isso pode me complicar.
– Faz o seguinte, ligue para o tenente Monteiro no Comitê.

Este diálogo telefônico mantido com um membro de uma equipe muito especial hospedada no Hotel Bristol, em Brasília, foi apenas o começo de uma investigação que terminou provando o motivo pelo qual o candidato a presidente da República, Fernando Collor, dispensou por completo a segurança oferecida pela Polícia Federal.

Em sua caminhada pelo país a fora, o ex-governador de Alagoas fez questão de manter bem perto um grupo significativo de homens dispostos a qualquer tipo de ação para preservá-lo até do assédio da parte de alguns eleitores.

Tudo não passaria de um fato normal de vida de um cidadão que almeja o cargo mais importante na vida pública do país, se todos os homens do presidenciável do PRN não possuíssem uma classificação bem conhecida pelos alagoanos. A “brigada” de Collor de Mello é composta por 5 oficiais, 7 sargentos e 22 cabos e soldados, todos integrantes da Polícia Militar de Alagoas, todos com remuneração invejada pelas mais variadas patentes na instituição encarregada de oferecer segurança ao povo deste Estado.

Pela informação que vazou do próprio Batalhão de Guardas situado no Palácio dos Martírios, onde a “brigada” de Collor deveria estar prestando serviço, o cel. Otávio Pessoa Albuquerque, da assessoria militar do ex-governador alagoano, é quem comanda esse “regimento”. No Distrito Federal Albuquerque é um homem de extrema confiança do PRN e escolheu a dedo o para-choque “colorido”.

Dinheiro do Estado

Oficiais do Batalhão de Guarda confirmaram, depois de receberem garantias de não serem identificados, que a Polícia Militar do Estado de Alagoas expede mensalmente os contra-cheques dos homens de Collor de Mello. Além da remuneração paga pelos contribuintes alagoanos, a “brigada” recebe do comitê do PRN, em Brasília, uma gorda complementação. Daí a inveja de elementos da corporação. O cel. Otávio Albuquerque ganha NCZ$ 2.300,00 do Estado e recebe uma gratificação de quatro mil cruzados novos.

Já o capitão José Maria de Oliveira Alves, que continua garantindo no governo de Alagoas um salário em torno de NCz$1.100,00 acertou no acordo outro vencimento em valor próximo daquele destinado ao cel. Otávio Albuquerque. O mesmo ocorre com os tenentes José Maria de Oliveira Alves, Dário Cesar Barros Correia, Jean Silva Paiva e Carlos Alberto Nunes Calaça, que pela Polícia Militar do Estado de Alagoas recebem 900 cruzados novos.

O que também ficou constatado é que a nova experiência desses membros da Polícia Militar já vem durando alguns meses. Em contato com “Última Palavra”, o cabo Silva, da assessoria militar do Palácio dos Martírios, informou que o tenente Dário Cesar Correia está trabalhando em Brasília há 3 meses. “Ele deve voltar lá pelo final do ano”. O contrato extra da “brigada”, portanto, chegará ao fim quando acabar a campanha eleitoral.

No Hotel Bristol, um três estrelas brasiliense, estão hospedados sob responsabilidade do comitê do PRN, os 22 soldados e cabos da Polícia Militar. Os oficiais não foram localizados, mas as informações dão conta de que estão na ala dos hotéis com mais estrelas. Entre os cabos foi possível identificar o Monteiro, o Bezerra e Reinaldo, que também prestam serviços no Batalhão de Guardas. Os cabos e soldados recebem pela Polícia Militar um soldo entre 300 e 400 cruzados novos. Em Brasília, Collor recompensa com até NCz$1.800,00 a mais para que esses homens mantenham sua integridade física.

Na residência particular de Collor de Mello, no comitê central ou mesmo nas viagens pelo país, a “brigada” do presidenciável do PRN com patente, salário em dia e tudo mais registrado no comando da Polícia Militar de Alagoas, pode ser comparada a um seleto grupo de “marajás” fardados, que pela influência política de Collor junto ao governador Moacir Andrade cultiva o privilégio de não apresentar-se ao quartel geral e, nem por isso, ser punido por abandono de serviço ou insubordinação.

Revoada Geral

Além dos policiais militares à disposição da campanha do PRN, Collor de Mello conta também com um grupo de assessores muito conhecido na roda do funcionalismo público alagoano. De autoridades públicas e modestos servidores do governo do Estado, a revoada para Brasília inaugura uma nova casta de funcionários, talvez mais caracterizada na figura do “califa” do que os milhares de filhos do arrocho salarial patrocinado nos últimos 2 anos de governo.

Em rápido levantamento efetuado do próprio comitê central de Collor de Mello fica a conclusão segundo a qual há, pelo menos, 50 funcionários do governo de Alagoas com presença efetiva na folha de pagamento mensal bancada pelo bolso dos alagoanos e horário corrido na campanha eleitoral. A prova começa pelo ex-secretário do Gabinete Civil Cláudio Vieira, que até a semana passada aparecia como assessor especial no gabinete do governador Moacir Andrade.

No estouro da verba secreta de Collor de Mello, Cláudio Vieira marcou presença sacando recursos com a própria rubrica. Outro funcionário do serviço público alagoano na Campanha do PRN é o advogado Abílio Dantas, que compôs a assessoria jurídica do ex-governador alagoano. Na lista de tempo integral tem o ex-secretário da Educação, Luitgard Moura de Figueiredo, que era superintendente da FEMAC quando o então prefeito Collor de Mello permitiu a nomeação de quase cinco mil pessoas na prefeitura de Maceió.

Entre as personalidades, os funcionários mais graduados longe do batente, é possível encontrar os deputados estaduais Cleto Falcão e Euclides Mello, ambos do PRN, que abandonaram de vez a missão constitucional de redigirem a nova constituição de Alagoas. Fugindo com frequência das sessões do Tribunal de Contas do Estado, o conselheiro José Barbosa aderiu também a morada. É sempre visto em companhia de Collor de Mello.”

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TERCEIRO CAPITULO

ÚLTIMA PALAVRA: DESTAQUE NA PRIMEIRA EDIÇÃO

Revista do saudoso jornalista Noaldo Dantas conquistou quatro dos sete troféus, incluindo o Grande Prêmio

Neste terceiro capitulo desta publicação sobre Os 30 Anos do Prêmio Salgema, republicamos mais duas matérias premiadas em 1990. A primeira foi assinada pelo jornalista Dênis Agra, que além de ganhar o grande prêmio, faturou também outro troféu, na categoria Informação Econômica, com a “Nova Marca do Açúcar”. Nessa matéria, além de traçar um panorama sobre a crise do setor sucroalcooleiro, faz uma entrevista com o usineiro Jorge Toledo, então presidente da Sindicato dos Produtores de Açúcar de Alagoas. Nessa entrevista, Toledo fala sobre uma recente visita à então União Soviética e luta dos produtores para modernizar do setor açucareiro, aumentando com isso a produtividade. À época, segundo o industrial, enquanto alguns produtores conseguiam tirar do solo 10 toneladas de cana por hectare, outros precisavam de 3,5 hectares para colher esta mesma quantidade de cana.

A segunda matéria premiada e republicada na íntegra é de autoria do jornalista Marcelo Firmino, na categoria Reportagem. “ETURB – irregularidades sobre quatro rodas”, narra o esquema de corrupção na encampação das empresas de ônibus pelo Estado de Alago0as, no governo de Fernando Collor. A reportagem premiada foi publicada na revista Última Palavra, entre os dias 29 de setembro e 6 de outubro de 1989. Aliás, a revista Última Palavra, do saudoso jornalista Noaldo Dantas, foi a grande campeã da primeira edição do Prêmio Salgema. Além de ganhar o grande prêmio, com a matéria sobre “A Brigada de Collor”, a revista venceu nas categorias Informação Econômica, com a “Marca do Açúcar”, Reportagem, com o escândalo da ETURB; e Informação Cultural, com “Maceió, 150 anos”. assinada pela jornalista Celeste Marques.

I Prêmio Salgema de Jornalismo:

Informação Econômica
Repórter: Dênis Agra
Veículo: Última Palavra (Ed. 80- 01 a 07/09/89)

Nova Marca no açúcar

Toledo quer diálogo com a sociedade e culpa os governos militares pela crise

A história de Alagoas passa sempre por um canavial e uma usina. Tem sido assim ao longo das décadas, na formação da economia do Estado. E daí, as comparações e afirmativas são as mais diversas. Desde a de que se o açúcar vai bem, Alagoas também; até a de que essas terras cheiram a maresia e melaço. A verdade é que o poder econômico e político de Alagoas esteve sempre nos gabinetes das usinas e os seus proprietários, os usineiros, formaram durante anos uma casta de privilegiados e intocáveis. A própria história e o registro diário dos acontecimentos são as maiores testemunhas disso.

Mas, a democracia conquistada pelos brasileiros e os episódios políticos no Estado mudaram o quadro. Os usineiros alagoanos foram atacados e praticamente desmoralizados na briga com o ex-governador Fernando Collor de Mello, que fez uso da situação como trampolim político de projeção nacional. Se abriga de Collor fez parte apenas de uma estratégia política, sem fundo de verdade, serviu, no entanto, para acordar o setor empresarial do açúcar, que renovou suas lideranças com sangue novo no principal órgão de classe dos industriais alagoanos. E para quem duvidar, a mudança se anuncia pra valer, como marca de um novo momento político na vida dos usineiros.

E a mudança começa logo nas ante-salas da presidência do Sindicato dos Produtores de Açúcar de Alagoas. O novo presidente, Jorge Toledo Florêncio, é identificado por sua assessoria como Dr. Jorginho. E existem razões para isso. É que com apenas 31 anos de idade, esse pernambucano de Caruaru, é o mais jovem presidente que assume a direção do Sindicato. E com menos de um mês no cargo, ele anuncia uma nova fase para a indústria do açúcar, em que os usineiros acordaram para a necessidade de dialogarem com a sociedade.

E a mudança não é apenas com um presidente jovem que chega ao cargo. Jorge Toledo, que é engenheiro mecânico, fala sempre do grupo que assumiu a diretoria e chega ate a identificar como um movimento político, “que como todo movimento político não se sabe quando começa e é sempre feito num trabalho de convencimento”. De uma coisa ele faz questão de afirmar: este grupo não derrubou ninguém. Defendendo idéias que foram absorvidas por todas as empresas filiadas ao Sindicato e que em agosto último, dia 7, comparecem para garantir unanimidade na eleição da nova e jovem diretoria.

Segundo Jorge Toledo Florêncio, se nas gestões anteriores houve muita preocupação com a solução dos problemas específicos do setor açucareiro, neste novo momento, a preocupação básica será uma administração pra fora, no diálogo com a sociedade alagoano. Esse diálogo implica em discutir as razões do empobrecimento alagoano, identificado pelo novo presidente como um mal que se acelerou nos últimos 10 anos, tanto no campo da economia, como social e culturalmente. A sua estimativa é de que nessa década deixou de circular em Alagoas, algo em torno de 1,2 bilhão de dólares.

No entender de Jorge Toledo, para esse empobrecimento, a sociedade alagoana foi buscar culpados, incluindo entre eles os industriais do açúcar, tidos como dominadores da economia e abutres da sociedade. A sua opinião, entretanto, é que isso não corresponde à verdade e por aí é que entra a necessidade de diálogo para explicar e buscar novas saídas econômicas. Toledo acha que se os usineiros contribuíram para isso, eles foram compelidos pelo Governo Federal, pela política estabelecida para o setor, desincentivando a produção e os preços caindo muito. Para se ter uma ideia , há 10 anos, na safra 79/80, uma tonelada a granel de açúcar cristal era vendida a 218 dólares, ficando estável em 286 dólares na safra 81/82. Atualmente, essa mesma tonelada de açúcar é vendida a 167 dólares.

Culpa nos militares

A renovação política nas lideranças do açúcar alagoano não serve apenas para promessa de diálogo e identificar o fator da crise. O novo presidente do Sindicato tem a opinião definida sobre momento da crise brasileira. Toledo identifica que as dificuldades decorrem dos governos militares, “do obscurantismo”. A sua opinião é de que o abacaxi já chegou feito às mãos de Sarney, que é tido como um presidente vacilante e de pouca autoridade, mas que garantiu cinco anos de democracia e tornou as coisas mais claras.

As críticas e opiniões do novo presidente não ficam apenas no setor público. Ele acusa o presidente da Fiesp, o empresário paulista Mário Amato, como um despreparado. E reage firme à indagação se ele seria um dos 800 mil empresários que deixariam o Brasil caso Lula fosse eleito presidente da República, como chegou a anunciar Amato: “quem devia deixar a Fiesp era Márcio Amato. Aliás, não sinto a Fiesp como representante e voz do empresariado brasileiro”. Jorge Toledo vai mais longe em sua comparação e diz que, cada um do seu lado, o líder sindical Luiz Antônio Medeiros é muito mais preparado que o presidente da Fiesp.

Mesmo identificando o grave momento da vida brasileira, Toledo diz que não possui nenhum receio de que Brizola, por exemplo, seja o eleito para presidente da República. A sua posição é de crença no jogo democrático, achando, no entanto, que é necessária muita competência e experiência para resolver a grande soma de problemas acumulado, alguns dos quais não dependem só do Brasil, como é o caso da dívida externa, “que só no atual governo já foi negociada por quatro ministros, enquanto os banqueiros há 10 anos têm o mesmo negociador, que a essa altura deve conhecer melhor a dívida brasileira do que o próprio governo”.

Com mandato pelos próximos três anos, Jorge Toledo Florêncio procura se desvincular da política partidária, mas caracteriza a nova fase da atividade política sindical, onde o Sindicato passa a ser o órgão que fala em nome dos industriais do açúcar, enquanto a Cooperativa assume o seu papel de “loja de vender açúcar e álcool”. Toledo garante que se o Sindicato se manteve calado nos últimos tempos, em que a Cooperativa até se posicionou mais, não é a intenção de agora em diante da nova diretoria.

Para quem possa estar surpreso com o posicionamento das novas lideranças do setor açucareiro, tradicionalmente fechado em um clube de elites e de opiniões restritas ao mundo do açúcar, é como se a “perestroika” tivesse chegado aos parques industriais e escritórios das usinas. Pode ser até que signifique um novo momento da vida alagoana, identificada em sua história com as capitanias hereditárias do açúcar. De agora em diante, se forem colocadas em prática as pretensões do novo presidente do Sindicato, a história vai ser testemunha por um diálogo aberto, tentando tirar Alagoas da rota do empobrecimento.

“Estamos sendo espoliados. E conosco a sociedade vem junto”

ÚLTIMA PALAVRA – Durante a entrevista, você se referiu à vista que fez em agosto último à União Soviética. Qual foi o objetivo?
Jorge Toledo – Pode dizer que eu não fui fazer nenhum curso de guerrilha. Fui por curiosidade. Afinal está lá a segunda potência do mundo.
UP – E qual é a impressão?
JT – A sociedade soviética também está em busca de soluções, atravessando um momento tão louco como o nosso. Eles têm um projeto de vida. Acho que não precisamos passar pelo mesmo estágio. Dentro de 20 anos, os soviéticos terão conseguido um padrão de vida europeu.
UP – E o Brasil?
JT – Acho que o único problema é o investimento na educação. Por aí todos os demais problemas serão resolvidos. Ao invés de Angra 4, temos que construir cinco mil escolas. E assim por diante. Temos que evitar a corrupção e passar a favorecer a base da pirâmide.
UP – Da União Soviética para o açúcar alagoano: qual a estimativa para a safra 89/90?
JT – Nós estamos vivendo um ano climaticamente bom. Eu mantenho a previsão de 24 milhões de toneladas.
UP – De onde vem essa propalada crise do açúcar?
JT – No passado, a cana era destinada para a produção de açúcar. Como consequência, quase que exclusivamente para a produção de alimentos. Hoje, 67% da cana produzida no Brasil vai para a produção de álcool combustível, que é concorrente do petróleo. Só que em 1980, o barril de petróleo custava 30 dólares e hoje é vendido a 17 dólares. Como não dá para separar a cana para o açúcar e a cana para o álcool, vem a questão do preço, da concorrência.
UP – E essa porcentagem de 67% da cana para o álcool também é média de Alagoas?
JT – Em Alagoas, é pouco mais da metade das canas para a produção de álcool.
UP – Qual o objetivo dessa abertura política no Sindicato do Açúcar?
JT – Nós precisamos e vamos tentar esclarecer à sociedade alagoana que estamos sendo espoliados. E conosco, ela vem junto.
UP – Então, qual o caminho para barrar o empobrecimento de Alagoas?
JT – Acho que existem fundamentalmente três saídas: a indústria química, que tem dado certo generosos subsídios do sistema Petroquisa; a modernização da agricultura, que é nossa vocação. Aí entra também a modernização do setor açucareiro, para elevar a produtividade. Hoje, em Alagoas, existem locais onde se consegue 10 toneladas por hectare, enquanto em outros, só se chega 3,5 hectares. Tem também a questão da Bacia Leiteira, para ser melhor desenvolvida. Eu sou contra é produzir carne. Para mim é um atraso. A pecuária de corte é expurgadora de mão de obra e manda o homem para a favela.
UP – E qual a terceira saída?
JT – O turismo, que precisa ser desenvolvido com mais afinco. Tem boas vantagens, como pouco aporte de capital e a distribuição de renda é imediata.
UP – E a indústria química não se choca com o turismo?
JT – Acho que não. Desde que se tenha um ativo órgão de defesa do meio-ambiente, como foi no período de técnicos competentes, como José Roberto Fonseca e Osvaldo Viegas. Aliás, estou convencido de que a próxima década é do meio-ambiente. Também estamos preocupados com isso. Tanto é que já recomendamos às usinas que se preocupem com a reposição das árvores nativas nas encostas dos tabuleiros.
UP – Durante muitos anos, a Cooperativa dos Usineiros foi quem mais apareceu e falou em nome da classe. Isso vai continuar?
JT – O Sindicato é quem fala pela classe. A Cooperativa é uma associada do Sindicato. Ela é uma loja de vender açúcar e álcool. Tanto é que nem todas as usinas estão a ela associadas.
UP – Alguns usineiros estão na atividade política partidária. Você tem essa pretensão?
JT – Não. Estamos desvinculados de qualquer partido. A nossa atividade política é sindical. Vamos desenvolver um trabalho junto aos sindicatos de trabalhadores e procurar outros setores da sociedade para discutir a nossa realidade.
UP – Que razão você aponta para concluir que Alagoas está mais pobre que há 10 anos?
JT – Acho que Alagoas mergulhou no parasitismo a partir do final da década de 70. É uma visão pessoal. Não falo pelo Sindicato. Acho que a sociedade passou a ter o sonho de viver sem fazer nada. De lá para cá, multiplicamos a produção de açúcar, por seis e a de álcool por 25. O crescimento na agricultura foi de 12% ao ano. Mas o empobrecimento foi crescente.
UP – E o funcionalismo tem a ver com isso?
JT – Tem sim. Vejamos, em 1971, no governo Afrânio Lages, tínhamos cerca de sete mil funcionários. É bom conferir esses números. Hoje são 72 mil funcionários no governo do Estado, cerca de 14 mil na prefeitura de Maceió e mais uns 20 mil na soma das demais prefeituras. São mais de cem mil funcionários públicos estaduais e municipais, o que representa cinco por cento da população alagoana e 12% da população economicamente ativa que é de cerca de 840 mil pessoas.
UP – Qual a sua opinião sobre o empresariado alagoano?
JT – Não conheço muito. Reconheço aluns empresários arrojados como o pessoal da Dumonte e o Márcio Raposo, para citar o setor imobiliário. Acho que está na média do empresariado nordestino.
UP – Governador Moacir Andrade pediu para o deputado Zeca Torres, como ÚLTIMA PALAVRA publicou, para articular um movimento na Assembléia e tentar anular o primeiro acordo feito pelo ex-governador Fernando Collor com os usineiros. Segundo o governador, com o acordo, é inviável administrar o Estado. Qual a sua opinião?
JT – Não sou especialista. Acho que se deve procurar os especialistas. De preferência, de fora de Alagoas. Aqui tudo é emoção. O governo precisa rever o seu planejamento, pois é ridículo passar o mês inteiro trabalhando apenas para pagar a folha do funcionalismo, e quando paga, todo mundo fica revoltado.
UP – Você acha que o Estado está mesmo quebrado?
JT – Não sei. Acho, no entanto, mais produtivo procurar saídas, ao invés de mexer no passado.
UP – É a primeira vez que você integra a diretoria do Sindicato do Açúcar?
JT – Não. Na diretoria anterior, eu era suplente.
UP – Uma acusação aos usineiros: é a de que a situação das usinas não é boa, mas o patrimônio pessoal de cada um é muito grande. É verdadeira?
JT – No meu caso, estou terminando o meu apartamento e tenho um carro 88. Claro que o empresário do açúcar vive bem melhor que a média da sociedade alagoana. Agora, acho um erro feudal ficar comparando, dizendo que os usineiros têm aviões. O avião é um meio de se locomover com rapidez. Essas coisas são de uma sociedade mesquinha. A sociedade que cresce é a que busca soluções econômicas.
UP – Qual a sua opinião sobre a redução de poderes do IAA?
JT – Foi saudável. Afinal, quem tem que cuidar do açúcar é quem produz. O IAA deve existir para regular o mercado. O açúcar é insumo básico para alimentos e o governo tem a obrigação de não deixar faltar.

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Reportagem
Repórter: Marcelo Firmino
Veículo: Última Palavra (Ed. 84 – 29/09/ a 06/10/89)

Eturb: Irregularidades sobre quatro rodas

Quando o deputado João Neto, do PSB, protocolou, em abril de 1987, na Assembléia Legislativa, um requerimento pelo qual solicitada a constituição de uma CPI para apurar a encampação governamental de empresas de ônibus, não poderia imaginar as descobertas que vinham pela gente. Dois anos e cinco meses depois, às vésperas de concluir seu relatório sobre a “CPI da ETURB”, o parlamentar não esconde a surpresa diante das irregularidades e erros administrativos cometidos com recursos públicos e a sombra do poder.

Depois de treze dias no exercício do governo em Alagoas, Fernando Collor baixou o decreto 32’.227, desapropriando as cotas de capital das empresas Auto Viação Progresso Ltda., Auto Viação Nossa Senhora de Fátima Ltda e Empresa Santa Maria Ltda. Desconfiando de irregularidades o deputado João Neto não perdeu tempo. Requereu uma CPI para apurar as razões que levara o Governo a promover a desapropriação dessas empresas de transporte coletivo.

“Nossa pretensão passava pela verificação da situação financeira das empresas no momento da desapropriação”, afirma João Neto. No começo deste ano, o deputado já dispunha de dados oficiais suficientes para afirmar que, no mínimo, o ex-governador Fernando Collor encampara uma espécie de “patrimônio falido”. As três empresas de ônibus custaram aos cofres públicos estaduais cerca de 500 mil antigas OTNs. “Não sei com quais objetivos, mas o Governo supervalorizou esse grupo de empresas”.

A conclusão vem precedida da análise de liquidez imediata: em 83, as empresas dispunham de Cz$3,97 para cada 100 cruzados antigos de obrigações. “O Governo realizou a transação e não forneceu nenhum detalhe”, completou o deputado. Aliás, essa prática secreta de administrar bens públicos faz parte de vários momentos do Governo Collor, basta citar os famosos acordos com os usineiros alagoanos, cujos termos sequer foram publicados no Diário Oficial do Estado.

Na semana passada, João Neto circulava com três pesadas pastas fruto de uma cuidadosa auditoria realizada pelo Tribunal de Contas de Alagoas na Empresa de Transporte Urbano, a ETURB, que foi criada por Collor sete meses após a desapropriação das empresas de ônibus. O relatório da auditoria concluído no último mês de junho, estimulou o deputado a tentar acionar o Ministério Público para buscar a apuração de crime de responsabilidade. Nesse caso o banco de envolvidos é fácil de ser identificado.

Como Collor desapropriou e pagou caro por empresas financeiramente doentes e o ex-secretário dos Transportes, Obras e Recursos Naturais de Alagoas, Augusto César Farias, irmão do tesoureiro da campanha do PRN, Paulo César Farias, gerenciava a ETURB, são os primeiros na mira da ação Judicial que o deputado João Neto tenciona mover. E munição é o que não falta para responsabilizar quem comete negligência e agiu de má fé em nome da coletividade. O relatório da auditoria que o Tribunal de Contas fez na ETURB constata fatos escabrosos. O desmantelo começa pelo sucateamento progressivo do patrimônio do povo alagoano. Dos 303 ônibus contabilizados na fase inicial da ETURB, só trafegam hoje 160.

“Existem umas 100 toneladas de ferro velho no pátio da empresa”, conclui o relatório do TC/AL.

Percorrendo os bastidores da tesouraria, um dos serviços de manutenção, compra de peças e serviços, além de renovação da frota, a auditoria do TC/AL foi encontrar irregularidades grosseiras na emissão de notas fiscais e nas aplicações financeiras. A constatação aponta o Posto J. Pinto Ltda., por exemplo, para qual o comprovante de despesas e a autorização de fornecimento de combustível possuem a mesma caligrafia.

A ETURB nasceu para prestar serviços de transportes coletivos urbanos na cidade de Maceió, mas os auditores encontraram o pagamento de várias diárias contendo deslocamento de funcionários ao interior do Estado. Na política de pessoal, o Governo Collor demonstrou também ser mau patrão para os funcionários da ETURB. A auditoria do TC/AL confirma que apenas algumas pessoas foram beneficiadas pela concessão dos gatilhos salariais. Por conta disso há, na justiça do Trabalho, 140 processos movidos contra a ETURB.

Compra de Ônibus

O lance mais esquisito ocorreu na aquisição de 15 ônibus em outubro de 88. Maceió vivia véspera de eleição e os novos membros da frota da ETURB até serviram para promover o candidato a prefeito apoiado pelo Palácio dos Martírios, o deputado Renan Calheiros. Através da ação do ex-secretário Augusto césar Farias, o superintendente da ETURB, José Márcio Cavalcante, conseguiu a dispensa de licitação como aconteceu em todos os atos comerciais praticados pela ETURB. A prova está na auditoria. A negociação foi fechada diretamente com Alagoas Diesel S/A, no valor de mais 704 milhões de cruzados antigos. “A forma de pagamento dos ônibus é absolutamente estranha na administração pública”, afirma o deputado João Neto. Enquanto durar o débito, a firma irá reter parcelas de ICMS, bem como outra interveniente, a Arapiraca Diesel S/A. “Esse mecanismo é fraudulento porque não está presente no Código Tributário“, afirma o deputado. “É mais um caso de evasão de rendas da máquina fazendária estadual”, completou.

No relatório do TC/AL, os auditores observam que o ICMS recolhido obrigatoriamente até o dia 20 de cada mês, vem sendo processado, no caso da Alagoas Diesel S/A, sempre a partir do dia 25. A cobrança de juros pelos dias excedentes recai nas costas da ETURB e a empresa retém a parcela normalmente. Para os fiscais de renda, isso se chama sonegação.
A auditoria que o deputado João Neto solicitou nasceu da decisão do ex-secretário Augusto César Farias de não fornecer as informações para o encaminhamento dos trabalhos da “CPI da ETURB”. Apontando 12 irregularidades em suas disposições gerais, o relatório tem uma conclusão que bem dimensiona o governo de Collor de Mello na administração de empresas públicas. “Solicitamos vênia para sugerir a esta colenda Corte de Contas, advertir a Superintendência da Eturb e o Governo do Estado sobre a instabilidade patrimonial da empresa”.

Veja a constatação da auditoria do Tribunal de Contas de Alagoas

Em função do pedido feito pelo deputado João Neto e aprovado na Assembléia Legislativa Estadual, o Tribunal de Contas de Alagoas realizou, entre os meses de maio e junho passados, uma minuciosa auditoria na Empresa de Transportes Urbanos – ETURB. O resultado é um verdadeiro engarrafamento de irregularidades. A investigação efetuada pelo TC/AL revela com documentos mais amontoado de contradições entre o discurso austero e moralizador do ex-governador Fernando Collor e os atos praticados nos dois últimos anos de sua administração em Alagoas e reconhece os principais pontos do relatório da Diretoria de Fiscalização das Autarquias, Sociedades de Economia Mista e Fundações do TC/AL, concluído em junho de 1989.

Lançamento Bancário

O balanço patrimonial encerrado em 31/12/88 acusou no Caixa Geral o valor de Cz$23.707.868,00, mas o termo de verificação de caixa não foi encontrado com o lançamento. Estranho para os auditores foi encontrar, 30 dias antes, no Caixa Geral e nas contas existentes no Produban e Banco Econômico, um saldo credor de Cz$249.031.488,21. No dia primeiro de dezembro deste ano os saldos já apareceram devedores através de estornos por lançamentos indevidos.

Aplicações Financeiras

A ETURB aplicou, entre setembro e outubro de 88, no mercado de capital. O rendimento atingiu Cz$1.350.091,80. Entretanto, só foi contabilizado em balanço Cz$1.051.355,00. Houve uma “omissão de receita” no valor de Cz$ 298.736,80 comprovada por extratos bancários.

Dinheiro Adiantado

Não existe processo formalizando o adiantamento financeiro. Mesmo assim, foram fornecidos cheques de 300 e 500 mil cruzados antigos ao chefe de compras. A auditoria do TC/AL não encontrou nenhuma prestação de contas legal. Algumas destas despesas foram feitas na compra de peças à Alagoas Diesel S/A.

Tesouraria da ETURB

A auditoria constatou a realização de coleta diária de dois turnos. Oito funcionários trabalhando, quatro em cada turno, ininterruptamente, de domingo a domingo. O encarregado da arrecadação arrecada, controla, elabora quadros e faz a movimentação bancária, além de sacar cheques. O quadro é caótico.

Recursos Humanos

Até meados deste ano, a ETURB possuía 1.467 funcionários e a rotatividade no emprego é significativa. Os aumentos decorrentes da URP foram concedidos para todos. Isso não ocorreu com os gatilhos salariais. Apenas alguns foram beneficiados. Na Justiça do Trabalho há 140 processos de ações trabalhistas movidas contra a ETURB. A Seção de Pessoal da empresa está abandonada. Não existe arquivo, os livros de ponto estão no chão. Há um amontoado de caixas contendo a vida funcional dos trabalhadores. Nesse setor foram roubadas cinco máquinas de calcular. Chamaram a polícia, mas não abriram o inquérito administrativo.

O Almoxarifado

Não há controle rígido de entrada e saída de peças, acessórios e outros materiais de reposição. O local oferece riscos variados. Não existe estoque de material de expediente. As compras são procedidas de acordo com as necessidades, sem nenhum critério.

Obrigações Sociais

A ETURB não vem recolhendo com regularidade o valor devido ao IAPAS. No balanço patrimonial há uma dívida de Cz$432.805.724,51. Em março passado, foi firmado um acordo entre o INPS e a ETURB para pagar a dívida em 120 parcelas com juros, correções monetárias e multas. A empresa não recolhe o FGTS desde a época do Grupo Monteiro.

Sem Licitação

Durante 88 não houve nenhuma licitação, entretanto, ocorreram diversas compras de valores altos. Até venda de sucatas de ônibus, a ETURB não providenciou a realização de leilão. Aos auditores não foi apresentado nenhum documento que desse cunho legal às vendas, como determina o decreto 2.300/86.

Compra de Combustíveis

O encarregado do setor de estoque informou aos auditores que não existe “controle confiável”, tanto na recepção como no momento do abastecimento dos ônibus. O controle de qualidade inexiste. O controle de entrada e saída de óleo diesel possui “valores fictícios”. A ETURB adquire o combustível da firma L. C. Pessoa/Posto Floresta. Essa firma recebe o pagamento rigorosamente 12 dias após a entrega do produto. Na Petrobrás a dívida da ETURB era em dezembro de 88 de Cz$51.252.171,05.
Erros em Notas Fiscais

Além de diversas notas fiscais emitidas pela Alagoas Diesel S/A preenchidas manualmente foi visto em grafite: “Colocar o preço”. As notas emitidas pelo Posto J. Pinto Ltda. Apresentaram um fato esquisito: tanto o comprovante de despesa quanto a autorização de fornecimento emitida pela ETURB foram preenchidas com a mesma caligrafia, como atestam as notas fiscais 6746 e 5734.

Compras de Ônibus

O processo de compra de 15 ônibus teve início em outubro de 88. A Procuradoria Geral do Estado dispensou a licitação. O preço foi de Cz$704.458.977,00. O contrato foi celebrado com a Alagoas Diesel S/A e o pagamento passou a ser feito pela “retenção de ICMS da firma vendedora e sua interveniente, Arapiraca Diesel”.

A auditoria observou que o ICMS tem que ser recolhido até o dia 20 de cada mês. No caso da Alagoas Diesel S/A a retenção estava ocorrendo a partir do dia 25. E o curioso: a ETURB paga o juro desses dias e a Alagoas Diesel paga o ICMS normal.

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Na próxima semana, publicaremos o Quarto Capítulo, com destaque para a matéria da repórter Celeste Marques, sobre os 150 anos de Maceió. Publicada na revista Última Palavra, a reportagem traça um perfil da nossa capital a partir da visão de um dos nossos melhores arquitetos: Mário Aluísio. Olhe o que ele disse sobre a capital da Terra dos Marechais: “É como uma prostituta. A cidade se tornou fonte de barganha política”.

QUARTO CAPÍTULO

A capital de Alagoas completava 150 anos, no dia 9 de dezembro de 1989, e a revista Última Palavra já estava nas bancas, com a matéria premiada da repórter Celeste Marques, descortinando o sesquicentenário da nossa querida Maceió. Para ajudar a traçar o perfil da cidade, naquele momento, Celeste ouviu, entre outros estudiosos, os arquitetos Mário Aloísio e Alex Barbosa. Olha o que eles disseram: “A cidade se tornou fonte de barganha política” e “A loucura tomou conta do belo”. Nada mais atual. Boa leitura:

Informação Cultural
Repórter: Celeste Marques
Veículo: Última Palavra (Ed.94-8 a 14/12/89)

Maceió, 150 anos
“É como uma prostituta. A cidade se tornou fonte de barganha política” (Arquiteto Mário Aloísio)

A cidade de Maceió comemora neste sábado, dia 9, dois fatos importantes. Na mesma data, há 150 anos, Maceió era elevada a condição de cidade e tornava-se a capital província, tomando o lugar até então ocupado por Alagoas, hoje denominada de Marechal Deodoro em homenagem ao alagoano que proclamou a República. Ao completar 150 anos a capital do Estado de Alagoas apresenta um perfil bem distanciado da capital de província. Atualmente se sobressaem os problemas das cidades médias brasileiras, cujo crescimento desordenado agride a paisagem e provoca transtornos frequentes para os seus habitantes.

A Maceió do sesquicentenário é uma cidade criticada e condenada, do ponto de vista do planejamento, por todos os profissionais que lidam com a arquitetura e urbanismo. As questões ambientais foram relevadas para ceder espaço para os interesses econômicos. “É como uma prostituta; a cidade se tornou fonte de barganha política”, acusa o arquiteto Mário Aloísio Barreto Melo, para quem a capital alagoana não se preparou para a nova era e somente agora, às portas do século XXI, conquistou um Plano Diretor que irá começar a definir o seu crescimento.

Sem possuir nenhuma tradição em planejamento, Maceió sofreu nos últimos 20 anos o impacto do êxodo rural, em decorrência do desenvolvimento da indústria canavieira, e hoje Mário Aloísio acha que ela vive de uma fachada, formada pela paisagem natural lindíssima. “As transformações nesse período foram muito grandes e na Pajuçara de onde o pescador foi expulso, menos de 300 metros depois da orla, já se encontram as marcas do descaso das administrações municipais”.

Apenas 20 anos atrás, a classe média de Maceió fazia os passeios com gosto de aventura para a área do Gogó da Ema, para Trapiche e a Jatiúca era uma grande área de fazenda. A invasão da cana, que transformou a estrutura fundiária do Estado propiciando a formação dos grandes latifúndios alterou o perfil da cidade, as favelas proliferaram e surgiu a figura do novo rico, sem nenhuma tradição cultural. A agroindústria açucareira, que permitiu a geração de riquezas nas mãos de umas poucas famílias, não trouxe benefícios diretos para a cidade. O arquiteto diz que não houve qualquer preocupação com a troca e não há em Maceió nenhuma obra dos usineiros, que também não mantêm entidade cultural, como museu, uma fundação, etc.

Depois de 150 anos, Maceió continua a cumprir o seu destino de cidade loteada de acordo com os interesses econômicos e de concentração de poder político. Atualmente, desumana, favelada e desorganizada, ela “é o reflexo de todas as tensões dos que a habitam”, ainda de acordo com Mário Aloísio. A última obra viária foi realizada há doze anos, na gestão do então prefeito Dilton Simões, que construiu a avenida Leste-Oeste, mas sabe-se, por outro lado, que as prefeituras, de um modo geral, gastam 40% do orçamento em obras dessa natureza, para atender a uma parcela da população que possui automóveis.

Divisão Eleitoreira

“A loucura tomou conta do belo”, definiu em entrevista à ÚLTIMA PALAVRA, o arquiteto Alex Barbosa, depois de cumprir um roteiro de visitas a todos os bairros da cidade. O mau gosto de construções modernas, como o Alagoas Iate Clube (Alagoinha), a abusiva propaganda através de “out-doors”, e a ganância desenfreada das empresas de imóveis e dos incorporadores da construção civil, foram duramente criticados por Alex Barbosa, dono de uma série de propostas para alterar o perfil da cidade, harmonizando-o com a paisagem natural e as necessidades de conforto da população.

Na troca de favores que garantirão a manutenção do poder nas mãos do grupo dominantes, Maceió tem perdido sempre. Em muitos bairros, são fartos os exemplos de áreas verdes e praças que cederam lugar a prédios públicos ou até mesmo a particulares. O bairro de Mangabeiras, por exemplo, perdeu a única praça que possuía. O terreno foi cedido para a construção de um clube de sargentos da Polícia Militar. E como era grande a área, o clube trocou com uma construtora, uma parte suficiente para edificar um prédio de apartamentos, pela construção da piscina, onde divertem-se nos finais de semana.

Todos os centros sociais urbanos dos bairros também ocuparam áreas que seriam de parques e a Escola Montessoriana, na Gruta de Lourdes, foi implantada pelos proprietários na área verde existente no bairro. Na orla marítima, o projeto original foi totalmente deturpado, com a colocação de mais barracas, provocaram, dias atrás, o pedido de demissão do secretário Marcos Vieira, da Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano.

O absurdo da política de ocupação dos espaços de Maceió é exemplificada na Praça do Centenário, no Farol, onde está clara a tendência para se transformar em mercado público, dado ao número de barracas para venda de sorvetes, revistas, frutas e lanches, e até mesmo móveis que estão ali instaladas. O remédio para todos os males de Maceió e das demais cidades, cujos interesses são sufocados pela necessidade da troca de agressões por votos, não é difícil, mas demandará tempo. Na essência dessa solução estará a educação do povo e a sua organização, que propiciarão o encaminhamento das reivindicações e a cobrança de uma política urbana coerente com as necessidades de bem-estar dos habitantes. Com a população organizada, certamente Maceió não teria permitido que seu Plano Diretor Urbano passasse mais de doze anos engavetado, enquanto a especulação a loteava e desfigurava.

Origem foi com a pesca e não os engenhos de açúcar

A história de Maceió remonta XVII e sua origem, a despeito das afirmações dos antigos historiadores, está ligada à atividade da pesca e não aos engenhos de produção de açúcar. A nova versão para a origem de Maceió foi detectada pelo historiador Moacir Santana, que encontrou na década passada documento esclarecedor. Até então, acreditava-se que Maceió “nasceu espúria a cidade, no páteo de um engenho colonial, sem ascendência conhecida e assentamento autorizado nas crônicas do período histórico da luta pelo domínio do gentio e conquista da terra”, como escreveu o historiador Craveiro Costa.

O documento, localizado pelo professor Moacir Santana, era o testamento do capitão Apolinário Fernandes Padilha, dono do engenho a que se referiu Craveiro Costa. Nele, o capitão declarava que havia construído o engenho no local que hoje é ocupado pela Assembleia Legislativa, na Praça Dom Pedro II, por volta de 1708. Ali, ele plantou cana “em terras apauladas” e por “duas primaveras” moeu, mas só produziu açúcar retame (quimicamente invertido), com o baixo teor de sacarose. Depois disso, o engenho foi desmontado e vendido, o que prova que não foi a cana o sustentáculo econômico da povoação. Mas, a prova conclusiva de que a Vila de Maceió existia antes do engenho é também fornecida pelo testamento do capitão Apolinário, que o datou da Capela de Nossa Senhora dos Prazeres e São Gonçalo. Moacir Santana diz que a capela de Nossa Senhora dos Prazeres é anterior ao engenho, já que o capitão mandava celebrar missas para os seus santos de devoção, nos quais não estava incluída a Nossa Senhora, que foi apenas incorporada.

Maceió teria então sido povoada por pescadores, que se aproveitavam dos benefícios das enseadas de Jaraguá e Pajuçara. Documentos dos séculos XVII e XVIII, inclusive, já apontam a importância do ponto de Jaraguá. O historiador relata ainda que desde a primeira metade do século XVIII mercadorias dos vales de Mundaú e Manguaba (madeira, algodão, etc.) escoavam para Maceió através dos canais da Lagoa no Trapiche, de onde seguia para o porto de Jaraguá e em 1868 funcionava uma linha férrea ligando Jaraguá ao Trapiche. Nessa época também já existia Companhia de Navegação Vapor Mundaú e Manguaba.

Em 1815, a despeito da capital da província continuar sendo Alagoas, Maceió ganhou as prerrogativas de vila, cuja instalação se deu efetivamente em 1816, quando a povoação reuniu as condições para torna-se vila, já que tinha pelourinho, casa da câmara, cadeia e capela. Já então, o porto era tão importante que firmas inglesas vindas da Bahia estavam radicadas em Maceió e não em Alagoas. “A colônia inglesa chegou a ser tão importante em Maceió que construíram um cemitério para os ingleses”, relata Moacir Santana, forçando o papel preponderante exercido por eles na mudança da capital para Maceió.

Posição geográfica influi na transferência da capital

A elevação de Maceió à categoria de cidade e simultânea transferência da capital ocorreu em 9 de dezembro de 1839, por força da Resolução Legislativa número 11, quando governava a província Agostinho da Silva Neto. A transferência da capital e os motivos políticos e econômicos dessa decisão foram amplamente estudados pelo professor Theodyr Augusto de Barros, da cadeira de Antiguidade Oriental e Clássica, da Universidade Federal de Alagoas.

O trabalho do pesquisador foi a sua tese de mestrado e ele pretende agora publicar, sob o título “Maceió – A nova capital 1819/1859”. Nas suas conclusões, o professor garante que o Brasil, a partir de 1822, depois da independência política de Portugal, continuou a vincular-se economicamente à Inglaterra, que teve grande poder de pressão para a transferência da capital.

“A cidade das Alagoas, (Marechal Deodoro), apesar de haver sediado por muito tempo o centro político provincial, veio a ser preterida pela vila marítima, que pela posição geográfica e possibilidades econômicas, atingiu a categoria de Capital da Província”, relata o professor, enfocando a importância das questões econômicas para a emancipação da cidade, em razão da proximidade e os frequentes alagamentos provocados pelas lagoas dificultavam o escoamento da produção por Alagoas.
Essa superioridade do ponto de vista econômico e geográfico de Maceió sobre a antiga capital, aliás, já havia sido identificada pelo primeiro governador da Capitania de Alagoas, seguiu para Maceió e aqui fixou sua residência.

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No quinto capítulo publicaremos, na íntegra, mais duas matérias premiadas na primeira edição do Prêmio Salgema de Jornalismo, em 1990. Uma sobre os casos de Aids no País, assinada pelo repórter Carlos Roberto Pereira; e outra sobre o fiasco da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1990, assinada pelo repórter Raimundo Nonato. Ambas publicadas no Jornal de Alagoas.

QUINTO CAPÍTULO

Informação Científica
Repórter: Carlos Roberto Pereira
Veículo: Jornal de Alagoas (21/11/89)
Casos de Aids no País superam 9 mil

O número de doente de Aids no Brasil superou um pouco as perspectivas do Ministério da Saúde, fechando o mês de outubro com 9.003 casos. A marca de nove mil casos era prevista apenas para o mês de dezembro, mas, o avanço um pouco maior não chegou a comprometer as estatísticas do Ministério. No Brasil, segundo suas previsões, a média mensal é de 600 casos, e o crescimento da doença deve permanecer ainda durante 6 anos. A faixa etária mais atingida está entre 19 e 45 anos, e cresce com maior força agora a incidência entre zero e cinco anos. Esse balanço foi divulgado ontem pela diretora da Divisão Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e de Aids, Lair Guerra de Macedo Rodrigues, que se encontra em Maceió participando da 4ª reunião de avaliação de programas estaduais de DST e Aids, no Hotel Ponta Verde. Segundo ela, apesar dos nove mil casos brasileiros serem bastante preocupantes, são as pessoas infectadas e que ainda não manifestam a doença o maior problema para o combate à Aids no País.

Os nove mil casos de Aids no Brasil já o coloca mundialmente em 2º lugar em números absolutos de doentes. Em relação aos portadores do vírus, que ainda não manifestaram a doença, não existem números precisos e nem estimativas seguras de quantos estão infectados. De acordo com Lair Guerra, o 2º lugar que o Brasil ocupa em relação ao número de casos não tem muita importância, porque essa colocação se dá também devido ao número da população, que, se comparada proporcionalmente com a de outros países, leva o Brasil próximo a 40ª colocação.

“O mais importante é evitar novas transmissões da doença, o que não vem sendo fácil, porque a prevenção e o combate à Aids dependem do nível de educação e de conscientização do povo brasileiro. As campanhas de prevenção continuam sendo feitas com as pessoas em geral e com os indivíduos com maior probabilidade de se infectarem” completa.

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Informação Esportiva
Repórter: Raimundo Nonato
Veículo: Jornal de Alagoas (08/07/90)
Brasil perde mais um título por teimosia e incompetência

A seleção brasileira perdeu mais uma Copa do Mundo e agora até a próxima nos Estados Unidos, em 1994, são nada menos do que 24 anos sem saber o que é um título de tamanha importância. O país se preparou, se enfeitou, sonhou e até houve um momento em que se chegou a acreditar verdadeiramente nas possibilidades do time de Sebastião Lazaroni, com base na mediocridade da maioria das seleções que estavam nessa competição. Até fizeram músicas para alegrar um Carnaval que não houve, onde um dos versos de uma delas dizia: “São 20 anos esquentando a massa sem erguer a taça”.

Só que a seleção brasileira de Sebastião Lazaroni mudou as suas características, passou a jogar com medo dos adversários quando anteriormente a situação era justamente o inverso. Eles tinham medo da gente. Não adianta argumentar que o futebol mudou e o tipo de jogo da seleção brasileira teria que mudar. Acabou o futebol-alegria, morreu o futebol-arte, os jogadores ficaram tolhidos pelo esquema defensivo de um técnico teimoso e esse detalhe foi fatal para levar a seleção brasileira a ser eliminada do Mundial.
Por sinal, no único jogo em que não poderia perder, diante de uma Argentina totalmente dominada, medíocre, mas bafejada pela sorte. Essa mesma Argentina que mais uma vez decide um Mundial, e pode se igualar ao Brasil e Itália em número de títulos conquistados. Ela ou a Alemanha Ocidental, sua adversária, repetindo assim o que aconteceu na Copa anterior, na cidade do México.

Os erros começaram na convocação, quando foram cometidas injustiças contra determinados jogadores para beneficiar alguns que interessavam a empresários e poderiam render alguns milhões de dólares, como forma de compensação. A estrutura atual tem que mudar e o presidente Ricardo Teixeira está consciente disso. Tanto é assim que, no seu retorno ao Brasil, definirá logo o treinador e outros componentes da Comissão para um trabalho a longo prazo, objetivando os Estados Unidos, em 1994.

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SEXTO CAPÍTULO

Neste capítulo, publicamos na íntegra mais um trecho do livro “Memória do Prêmio Salgema de Josrnalismo”, com a relação dos vencedores e suas matérias premiadas na segunda edição do premio, em 1991. Pela primeira vez, uma série de fotos, de autoria do jornalista Adailson Calheiros, conquista o troféu do Grande Prêmio, superando todas as demais modalidades. Feito inédito e jamais repetido por outro repórter-fotográfico, ao logo dos 30 anos da premiação.

Veja a seguir a relação dos vencedores e suas matérias, na íntegra.

1991
II Prêmio Salgema de Jornalismo

Fotógrafo: Adailson Calheiros
Categoria: Fotografia
Título: “Assaltantes são fuzilados”
Veículo: Jornal de Alagoas (09/01/91)

INFORMAÇÃO POLÍTICA
Repórter: Ricardo Castro
Título: “Escândalo das nomeações na Assembléia”
Veículo: Jornal Tribuna de Alagoas (17/02 a 24/02/91)

INFORMAÇÃO ECONÔMICA
Repórter: Carlos Roberto Pereira Leite
Título: “Maceió ganhará duas novas indústrias já em setembro”.
Veículo: Jornal de Alagoas (17/07/1991)

REPORTAGEM
Repórter: Marcelo Firmino e Arnaldo Ferreira
Título: “Alclor contamina lençol freático e pode causar tragédia ecológica no PCA”.
Veículo: Gazeta de Alagoas (14/04/91)

INFORMAÇÃO CULTURAL
Repórter: Dênis Agra
Título: “Uma vida de amor e festa pelo folclore”.
Veículo: Folha Miguelense (Dez/90)

INFORMAÇÃO CIENTÍFICA OU TECNOLÓGICA
Repórter: Marcelo Firmino
Título: “Governador atropela setor de pesquisas”
Veículo: Gazeta de Alagoas (28/07/91)

INFORMAÇÃO TURÍSTICA
Repórter: Dênis Agra
Título: “Novo Caminho para o Turismo”. (*)
Veículo: Folha Miguelense.

VIDEO – REPORTAGEM
Repórter: Marinete Souza de Barros
Título: “Acidente no Porto”
Veículo: TV Alagoas

FOTOGRAFIA
Fotógrafo: Gilberto Farias
Título: “Depredação de ônibus”
Veículo: Gazeta de Alagoas (22/02/91)

INFORMAÇÃO ESPORTIVA
Repórter: José Machado
Título: “Com as pernas de Santana Alagoas corre o mundo e conquista títulos”.
Veículo: Jornal de Hoje (29/07/91)

CHARGE
Chargista: Nunes Lima
Veículo: Jornal A Voz do Jornalista.
(*) Não foi possível localizar esta reportagem.

MATÉRIAS PREMIADAS

Fotografia – II Prêmio Salgema de Jornalismo
Fotógrafo: Adailson Calheiros
Veículo: Jornal de Alagoas (09/01/91)

Assaltantes são fuzilados

Os ladrões Mário Fernandes Batista de Jesus, 33 anos, e Hernandes José do Nascimento, 43 anos, foram assassinados por dez homens mascarados que os arrancaram de uma viatura de polícia quando passava no bairro de Santa Lúcia. Os mascarados renderam os quatro agentes policiais que estavam conduzindo os marginais. O fuzilamento foi feito ali mesmo, a luz do dia, provocando pânico entre os moradores do bairro. Todo desenrolar da matança foi registrado pelo fotógrafo Adailson Calheiros, do JORNAL DE ALAGOAS. Na fuga os moradores esmagaram o cadáver do marginal Mário Fernandes com os pneus da caminhonete com placa de Pernambuco.

(Trecho extraído da chamada de primeira página da matéria do repórter Jeferson Morais, a qual foi ilustrada com as fotos vencedoras do II Prêmio Salgema de Jornalismo).

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Escândalo das nomeações na Assembléia

Maracutaia da Assembléia pode ir à Justiça

O deputado Cícero Amélio (PTR) anunciou, na abertura dos trabalhos legislativos na última sexta-feira, que vai entrar na Justiça com uma ação popular para revogar as contratações ilegais de funcionários feitas pela Mesa Diretora anterior. Ele classificou o episódio de “verdadeira maracutaia” e grave violação à Constituição Estadual.

Para essa ação, destacou o parlamentar, “contaremos com o apoio de toda a sociedade, que não aceita a efetivação de funcionários públicos sem a realização de concurso, como exige a nossa Constituição. Considero essas contratações uma imoralidade e defendo que todos nós, deputados, façamos uma revisão de todos os atos em questão”.

– A nova Mesa Diretora – disse Amélio – já tomou conhecimento dessa “Maracutaia” que foi praticada por alguns deputados e ex-deputados, e por isso acho que deve apura-la com todo o rigor que merece. Temos que merecer a credibilidade do povo alagoano, pois, se não adotarmos nenhuma providência, a sociedade terá o direito de nos condenar também e nos acusar de conivência.

Quem também se posicionou contrário às contratações irregulares praticadas pela diretoria passada da Assembléia Legislativa, foi o deputado Francisco Porcino (PTR), o mais votado nas últimas eleições. Afirmando que em todos os cargos que exerceu nunca tirou proveito para empregar ninguém a título de auferir retorno, lembrou que, no ano passado, quando assumiu uma cadeira na Assembléia, nomeou seus assessores, mas não participou de qualquer efetivação funcional. Praticar empreguismo – disse Porcino – não faz parte de minha linha de trabalho. Fui eleito várias vezes, por exemplo, presidente de entidades do comércio alagoano, mas nunca pratiquei qualquer ato imoral e por isso hoje posso cobrar moralização na Assembléia Legislativa.

Ele não demonstrou disposição igual a de seu colega de partido Cícero Amélio, de ir à Justiça com uma ação popular para sustar as contratações. Mas admitiu que estará receptivo a qualquer medida que seja tomada no sentido de apurar as circunstâncias em que as efetivações de assessores aconteceram na legislatura passada, e, constatada irregularidade, sustar todas.

Já o deputado Temóteo Correa, também do PTR, disse que vai esperar a decisão ou encaminhamento da Mesa Diretora até a próxima semana, na expectativa de que “alguma providência seja tomada e as denúncias veiculadas pela imprensa, de que houve irregularidades neste Poder, sejam detalhadamente esclarecidas”.

Em sua opinião, “se as denúncias forem verídicas” a Constituição estará sendo desrespeitada e nesse caso o papel do legislador exige providências. Deixou transparecer que se até o final da próxima semana nenhuma medida for adotada pela Mesa Diretora, fará uma cobrança do plenário da Casa. Mas é muito possível que isso não seja necessário. Pelo menos se o deputado Talvane Albuquerque (PTR) cumprir o que prometeu logo após sua pose: solicitar oficialmente um esclarecimento da Mesa Diretora sobre as denúncias de efetivação de assessores de deputados da legislatura anterior. Para ele a situação depõe contra os atuais legisladores “e não podemos ser condenados sem culpa”.

Não disse, porém, o dia em que fará a solicitação, embora implicitamente se entenda que deva ser já nessa segunda-feira, quando começam os trabalhos parlamentares propriamente ditos.

Jota: “demos benefícios à quem trabalha”

O deputado Jota Duarte (PTB), presidente da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa passada, disse desconhecer qualquer ato de efetivação ou contratação de assessores de deputados ou terceiros durante sua gestão. “O que houve – disse, referindo-se as centenas de números de matrículas publicadas no mês passado no Diário Oficial – foram medidas com o objetivo de melhor o nível funcional de muitos funcionários, principalmente os que trabalham”. Não explicou, no entanto, porque a omissão dos nomes desses servidores “beneficiados”.

O presidente em exercício da Assembléia, Manoel Lins Pinheiro, disse também não ter conhecimento de qualquer caso de contratação ou efetivação. Para ele, as denúncias veiculadas na imprensa partem de pessoas interessadas em “tumultuar os trabalhos”, e que “não apresentaram até agora nenhum documento provando nada”.

O governador Moacir Andrade concorda com a proposta do presidente da Assembléia, Oscar Fontes, de que parte dos funcionários da Assembléia Legislativa, notadamente os que residem no interior e não comparecem ao trabalho – exceto para apanhar o contra-cheque – seja absorvida pelo Governo do Estado ou Municípios. Ele se dispôs inclusive a acompanhar os deputados e pedir essa participação dos prefeitos, mediante firmação de convênios com a Assembléia. Consiste numa espécie de premiação aos que não trabalham nem produzem.

Amélio: “Vou à Justiça contra esses abusos”

Na Assembléia Legislativa entre os deputados em primeiro mandato, existe uma total insatisfação com os atos irregulares de nomeações realizados ao apagar das luzes da administração anterior daquele Poder Legislativo. “É uma maracutaia o que foi feito nesta Casa”, disse por exemplo o deputado Cícero Amélio que não só defende uma apuração do caso como ele merece, como também pretende recorrer à Justiça com uma ação popular para retroceder a imoralidade.

“Praticar empreguismo não faz parte da minha linha política de trabalho”, disse o deputado Francisco Porcino com um reforço: “nunca pratiquei um ato imoral e por isso hoje eu posso cobrar moralização na Assembléia Legislativa”.

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Informação Econômica
Repórter: Carlos Roberto Pereira Leite
Veículo: Jornal de Alagoas (17/07/91)

Maceió ganhará duas novas indústrias já em setembro

Demorou, mas afinal Maceió vai entrar a partir deste ano na era da indústria de tecnologia de ponta, com a instalação, a começar de agosto e setembro, de duas grandes empresas, no Distrito Industrial Luiz Cavalcante. A primeira delas é a Plasvale, fabricante de utensílios domésticos, que lança pedra fundamental em agosto. A segunda é a indústria de Lentes Oftálmicas do Brasil (Ilabrás-S.A), que começa a construir seu parque industrial em setembro.

A Plasvale é uma empresa do grupo “Lince”, que produz, em outros ramos industriais, as linhas Círculo e os cristais Hering. Numa holding de cinco empresas, o faturamento mensal do grupo gira em torno de oito milhões de dólares. A Plasvale foi responsável em maio por 32% desse faturamento e irá ampliar sua produção na capital alagoana. É a primeira indústria do porte no Estado e vai gerar inicialmente 750 empregos diretos.

Com sede em Santa Catarina e tendo como principal acionista o empresário Leopoldo Adolfo Schmalz, o grupo “Lince” se interessou em investir em Maceió depois de contatos feitos com a Secretaria da Indústria e do Comércio, através do diretor-superintendente Francisco José Maestri. De acordo com o chefe de gabinete da Secretaria, Nilton José Moura Bittar, a chegada da Plasvale, de grande significado econômico e social para Alagoas, dá-se em interesses secundários, como por exemplo, facilidades fiscais fornecidas pelo Estado. “O grupo vem para Maceió porque está interessado em produzir aqui”, afirma.

Mas o interesse da Plasvale, da Ilabrás e de outras indústrias de tecnologia de ponta que ainda deverão surgir, está sendo aguçado por um excelente pacote de incentivo fiscal, segundo admite o chefe de gabinete e o diretor-presidente da Ilabrás-S.A., Leonardo Barbosa. O incentivo é a isenção de impostos, inclusive do ICMS, durante sete anos, sendo 70% no primeiro ano, 60% no segundo, 50% no terceiro e daí por diante. A Ilabrás-SA também terá, além do incentivo fiscal do Estado e do apoio político da Secretaria da Industria e do Comércio, financiamento para parte da obra, oriundo da Sudene, do Produban e do Banco do Nordeste do Brasil.

Ilabrás terá 300 vagas

A indústria de Lentes Oftálmicas (Ilabrás-S/A) será em Alagoas a maior empresa do setor na América Latina e está entre as cinco maiores do mundo. A sua produção está estimada em quatro milhões de pares de lentes por ano e vai gerar, inicialmente, cerca de 300 empregos diretos. Ela trabalha com 70% de material importado e 30% de material nacional, e sua produção é destinada ao mercado nacional e internacional. Ocupará uma área de dois hectares no Distrito Industrial Luiz Cavalcante, onde investirá 8,5 milhões de dólares.
O diretor-presidente da empresa, Leonardo Barbosa, e o diretor-administrativo, Edivan Rocha asseguram ainda que haverá na Ilabrás-Maceió uma linha de produção para gerar empregos para jovens carentes, além de aprendizado técnico-industrial, para a formação de mão-de-obra qualificada. Mesmo com os incentivos fiscais iniciais fornecidos pelo Estado, a Ilabrás e a Plasvale, segunda empresa de ponta a ser instalada, propiciarão aos cofres estaduais excelente volume de recursos provenientes de ICMS, logo nos primeiros anos, e a, médio prazo, quando o ICMS for recolhido integralmente, serão ao lado do Pólo Cloroquímico, a redenção do Estado no recolhimento de impostos.

As boas novas da implantação dessas duas indústrias e a possibilidade do interesse de outras indústrias de ponta pela implantação de parques industriais em Alagoas, está deixando, com justiça, muito satisfeito e orgulhoso o secretário da Indústria e do Comércio, Eraldo Malta. De acordo com o seu chefe de gabinete, Nilton Bittar, o secretário tem trabalhado em todos os sentidos para trazer para Alagoas esses investimentos, que, na prática, significam a abertura do Estado para uma indústria arrojante, moderna e muito lucrativa.

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Reportagem
Repórteres: Marcelo Firmino e Arnaldo Ferreira
Veículo: Gazeta de Alagoas (14/04/91)

Alclor contamina lençol freático e pode causar tragédia ecológica no PCA

Alagoas vive hoje uma situação nova e grave na área de meio ambiente. Um vazamento de organoclorados no sistema de tratamento da Alclor infiltrou-se no solo e atingiu o lençol freático no tabuleiro de Marechal Deodoro, contaminando de imediato dois poços de abastecimento de água, sendo um da própria empresa e outro da sua vizinha, a CPC.
A contaminação formou uma pluma no lençol freático e se não for tratada a tempo pode contaminar as nascentes do rio dos Remédios. Esta é a conclusão a que chegaram os técnicos contratados pela empresa e é também a avaliação que fazem os técnicos do Instituto do Meio Ambiente. O mais grave é que o acidente ocorreu há seis meses e as empresas esconderam o fato da população e até dos operários. Só depois que muitos estavam apresentando problemas de saúde é de que as providências começaram a ser tomadas. Mas, aí já se passaram seis meses.

Uma empresa de consultoria alemã foi contratada pela Salgema – empresa que mantém o controle acionário da Alclor. O parecer emitido pelo consultor sugeriu o monitoramento de toda a área e a construção de bateria de poços na área do PCA para se fazer sucção da área contaminada. Depois de seis meses, é que está sendo feita a licitação para contratar a firma que vai perfurar os poços, segundo constatou o ex-presidente do IMA, Gabriel Campana.

O mais grave nessa história é que o IMA silenciou diante do fato e o Conselho Estadual de Proteção Ambiental não se reuniu para analisar a gravidade do caso. Se eles não fizeram nada disso muito menos o Ibama se manifestou, apesar de também ter ciência do problema.

Isso, aliás, foi o que revoltou o vereador Marcus Vasconcelos na Câmara Municipal de Maceió, levando-o a requerer as presenças do presidente da Salgema, José Antonio Martinez, e dos representantes do IMA e Ibama para que deponham sobre a contaminação, em plenário, na próxima terça-feira. Há informações técnicas de que a contaminação por organoclorados pode, inclusive, gerar câncer.

Com o lençol freático contaminado, sabe-se que toda área do complexo lagunar está ameaçada. E se a contaminação atinge as nascentes do rio dos Remédios, certamente esta terra viverá uma verdadeira tragédia ecológica, sobretudo porque o rio é considerado o pulmão da lagoa Mundaú e abastece Coqueiro Seco e vários povoados da região.

IMA sabia do acidente e ficou em silêncio

O vazamento de organoclorados em duas bacias da Alclor era do conhecimento restrito da direção das indústrias do Pólo Cloroquímico , que desde outubro do ano passado fazem consultas a instituições internacionais e do próprio Instituto Estadual do Meio Ambiente. Mas, até então, o problema vinha sendo tratado com sigilo, sob a alegação de que poderia causar pânico na população. Depois de muita especulação sobre o vazamento o IMA decidiu assumir o acidente e, também, não esconder mais o problema. No final da tarde da última quinta-feira, o presidente em exercício do Instituto do Meio Ambiente, também diretor técnico do órgão Gabriel Campana Filho, confirmou: “realmente houve o acidente na área de tratamento de produtos organoclorados. O lençol freático da área restrita ao Pólo está contaminado. A água, enquanto não for descontaminada, não serve para ser consumida”. Gabriel Campana confirmou, também, que não houve divulgação da notícia a fim de evitar pânico entre os moradores da área vizinha. “Os estudos técnicos já realizados pela empresa do Pólo e outros por empresas estrangeiras demonstram que não existe perigo de contaminação das pessoas”.

Campana, entretanto, não pode fazer uma declaração com precisão, porque o Instituto Estadual do Meio Ambiente passa por uma profunda crise estrutural e não tem a menor condição técnica de garantir qualquer coisa sobre os índices de contaminação da área do Pólo.

Para tentar acompanhar e saber o que realmente aconteceu com o lençol freático do tabuleiro de Marechal Deodoro, o Instituto vai seguir, daqui para frente, todos os passos que serão dados pela direção da Salgema a fim de conter a mancha da poluição química, impedindo que ela contamine as áreas circunvizinhas.

Paralelamente, o IMA anunciou que vai contratar os serviços da Cetesb, que deverá fazer uma investigação paralela sobre o tamanho e proporção da contaminação.
Contudo, O instituto que tem a obrigação legal de fiscalizar, punir, emitir laudos permitindo o funcionamento das empresas químicas e garantir a proteção ambiental do Estado de Alagoas, ainda não se manifestou publicamente sobre as punições previstas para casos desta natureza. Por enquanto, a parte técnica do IMA faz questão apenas de não causar pânico à população, afirmando que não há perigo de propagação da mancha química.

Ainda segundo Gabriel Campana, para que houvesse perigo de contaminação da população circunvizinha seria preciso não adotar nenhuma providência preventiva dentro dos próximos 27 meses. Isto, de acordo com os laudos técnicos disponíveis e feitos pelas empresas responsáveis pelo vazamento dos organoclorados e pela poluição do meio ambiente. Punição, até agora, ninguém sabe para quem.

Viegas quer o Estado assumindo o controle

A contaminação do lençol freático gerou uma preocupação em técnicos do meio ambiente, como Oswaldo Viegas, ex-coordenador do Meio Ambiente em Alagoas, ao assinalar que o mais importante hoje é saber como está a situação do subsolo, e naturalmente, sentir para onde está se dirigindo a pluma contaminadora.

Esta, na sua opinião, é uma preocupação que deve ser assumida pelo Estado, que não pode ficar a mercê dos laudos fornecidos pelas próprias empresas. Viegas entende o caso como uma situação nova no Pólo alagoano e obviamente delicada.

Para ele, era mais que fundamental que o IMA estivesse preparado para acompanhar toda esta situação e fazer as suas próprias análises em torno do caso. Mas, não dispõe ainda do seu laboratório de análise de clorados.

Uma lástima para o Instituto do Meio Ambiente e, sobretudo, para os seus técnicos que esperavam ter condições para atuar com precisão nesta história. Como coordenador do Projeto de Cooperação Internacional e Capacitação do IMA, Oswaldo Viegas lamenta a situação, considerando que o IMA regrediu nos últimos tempos e agora está impotente diante de um fato muito sério.

De qualquer forma, observa que a água contaminada pela Alclor não pode chegar para o consumo humano, pois dependendo da quantidade que for ingerida pode levar à morte. Avalia o produto como altamente tóxico, capaz de atingir o sistema nervoso central do organismo humano, além de causar sérios danos à fauna e à flora, isso se vier a atingir o complexo lagunar.

Viegas espera que, no entanto, o lençol freático contaminado esteja restrito apenas a área industrial e que os poços não tenham servido para o consumo humano, mas apenas para a atividade industrial.

Salgema admite falhas técnicas

“A Alclor está fechada por causa de uma sucessão de erros técnicos. E um desses erros, registrados na planta de operação da fábrica, causou a contaminação do lençol freático”, admitiu o superintendente da Salgema Industrias Químicas, José Antônio A. Martinez, que acumula também a Presidência do Sindicato das Indústrias Petroquímicas de Alagoas – Simperal.

A declaração do superintendente da Salgema é de grande importância, porque a principal indústria fornecedora de matéria do Pólo, detém, hoje, o controle acionário e administrativo da Alclor. E este controle acionário aconteceu no ano passado, quando a empresa passou a enfrentar sérias dificuldades financeiras.
A Alclor foi construída há pouco mais de três anos para ser para ser uma das mais importantes empresas sul-americanas produtora de Epicloridrina – um componente químico utilizado na fabricação de tintas e resinas, até hoje importado pelo Brasil.

Mas, desde o início da operação da fábrica química vem acontecendo uma sucessão de erros na planta de produção. Os erros foram tantos que, há seis meses, a direção da empresa chegou à conclusão que era muito mais barato consumir o produto importado do que fabricá-lo em Alagoas. O presidente do Simperal afirmou que a contaminação do lençol freático é um problema que está sendo enfrentado em conjunto pelas três empresas do Pólo. Confirmou, ainda, que técnicos brasileiros estão trabalhando em conjunto com especialistas americanos, alemães e suíços. Martinez negou, entretanto, que as empresas estrangeiras estão repassando tecnologia para o Brasil. “Contratamos apenas os serviços de consultoria para nos ajudar nas soluções”.

Sobre o perigo de contaminação da população dos municípios de Coqueiro Seco, Marechal Deodoro e Maceió, o empresário negou completamente. “De acordo com os estudos técnicos e científicos realizados, inclusive por empresas estrangeiras, a mancha que contamina o lençol freático está restrita ao tabuleiro de Marechal Deodoro. Por enquanto, não há perigo de contaminação aos outros mananciais e muito menos à população”.

O superintendente da Salgema não nega que a pluma contaminada está se movimentando lentamente. Por isso, ele anunciou que dentro dos próximos dez dias será lançada a concorrência entre as empresas especializadas que vão despoluir a água contaminada no lençol freático.

Sobre o funcionamento da Alclor, José Antônio Martinez disse que “a empresa fica parada até a conclusão doo trabalho de descontaminação da área afetada pelos organoclorados, que vazaram de duas bacias da Alclor”. O vazamento aconteceu porque, segundo Martinez, o fundo das bacias não tinha proteção especial: era revestido apenas com argila prensada (o barro do próprio terreno), que na prática não se mostrou impermeável.

Uma coisa que já está definida: as bacias passarão por novos estudos técnicos e terão revestimentos especiais: E a fábrica só volta a operar depois de reparados os erros na planta de produção e da aprovação de nova bacia para os organoclorados pelos institutos que cuidam da proteção ambiental.

Vasconcelos denunciou o caso e quer explicações da Salgema

Os estudos científicos apontam que três municípios podem ser vítimas da contaminação provocada por um vazamento na Alclor: Maceió, Coqueiro Seco, Marechal Deodoro. Concretamente ninguém sabe até hoje o que realmente está acontecendo. O silêncio e o sigilo tomam conta dos ambientalistas, ecologistas, das empresas, enfim das autoridades que alegam que não querem causar “pânico na população”.

Essa posição dos envolvidos com a contaminação do lençol freático de Marechal Deodoro revoltou a classe política, e particularmente o vereador Marcos Vasconcelos, de Maceió. O vereador considerou a atitude de esconder as informações básicas à população “como uma ação irresponsável e criminosa”. Na sua opinião, todo mundo deveria saber o que está acontecendo, quais os produtos que contaminaram o lençol freático, enfim: “o silêncio não serve e não ajuda em nada”.

Para Marcos Vasconcelos se o problema não é grave, como até o Instituto Estadual do Meio Ambiente vem afirmando, “porque não revelá-lo detalhadamente para a população e aos seus legítimos representantes”. Ao fazer críticas às empresas responsáveis pela contaminação, o vereador acusou IMA e o Ibama de órgãos “coniventes”, pois, o acidente aconteceu há mais de seis meses e as empresas do Pólo preferiram juntamente com as instituições que deveriam proteger o meio ambiente abafar o crime praticado contra a natureza. E o pior é que só agora resolveram tomar as medidas necessárias para tentar contornar o acidente que é considerado como muito grave e de consequências imprevisíveis”.
O vereador alerta que o fundamental agora é que o Instituto Estadual do Meio Ambiente, as empresas do Pólo e a Salgema expliquem à sociedade o acidente e informem, principalmente a quem reside na área, os rumos do acidente e sobre as providências concretas que estão sendo adotadas para que a vida numa das áreas mais bonitas de Alagoas, volte à sua normalidade.

Na próxima terça-feira os responsáveis devem comparecer à Câmera Municipal de Maceió para dar as explicações que o povo espera e tanto precisa, observou o vereador.

Sindiquímica soube da contaminação muito tempo depois do acidente

Quando a direção das empresas do Pólo Cloroquímico perceberam que a contaminação do lençol freático, provocado por vazamentos nas bacias de organoclorados da Alclor, era um problema “muito grave” e que a solução não seria tão simples como se imaginava, decidiram revelar o acidente ao Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas do Estado. Mas, o diretor de organização sindical do Sindiquímica, Tácito Yuri, disse que só soube da contaminação muito depois de registrado, oficialmente, os índices de contaminação.

Por isso, Tácito Yuri, depois de se reunir com a diretoria do seu Sindicato e alguns trabalhadores do Pólo, decidiu solicitar novos exames da água do lençol freático da área do Pólo, para saber a “realidade” do que está acontecendo. As consultas foram feitas ao Instituto Nacional de Saúde do Trabalhador e ao Ambiterra Ltda., empresa de São Paulo especialista em estudo de contaminação química no meio ambiente.

O Sindiquímica solicitou, as duas empresas, respostas para as seguintes indagações: 1)Quais os índices de tolerância no organismo humano aos derivados clorados que poluem o lençol freático na área do Pólo; 2)Quais os exames médicos-toxicológicos que devemos exigir para aferir se houve contaminação nos trabalhadores e população circunvizinhas às indústrias; 3)Quais os sintomas provenientes da ingestão ou contato com tais derivados clorados; 4)Quais os efeitos na flora e fauna ambiental por conta da contaminação.
Ao responder ao Sindiquímica as empresas foram taxativas: a água está contaminada com clorofórmio 20ppm (partícula por milhão); 1,2 Dicloropropano 59ppm e 1,2 dicloroetano 39ppm.

O Instituto Nacional de Saúde do Trabalhador, órgão ligado à CUT, foi mais longe ao responder às indagações. Sobre os índices de tolerância do organismo informa: – segundo a bibliografia consultada não foram definidos os índices de tolerância desses derivados clorados no organismo. Os limites de tolerância existentes dizem respeito a concentração permitida no ar. Os limites da Legislação Brasileira, como os recomendados pela Conferência Americana dos Higienistas Industriais e Governamentais (ACGIH) e da Entidade do Ministério do Trabalho dos Estados Unidos (NIOSH), recomenda o limite de 2ppm para o clorofórmio. Este é classificado como potencialmente cancerígeno pela ACGIH, devido a evidência de sua ação em estudos animais.

Sobre os exames médicos toxicológicos, o INST observa que a informação disponível aponta não existir exames toxicológicos específicos para estes produtos. No entanto, esclarece que no caso de ingestão crônica destes produtos através da água, seria aconselhável a realização de exames clínicos periódicos, com especial atenção a função hepática e renal.
Com relação aos sintomas de ingestão e contato, o Instituto afirma que os sintomas de intoxicação são semelhantes para os três produtos (Clorofórmio, Dicloroetano e Dicloropropano). “Lembramos que dizem respeito a exposição aos produtos de forma concentrada. Sendo que, o Clorofórmio pela sua utilização como anestésico foi o mais estudado. A inalação depende da concentração dos produtos e pode causar desde fadiga, sensação de embriaguez, sonolência, perda de apetite, tontura, náusea, desorientação até a perda da consciência e morte por depressão respiratória e parada cardíaca.

O contato dos produtos com a pele e os olhos pode causar irritação, vermelhidão e ardor podendo chegar até a queimadura química. A ingestão pode inicialmente causar náusea, vômito, dor abdominal e diarreia seguida de depressão do sistema nervoso. Podem ser desenvolvidas potencialmente lesões hepáticas e renais.

Com relação aos efeitos na flora e na fauna, em relação aos hidrocarbonetos clorados e o ambiente encontramos o resumo de um artigo da revista EUDEAVOUR. Segundo consta no resumo, “estes produtos não se acumulam na mesma extensão dos inseticidas clorados que apresentam a sua persistência no ambiente”.

As respostas as indagações do Sindiquímica chegaram em Maceió no último dia 6 de abril e foram assinadas pelo coordenador de estudos e pesquisa, Victor A. Petrúcio, de São Paulo.

Vazamento de organoclorados completa 6 meses sem solução

Há mais de seis meses um vazamento em duas bacias de organoclorados da Indústria Química Alclor, produtora de epicloridrina, vem contaminando todo o lençol freático do tabuleiro de Marechal Deodoro. A contaminação do meio ambiente estava sendo escondida dos operários do Pólo Cloroquímico de Alagoas, da população que reside nas áreas vizinhas da imprensa.

A poluição do lençol freático aconteceu por causa de falhas técnicas na planta de operação da Alclor, particularmente nos reservatórios dos organoclorados. Esses organos, na verdade, são subprodutos (lixo) da reação química entre o cloro com o propeno gasoso que, manipulados a alta temperatura dentro dos reatores da Alclor, formam cloreto de alila. Esse produto da reação é a base da epicloridrina utilizada na fabricação de tintas e resinas.

Os subprodutos que penetram no solo, através das bacias, atingindo os reservatórios naturais de água no subsolo são cancerígenos e altamente poluentes.

Toda a contaminação aconteceu porque no fundo dos reservatórios não há revestimento especial. Apenas a camada de barro prensado, no terreno onde foram construídos os reservatórios, estava impedindo que o lixo, na sua forma líquida, penetrasse até o lençol freático. Em condições normais, os organoclorados ficam nas bacias e depois são tratados na central de tratamentos de efluentes da Cinal (empresa prestadora de serviço para as indústrias do Pólo). E o mais grave é que a contaminação do lençol só foi percebida por acaso.

Duas empresas do Pólo notaram que os seus trabalhadores apresentavam problemas intestinais constantemente. Uma dessas empresas, a Companhia Petroquímica de Alagoas, conforme explicou o operário José Luiz Pantoja – funcionário da CPC e diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de Alagoas – mandou lacrar o seu poço e durante muito tempo passou a servir água mineral aos seus trabalhadores.

Atualmente, a CPC, que também conhece o problema da contaminação, construiu um outro sistema de fornecimento de água potável. Mas, até então, não fez nenhum tipo de comentário com os seus mais de 500 operários.

A situação é tão grave que a direção da Salgema – empresa que mantém o controle acionário e administrativo da Alclor, confirma que a indústria de epicloridrina está fechada. “Vai ficar fechada até que o problema de contaminação através das bacias de organoclorados seja, definitivamente resolvido”, explicou, ontem, José Antonio Martinez, superintendente da Salgema.

População nada sabe sobre a contaminação

Por enquanto, segundo as informações técnicas disponíveis nas industrias do Pólo, com a direção da Salgema e os órgãos de pesquisa e controle de poluição, a pluma (nome técnico que define a mancha do lixo químico que polui o lençol do tabuleiro de Marechal Deodoro) está restrita somente à área do Pólo. Todavia, os estudos confirmam que a pluma se move lentamente e pode contaminar, a médio prazo (em 27 meses) os mananciais que abastecem parte do município de Marechal Deodoro, os povoados e vilas de Coqueiro Seco e uma parte da área litorânea de Maceió.

Ainda de acordo com os estudos preliminares, se não for contida e controlada a poluição do reservatório natural do Pólo, cerca de 10 mil pessoas podem ficar contaminadas se consumirem a água dos mananciais das imediações da área afetada pela poluição provocada pelo vazamento dos organoclorados das bacias Alclor. Os técnicos brasileiros, americanos, alemães e suíços de empresas contratadas pela Salgema para controlar e resolver o problema, garantem – através de relatório que está em poder da direção da Salgema – que, até o momento, não existe perigo de contaminação da população e da área circunvizinha.

População

Entretanto, se houvesse risco de perigo iminente de contaminação da população na área que compreende três municípios e importantes rios que desaguam na lagoa Mundaú, os transtornos e problemas atingiriam proporções incalculáveis.

Ninguém na área sabe da contaminação que vem acontecendo há mais de 6 meses, segundo as informações que chegaram até a imprensa nos últimos dias.

Conforme apontam os estudos técnicos, em caso de situação incontrolável, as primeiras áreas a serem atingidas seriam o povoado do Broma, onde tem a bica da Pedra: uma piscina de água mineral muito frequentada por turistas, localizada no município de Marechal Deodoro. Simultaneamente, o rio dos Remédios, um dos importantes mananciais de Coqueiro Seco que abastece cinco pequenos povoados e desemboca numa das áreas mais bonitas e ricas da Lagoa Mundaú. Por consequência, toda a área próxima ao campus Tamandaré entre a lagoa e a praia estaria comprometida pela poluição química.

Nos povoados e nas prefeituras, oficialmente, ninguém sabe de nada. As empresas dom Pólo por sua vez não fizeram nenhum comunicado sobre o assunto. E os pequenos comentários divulgados através da imprensa não mostram o tamanho da gravidade da poluição e não apontam os perigos ou as soluções.

O prefeito de Coqueiro Seco, José Pereira da Silva, mais conhecido como “Zé Duda”, 70 anos, ao ser indagado sobre o que faria em caso de um possível acidente com a contaminação do lençol freático que abastece uma parte de sua cidade comentou: “Eu não acredito em contaminação. Isso para mim não passa de boato. O Instituto do Meio Ambiente e ninguém fez nenhum comunicado oficial sobre o assunto. Por isso, o que posso afirmar é que a água que abastece Coqueiro Seco é de muito boa qualidade e não está contaminada”.

A mesma coisa, o prefeito “Zé Duda” não pode afirmar da água da Lagoa Mundaú que margeia Coqueiro Seco. “A Lagoa sim, está muito poluída. Todos os dias aparecem peixes mortos. O sururu que está na sua época, continua pequeno e as larvas são escassas. E quem polui a lagoa são as indústrias químicas de papel e adubo; as usinas que despejam vinhoto. Mas, a água que a gente bebe das cacimbas profundas da cidade e do rio dos Remédios é muito boa”, frisou o prefeito.

Ele desconhece totalmente que bem próximo ao seu município, no tabuleiro de Marechal Deodoro, um acidente na Alclor contaminou o lençol freático da área do Pólo.

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Informação Cultural
Repórter: Dênis Agra
Veículo: Folha Miguelense (Dez/1990)

Uma vida de amor e festa pelo folclore

Não são muitas as pessoas em Alagoas que fizeram do folclore a sua razão de viver. Dos que se dedicaram ao estudo, prática e ensino, poucos tem a vivência e dedicação de Nair da Rocha Vieira, 76 anos de idade e quem em 1926 já dava seus primeiros passos na dança da taieira, sua especialidade dentre os folguedos populares. Nascida em São Miguel dos Campos, Dona Nair trazia no sangue o amor pela dança e pela música.

Seu avô, Jacinto Andrade de Mendonça, foi mestre de música e em 1910 organizou o primeiro grupo de taieira de São Miguel. Sua mãe, Albertina Andrade de Mendonça, também organizou vários grupos e levou muitas partes do saber do povo por essa Alagoas.

Para Nair, o amor pelo folclore foi maior que no casamento. Ela se casou em 1935, mas 10 anos depois deixava o marido, que tentava proibir sua participação nos grupos de taieira, quilombo e organizando blocos de carnaval.

Dona Nair sabe tudo, da taieira.
Do passado só a alegria, “que morreu”.

Na música instrumental, ganham som pelas suas mãos, o cavaquinho, violão, pandeiro, bombo e tambor, estes três últimos instrumentos presentes para a dança da taieira. E toda essa festa e alegria “vem de dentro, do coração”, pois Dona Nair não bebe nenhuma bebida alcoólica.

“Nunca bebi”, garante, sem, no entanto, ter nenhum preconceito contra quem usa o álcool apenas para acender os momentos de euforia.

O sonho acabou – a frase da música do Beatles John Lennon, lembrado dias atrás pelos 10 anos de sua morte, diz com perfeição o que aconteceu na vida de Dona Nair. Um sonho colocou fim a sua participação nas danças populares.

Ao acordar, a promessa que continua cumprindo até hoje é a de parar de tocar, dançar e passar a vestir preto. Sem uma explicação muito clara para sua decisão, uma frase de Nair encerra a questão: “Tenho parte com índio”.

Mas, além da promessa, ela tem muitas reclamações da falta de apoio. Uma delas é contra o ex-prefeito Humberto Alves, “que fez diversas promessas e nunca cumpriu. Um dia perdi a paciência e dei a maior esculhambação nele, lá no clube do ACEM”.

Além disso, um problema dentário, com duas cirurgias, e a prisão de um neto, que ainda está na cadeia, viraram tormentos na vida de Dona Nair. Ela mesmo confessa: “da alegria do passado meu tudo. Hoje, só saio de casa para ir à Igreja”.

É verdade. Até para se decidir pela entrevista para o Folha Miguelense, não foi fácil. O que pesou mesmo sua decisão foi a amizade com a professora Maria da Conceição Malheiros Vanderley – Ceiça – porta voz da entrevista, e o desejo de deixar algum registro de tudo o que viveu.

Dona Nair não se sente recompensada e se considera até decepcionada com a falta de incentivo para o folclore. Decepção que, segundo ela, são transformadas em lágrimas todas as vezes que seus olhos fixam alguma imagem de grupos folclóricos.

Mestre Theo Brandão registra depoimento

As pesquisas do falecido professor e mestre Théo Brandão, hoje nome de museu, registraram os conhecimentos de Nair da Rocha.

Durante quatro dias, ela lembra que ficou na casa de Théo Brandão, onde realizou diversas gravações. Seu saber também foi repassado para os folcloristas Pedro Teixeira e José Maria Tenório. Em São Miguel, alguns segredos da taieira estão com a professora Maria da Conceição Malheiros Vanderley – Ceiça – diretora do Departamento de Cultura da Secretaria Municipal de Educação.

Pelo que sabe e aprendeu em todos estes anos, Dona Nair diz que a taieira é uma dança de origem africana, onde os personagens são quatro moças na frente do grupo, um mateu, um rei, uma rainha, uma crioula com forma de boneca e a Catarina, que é um tipo característico da taieira e que dança com a boneca. Na produção do som para a dança, devem estar o bombo, o tambor e o pandeiro.

Além da participação nas danças e no ensino para sua organização, Dona Nair também criou diversas letras para as cantigas da taieira. A música era tirada de ouvido. O quilombo e os blocos carnavalescos foram outras atividades desenvolvidas por ela no mundo das danças populares. Com o tempo, como conta, as despesas carnavalescas foram ficando muito grandes, o que impediu a continuação dos blocos. O carnaval saiu das ruas para os clubes, que seleciona os foliões pela condição social.

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Informação Científica ou Tecnológica
Repórter: Marcelo Firmino
Veículo: Gazeta de Alagoas (28/07/91)

Governo atropela setor de pesquisa

O Brasil é mesmo um país que se divide em extremos. Há regiões que até matam a Bélgica de inveja e há outras, no entanto, que concorrem e até vencem a índia por seu aspecto atrasado e miserável. Estas últimas caracterizam áreas do Nordeste, sem investimentos nem tecnologia capazes de reverter um quadro de miséria que desafia governos ao longo dos tempos. São áreas sem pesquisas, onde uns poucos usam a estratégia do “quanto pior melhor”. Para eles a área da pesquisa sempre foi relegada a plano inferior, exatamente porque se criou um vício de que investimentos só devem ser feitos nos setores que garantam retorno político imediato. Assim é na atividade pública e privada.

No setor público, por exemplo, o caso é mais grave, pois não há incentivos e o pouco que se tem atropela-se como é o caso hoje da Empresa de Pesquisas Agrícolas de Alagoas, que tem importantes trabalhos para melhorar a produção da agricultura no Estado, e, no entanto, sofre as consequências do abandono e do descaso.

Técnicos capazes e experientes fazem pesquisa na Epeal “apenas por amor”, como observou a Dra. Fátima Maria Queiroz, do laboratório de Fitopatologia, umas das responsáveis pelas análises de doenças e moléstias que atacam as plantações em todo o estado. Isso não se faz como num passe de mágica. É preciso profundos conhecimentos técnicos, investimentos e incentivos do governo. Dois outros pesquisadores com mestrado atuam no laboratório: José Williams Lemos e Maria de Fátima Muniz. Eles, como todos os outros da empresa, trabalham duro, praticamente no anonimato, encontrando fórmulas que possam contribuir para aumentar a produção agrícola de Alagoas.

Como ninguém vê, certamente haverá sempre alguém para dizer “não voga”. Essa tem sido a praxe. A grande verdade é que os trabalhos na Epeal são de uma profundidade extensa e desenvolvidos em 5 estações experimentais e diversos laboratórios que vão desde o de análise de água até o de etimologia, que desenvolve técnicas de combate as pragas, além do laboratório de doenças animais.

Tem o governo de Alagoas um rico patrimônio para o campo das pesquisas e não sabe. E tanto é assim que, a cada dia que passa, a Epeal sofre golpes mortais, desferidos por mãos governistas, alheias à importância de um trabalho silencioso, mas que tem tudo para ser a salvação do setor público agrícola. O mais novo golpe, inclusive, é o da cavalaria da Polícia Militar que pisoteia um campo de pesquisas para sacramentar a vaidade de um coronel.

Epeal revoluciona cultura de grãos

Por não traze retorno político imediato, o governo certamente desconhece que em 1992 a Epeal vai cultivar uma variedade própria de feijão para Alagoas, o que fatalmente poderá acabar com o drama das sementes, já que o resultado desse trabalho será o aumento da produção. Até porque hoje, com exceção do arroz e do leite, as culturas desenvolvidas em Alagoas estão bem abaixo da média nacional. O feijão, por exemplo, produz apenas 40 quilos por hectare, quando a média nacional está acima dos 800 quilos por hectare.

O incentivo à pesquisa no Estado seria de uma importância para impedir a importação de alimentos. Saliente-se que mais de 90% dos produtos comercializados no Ceasa vem de outros Estados, inclusive o inhame, tomate, cebola e laranja. Se ainda não se chegou a 100% é exatamente por causa do arroz, cujas técnicas de produção desenvolvidas no Vale do São Francisco têm dado bons resultados. Lá, a Epeal revoluciona a cultura de grãos.

Variedades

Nessa atividade já foi possível se descobrir um novo tipo de arroz capaz de resistir à bruzone, que é uma das principais doenças que ataca esta lavoura gerando a perda de safra. É no baixo São Francisco que se desenvolve a cultura do arroz com as variedades Br-Irga-409, Cica-8, Epeal-102, dentro de um sistema irrigado que contribui para a obtenção de 4.500 kg/há.

Nos documentos da empresa constam novas variedades de feijão e milho despontando com produção maior que as tradicionalmente plantadas: IPA-7419 e Centralmex. Constatou-se também que o plantio em camalhão (terra de lavoura entre dois regos) assegurou o aumento de produtividade em 35%, quando comparado ao plantio no plano.

O que a Epeal quer fazer daqui para a frente é ensinar o agricultor a produzir sua própria semente. A idéia do diretor técnico Antonio Santiago é treinar o pessoal que for selecionado pela Emater. Esse trabalho deve começar com novas variedades do feijão de corda (vigna) e o feijão Phaseols, que é outro tipo do de corda, que apresentaram maior capacidade de produção que os demais durante os experimentos realizados em Arapiraca e IGACI. Assim, colhendo sua própria semente o produtor ficará livre do drama do início do plantio, quando recorre ao governo que distribui sementes desqualificadas.

As pesquisas da empresa garantem também uma excelente qualidade na área de fruticultura, ora em desenvolvimento na Estação Experimental de Igaci, onde se trabalha com pinha, mamão irrigado e abacaxi. Nesse processo de irrigação já há projetos para desenvolver variedades de caju, manga e maracujá, em Arapiraca, que atualmente está diversificando a cultura do fumo, que é considerada muito cara.

A questão

O grande problema da área do fumo é que o governo não estimulou as pesquisas de fitopatologia em Arapiraca e por isso a lavoura está exposta à ação incontinente de inúmeras pragas. Os produtores reclamam de mais atenção da Epeal, sobretudo quando a doença ataca o fumo, porém, a questão é estrutural. A empresa não recebe apoio para desenvolver suas pesquisas nessa área. Apesar disso, os técnicos já estudam novos projetos. Mas, enquanto a solução não vem a cultura diversificada vai se constituindo em uma alternativa concreta e produtiva.

E as pesquisas não param aí. Um novo trabalho dos técnicos é exatamente contra a lixa pequena e lixa grande que atacam as palhas do coqueiro, queimando-o inteiramente. A lixa é uma espécie de fungo conhecido cientificamente por Cataciucuma sp.

As análises feitas até então indicam que, logo logo, a empresa poderá controlar a doença.

A mandioca também é uma fonte contínua das pesquisas da Epeal, que trabalha para identificar uma variedade capaz de resistir à “podridão”, uma doença comum que a atinge. Para isso, os técnicos contam com o apoio do Centro Internacional de Agricultura Tropical e da Embrapa que pretendem aprimorar o manejo da cultura da mandioca.

A grande questão é que a Epeal é uma empresa sem autonomia e, portanto, fica impossibilitada de expandir o seu trabalho. Como diz o Antonio Santiago, é preciso área para desenvolver a pesquisa, “pois temos que ter o melhor para que o agricultor possa acreditar no nosso trabalho”. Essa situação deixa inclusive a empresa impotente para segurar os técnicos na área, que agora estão a Epeal pela empresa privada, em função de propostas salariais mais vantajosas. Dos 70 pesquisadores especializados da empresa, agora só restam
40 e muito em breve bem menos que isso. O que, na certa, será o fim da atividade de pesquisa em Alagoas.

Baixa produtividade de grãos é fruto do descaso

Integrante do Sistema Cooperativo de Pesquisa Agropecuária, a Epeal, criada em 1979, com o apoio da Embrapa, é uma empresa que mantém relacionamento com todos os centros nacionais de pesquisas e universidades brasileiras, além de instituições como CNPq, Sudene, Codevasf, Secretaria de Irrigação, Finep e outros.

A empresa tem know how, equipamentos e técnicos cujo trabalho não vem sendo reconhecido.

A baixa produtividade obtida com a maioria das culturas do Estado, em comparação com a produtividade nacional, evidencia a necessidade de melhoria do nível tecnológico dessas explorações. Isso, aliás, foi dito, em alto e bom som, aos deputados alagoanos por mais de uma vez na Assembléia Legislativa, mas pouco adiantou. A questão da empresa é relegada a segundo plano.

O Descaso

Todos os anos quando a chuva molha a terra e chega a vez do lavrador prepará-la para o plantio, surge um problema crônico. Não há sementes. Um Estado com terras férteis, mas sem produção suficiente devido à falta de incentivos para produzir seus próprios grãos. O pior é que os homens da pasta da Agricultura saem pelos Estados para comprar as sementes, mas tudo dentro de um processo atabalhoado, aleatório. Feito isso, distribui-se sementes sem conhecer sequer a sua linhagem. O certo, antes de jogar dinheiro fora, seria o governo usar o laboratório de sementes da emprega para realizar testes de germinação e de vigor das sementes. Isso não é feito por obra pura do acaso. No passado se conseguiu isso.

O setor privado, no entanto, melhorou a sua visão sobre a atividade de pesquisa. Tanto é assim que, rotineiramente, chega à Epeal pedidos de análises de solo feitos por grandes produtos que pretendem tomar empréstimos na Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil. De passagem, diga-se, o próprio banco habituou os produtores a fazerem as consultas, exatamente para saber que tipo de lavoura deve ser plantada em determinada área.

Evidentemente que todo esse processo deveria estar integrado a um plano de planejamento agrícola, como reconhece o diretor técnico da empresa, Antônio Dias Santiago, uma atividade que deveria ser desenvolvida pela Cepa, mas que também é uma empresa sucateada.

Há, no entanto, um esforço sobre-humano dos que fazem Epeal para instalar os programas de pesquisa. No ano passado, segundo Santiago, a empresa chegou a implantar 90%.
Este ano, apesar dos pesares, o trabalho dos programas de pesquisas já chega a 80%.

O que não se sabe, como disse o diretor técnico, é se haverá dinheiro para colher o que foi devidamente instalado.

Aliás, dinheiro na empresa é que nem pé de cobra. Ninguém vê. Só chega mesmo o da folha do pessoal, paga pelo governo do Estado, onde constam técnicos com mestrados e doutorados, inclusive em universidades norte-americanas e canadenses, ganhando apenas Cr$ 102 mil. No vizinho Estado de Pernambuco o menor salário de um pesquisador fica na ordem de Cr$250 mil. Se para o pessoal de nível superior a situação chega a esse ponto, os que atuam no apoio vivem praticamente de salário mínimo. Uma dureza.

Laboratórios garantem uma melhor linhagem de bovinos

As pesquisas da Epeal não estão restritas às lavouras que podem ser cultivadas em Alagoas. Uma das principais atividades hoje é o desenvolvimento de nossas tecnologias para o consorciamento de suínos, peixes, e arroz, como já se experimenta na região do baixo São Francisco, que funciona com a ração de milho para suínos cujos dejetos e restos de comidas alimentam os peixes e adubam risipiscicultores.

Partindo para a região sertaneja a pesquisa avança no processo de alimentação de bovinos durante a seca, sendo hoje a raspa da mandioca uma especialidade desenvolvida com tecnologia local. A iniciativa resolve, inclusive, dois problemas: o do plantador que consegue escoar a sua produção e o do produtor de leite que barateia os custos de alimentação do seu gado, com um alimento de grande valor protéico.

Ainda nesse campo, os trabalhos garantiram também a identificação de inimigos naturais para o controle biológico da cochonilha da palma. Esses agentes são soltos no meio ambiente e agem na defesa da plantação. Este ano, segundo os técnicos da Epeal, há uma perspectiva muito grande da cochonilha atacar a palma devido às condições climáticas.
No laboratório de patologia animal foi possível desenvolver uma tecnologia para o cruzamento de ovinos, envolvendo a raça nativa “Santa Inês”, com “Ilê de France”, importada do
Rio Grande do Sul. Os resultados até agora são considerados satisfatórios.

Foi também nos laboratórios da granja Conceição, desprezada por quem não é do ramo, que os pesquisadores desenvolveram o processo de inseminação artificial para melhorar a linhagem do gado de corte. Esta atividade é realizada no rebanho de gado Nelore, em União dos Palmares.

Serviços chegam à comunidade

Além da ação direta das pesquisas no processo de incrementação das atividades agropecuárias de Alagoas, a Epeal também presta serviços diretamente à comunidade através dos seus laboratórios de análises químicas da água, solos, fertilizantes e sementes, que ainda servem de áreas para estágios de futuros profissionais como agrônomos, biólogos, médicos-veterinários, químicos, entre outros.

A população desconhece, mas, no laboratório de Biotecnologia, o único do Estado, a empresa pode desenvolver análise da qualidade de bebidas, alimentos, doces, etc. Esse laboratório poderia, inclusive, servir de apoio à Vigilância Sanitária, que, no entanto, desconhece a sua existência.

Para se ter uma ideia de como funcionam os laboratórios para a determinação de fertilidade do solo, este ano, foram realizadas 3 mil amostras, 250 análises de fertilizantes e corretivos; 250 análises de ração para alimentação animal; 250 identificações de fitopatógenos; 250 fitopragas; 450 amostras de sementes; e 350 análises de água.
Além disso os técnicos têm à disposição uma biblioteca, cujo acervo é considerado um dos melhores do Nordeste que, por diversas vezes, já serviu de fonte de consultas para a Sudene.

A ameaça agora vem a cavalo. Empresa pode virar estrebaria

A grande questão hoje na Empresa de Pesquisas é que este trabalho sofre uma ameaça muito séria, com a insensata decisão do governo de instalar na granja Conceição uma cavalaria da Polícia Militar de Alagoas, tudo porque o comandante geral quer homens montados, “desfilando garbosamente nas paradas de 7 e 16 de setembro.

A forma de instalação da cavalaria na Epeal revoltou os 220 funcionários da empresa, que viram ser rasgado um contrato de comodato firmado em 1983, onde toda a área da granja foi cedida por um prazo de 10 anos para as atividades dos pesquisadores. O secretário da Agricultura, Edval Gaia, se desfez do contrato e elaborou um novo em 29 de junho de 1991 garantindo a área para a cavalaria, apesar de ter recebido laudos contrários do Conselho Regional de Medicina Veterinária e do Crea.

Dirigentes da Associação dos Servidores da Epeal, José Edivaldo Pereira, José Pereira Silva e Roberto Paiva, concordam que o mau gerenciamento na empresa gerou esse fato desagradável. Eles vêem a instituição como viável e com corpo técnico dos mais capacitados do Estado, mas lamentam que tenha chegado a esse estágio. Isto é, uma empresa de pesquisas passar a ser estrebaria para cavalos.

Contrário

O diretor administrativo-financeiro da Epeal, Luís Eduardo Beltrão se manifestou radicalmente contra a cavalaria na granja. Entende que não se deve misturar as coisas. “Eu respeito a iniciativa do comandante de criar a sua polícia montada, até por ser esta uma diretriz do governo, mas não vejo como compatibilizar pesquisa agrícola com agrupamento militar ostensivo”. Além do mais, afirma que não poderia ser favorável, quando todos os laudos técnicos são contrários. O diretor vai mais adiante e diz que a responsabilidade é exclusiva do presidente da empresa, Amauri Rufino, que tomou a decisão sem ouvir o conselho administrativo. O problema se agrava agora quando os conselheiros, em reunião recente, fizeram constar em ata seus votos contra a cavalaria e ameaçam renunciar em bloco se o caso não for revertido. O conselho quer uma posição oficial do governador.

Para bem entender, a questão do pessoal da Epeal não é pelo simples fato da criação da cavalaria da Polícia Militar, mas especificamente contra a sua presença na granja, onde aliás, o comandante Nilton Rocha mandou construir baias para instalar os enfermos cavalos da raça Crioulo, importados do Rio Grande do Sul, a preços até então não bem esclarecidos.

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Informação Esportiva
Repórter: José Machado*
Veículo: Jornal de Hoje (29/07/91)

Com as pernas de Santana, Alagoas corre o mundo e conquista títulos.

Um Estado onde o esporte não é privilegiado pelos Governos, cuja prova maior é o abandono a que está relegado o Estádio Rei Pelé- construído para desenvolver, principalmente, o futebol-, obter títulos internacionais seria obra do acaso. São tão poucos os títulos conquistados por alagoanos em competições não apenas restritas ao País, que se pode contar nos dedos os que conseguiram esta proeza. A década de 80, contudo, projetou Alagoas no cenário esportivo, através do atleta José Carlos Santana, que divide com o presidente Fernando Collor a condição dos alagoanos mais conhecidos hoje no país.

Na verdade, José Carlos não é de Alagoas, mas é filho de um alagoano nascido no pequeno município de Joaquim Gomes. Portanto, tem nas veias o sangue do homem do Nordeste. Paulista, radicado em Maceió há sete anos, José Carlos foi um presente que Alagoas ganhou, para finalmente ter um lugar de destaque no atletismo mundial. Se faz Alagoas feliz, esse jovem de 27 anos está de graça com a vida. Tanto assim que, não esconde dos amigos, que, se hoje largar o atletismo na condição de maratonista, o fará realizado. “Se eu parasse hoje, estaria feliz para o resto da vida”- afirma Santana, com um recado forte aos que são responsáveis pelo esporte no Estado: “o esporte é um dos meios pelos quais se pode resgatar a boa imagem de Alagoas”.

Hoje quem falar sobre o esporte alagoano, obrigatoriamente, há de colocar Santana em primeiro lugar, dividindo uma posição de poucos privilegiados, como Dida e Zagalo no futebol, dois campeões mundiais pela seleção brasileira. José Carlos segue hoje para Cuba, onde representará o Brasil no Pan-Americano, ao lado do outro maratonista brasileiro, o João Alves de Souza, conhecido por “Passarinho”. Daqui, da pequena Alagoas, uma legião de torcedores tão grande quanto sua capacidade de vencer estará torcendo por mais esta conquista, que aumentará ainda mais o orgulho dos que o incentivaram e o apoiaram, a partir da Salgema, e amigos de diversas atividades.

O futebol brasileiro deve muito a dois alagoanos: Dida e Zagalo

A relação de alagoanos vitoriosos no esporte é pequena, embora honre nosso Estado. No futebol, o maior destaque ainda é para o ex-ídolo do Flamengo, o atacante Dida, um dos maiores artilheiros do futebol brasileiro. No clube carioca, foi superado na artilharia apenas pelo outro ídolo Zico. Dida nasceu em Macei e deu seus primeiros passos no futebol jogando no América, se projetou no CSA e foi logo para o Flamengo, chegando à Seleção Brasileira que, em 58, conquistou a Copa do Mundo na Suécia.

Outro alagoano campeão mundial de futebol foi Zagalo, que logo cedo para o Rio de Janeiro. Foi campeão como jogador e tri-campeão como treinador, participando da maior safra de jogadores que o Brasil teve. Também se destacou como jogador de futebol o alagoano Ipojucan, campeão sulamericano pela Seleção Brasileira no Chile, em 1952. Fez fama jogando no Vasco da Gama. Mais recentemente o alagoano de maior destaque no futebol é Pêu, ainda jogando no CSA. Muito jovem vestiu a camisa do Flamengo e conquistou o título de campeão mundial de futebol pelo clube carioca, em Tóquio, no Japão.

Depois do futebol o esporte que mais projetou Alagoas foi o voleibol. Uma seleção representou o Colégio Moreira e Silva no campeonato sulamericano, em 1969, no Chile, e ganhou a competição. Participaram desta memorável conquista as alagoanas Socorrinho, Gláucia, Marisa Lages, Iara Constância, Fátima Pereira, Rosemary, Lucia Coelho e Luiza, que gravaram seus nomes nos arquivos implacáveis do cronista Lautenay Perdigão, dono do maior acervo sobre o esporte alagoano. Outra estrela do voleibol alagoano brilhou no exterior representando o Brasil. Ana Paula foi campeã mundial juvenil em 89, na China, e Sandra trouxe a faixa de campeã sulamericana, em 83, competição disputada em Santo André. Antes, ela conquistou o mundial infanto-juvenil, em 1980.

A safra de bons atletas do voleibol, que mesmo dando glórias a Alagoas está abandonado, incluiu Marco Antônio, que em 78 foi campeão sulamericano infanto-juvenil e Assis Born Muniz, campeão sulamericano. Todos esses jogadores saíram do CRB, que bem poderia voltar a incentivar o voleibol, esporte que lhe deu os maiores títulos.

Alagoas conquistou dois vices em competições internacionais, também na faixa do atletismo. Vinícios, do Colégio Marista, no ano passado, foi vice sulamericano no salto em altura, no Uruguai. Gilmar Camerino, hoje presidente da FAPE, foi vice nos JEBS e JUBS. Em 89 teve sua primeira participação em competição internacional no torneio de judoca e, em Colorado Springer (EUA). Não trouxe título, mas marcou sua presença como o autor da vitória mais rápida, com o tempo de 3 segundos, derrotando nesta proeza o então campeão norte-americano.

Hoje Alagoas espera chegar mais longe no atletismo pelas pernas de José Carlos Santana, sua expressão maior, e tem orgulho de já contar na “agulha” com outro fenômeno do atletismo, Joseildo Rocha, nascido em Palmeira dos Índios, há 26 anos, também com o apoio da Salgema, está deixando muita gente boa para trás nas competições de que participa.

A exemplo de José Carlos Santana, que chegou a trabalhar em lanchonete, vem de família humilde, trabalhou na agricultura, correu pelas ruas de Palmeira dos Índios até ser dispensando pela Prefeitura, que lhe dava uma pequena quantia para ter seu nome em sua camisa. É recordista alagoano nos 10 mil metros.

Márcio: “Um casamento bem concebido”

Márcio Canuto, o cronista esportivo alagoano de maior bagagem, respeitado por suas opiniões e criatividade, reconhece que o apoio ao atleta é indispensável para chegar onde Santana chegou.

“José Carlos Santana é o fruto bem concebido do casamento do esporte com a iniciativa privada. Ele não teria ido tão longe, conquistado tantas vitórias, se, em sua retaguarda, não tivesse uma empresa oferecendo as condições indispensáveis de alimentação, conforto, treinamento adequado e tranquilidade familiar. Dificilmente, uma empresa desfrutaria de simpatia e destaque se não aplicasse recursos em sua comunidade e em especial, no esporte, um caminho certo de retorno de mídia. E de admiração popular.

Hoje, José Carlos Santana e a Salgema correm juntos. Vencem juntos. E juntos conquistam glórias para o esporte de Alagoas, tão carente de apoio e de iniciativas, como esta da Salgema.

José Carlos Santana é um vencedor por somar o apoio que a Salgema lhe dá com a dedicação que Deus lhe ofereceu. Não deve ser fácil correr todos os dias, que chova ou faça sol, dezenas de quilômetros. Certamente é difícil desprezar delícias da vida como uma festa, um sorvete ou uma apetitosa torta de chocolate para quem tem de estar, rigorosamente, no peso, em forma e com toda disposição.

Outro exemplo fascinante é o de Joseido Rocha. Há cinco anos era apenas um dos inúmeros vendedores da feira semanal de Palmeira dos Índios. Hoje, já não corre atrás de um freguês das verduras que ofertava. Corre atrás de títulos, como o de campeão sulamericano de maratonas. Uma transformação que tem nome: apoio. E esse bendito apoio da Salgema não deve ser limitado a estes dois excelentes atletas. Há outros José Carlos e Joseildo esperando neste Estado, por uma oportunidade, por uma chance. Por um patrocinador para dar-lhe a mão e abrir as portas da consagração.

Gilmar: “O patrocínio é fundamental”

Participante de várias competições internacionais, Gilmar Camerino, hoje superintendente da FAPE, diz o seguinte: “Acredito no 1º lugar de Santana. É um grande atleta e tem um técnico que é muito estudioso, é um cientista em termos de atletismo. Sei que o Santana está bem preparado, não somente na parte física e também psicológica. O patrocinador foi fundamental em toda a sua carreira. Tanto ele como Joseildo são grandes nomes, hoje, no atletismo brasileiro”.

Gusmão diz que o Pan-Americano não será fácil

Responsavel pela preparação de Santana e Joseildo, o treinador pernambucano Sílvio Gusmão, também contratado da Salgema, faz uma análise das possibilidades de um dos seus atletas. O Sul-Americano foi muito importante para o Brasil. Nessa área de maratona, o Brasil é um país que não tem muita tradição ainda, tanto que na Olimpíada passada tinha direito de mandar três atletas e somente mandou dois, porque o pessoal não tinha índice. A maratona cresceu muito no Brasil, mas ainda não é o esporte em que o Brasil se destaque.

No Pan-Americano nós temos países fortíssimos, como Estados Unidos, Canadá, México. São países que têm tradição em corrida de longa distância. Não fica fácil a gente disputar um campeonato desse. De repente o Brasil vai querer cobrar uma medalha. Muitos poderão dizer que ganhamos no vôlei, no basquete, mas nestes esportes o Brasil tem tradição. Na maratona, não.

Alípio cobra participação de patrocinadores

Carlos Alípio Ferrário Lobo, uma revelação no esporte como vice-presidente de futebol amador da Federação Alagoana de Futebol, tem opinião formada sobre o esporte.

– Por uma falta de apoio ao esporte amador, as condições de se ter um grande atleta ou uma grande equipe são difíceis. Estamos perdendo nossos valores que buscam outra fonte de renda. O atletismo alagoano tem uma situação, hoje privilegiada devido aos corredores José Carlos Santana e Joseildo Rocha, principalmente pelo apoio de uma grande empresa. Eles possuem as condições necessárias para treinamentos. São dedicados e possuem um grande técnico que acompanha os dois dia-a-dias.

São atletas que, quando sobem ao pódio, além de ser uma alegria para Alagoas e para o Brasil, dão o retorno ao patrocinador. O Joseildo é excepcional. Ele venceu uma competição em Manaus, no caso o Sul-Americano, superando muitos obstáculos, como o clima adverso, e um percurso íngreme.

A nossa esperança quanto ao Santana é de que ele consiga realmente vencer. Suas últimas colocações em provas nacionais e internacionais mostram que ele tem condições de representar o Brasil muito bem.

*Esta matéria, apesar de ter sido inscrita pelo saudoso jornalista José Machado, teve a participação também do repórter Warner Oliveira, o que pode ser comprovado pela foto da página do Jornal de Hoje, com a assinatura do dois, logo abaixo do título da reportagem sobre o corredor Santana. Veja a foto na galeria.

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SÉTIMO CAPÍTULO

Neste sétimo capítulo, publicamos as matérias vencedoras do III Prêmio Salgema de Jornalismo, realizado em 1992.

III Prêmio Salgema de Jornalismo
Repórter: Arla Coqueiro
Categoria: Vídeo-reportagem
Título: “Feira do Passarinho”
Veículo: TV Pajuçara

INFORMAÇÃO POLÍTICA
Repórter: Fernando Murta
Título: “A denúncia de um calote”
Veículo: TV Pajuçara

REPORTAGEM
Repórter: Fernando Araújo
Título: “Erosão destrói estrada de Cr$ 50 bilhões”
Veículo: Gazeta de Alagoas (07/01/92)

INFORMAÇÃO CINTÍFICA OU TECNOLÓGICA
Repórteres: Niviane Rodrigues, Maria Goretti e Susy Albuquerque
Título: “Transplantes de órgãos viram rotina em Alagoas”
Veículo: Gazeta de Alagoas (19/07/92)

FOTOGRAFIA
Fotógrafo: Dárcio Monteiro
Título: Conjunto de fotos
Veículo: Gazeta de Alagoas

CHARGE
Chargista: Nunes Lima
Veículo: Jornal A Voz do Jornalista – Sindicato dos Jornalistas

VÍDEO-REPORTAGEM
Repórter: Vanessa Omena
Título: “Várzea de Marituba”
Veículo: TV Gazeta de Alagoas

Relatório da Comissão Julgadora

A Comissão Julgadora do Prêmio Salgema de Jornalismo/92, integrada por Bleine Oliveira, Marcelo Firmino, Freitas Neto, Stefane Lins e Manoel Miranda, reunida no dia 08/09/92, após análise dos trabalhos inscritos, apresenta a listagem dos contemplados.

O Prêmio Salgema de Jornalismo tem por finalidade reconhecer as melhores contribuições ao jornalismo alagoano no período que precede à sua concessão. Com essa distinção, pretende-se não somente destacar o esforço do profissionalismo da área de comunicação no que tange à qualidade técnica, como também à democratização da informação.

Esse prêmio vem se constituindo no reconhecimento ao mérito, ao talento e ao esforço de todos aqueles profissionais que fazem do jornalismo um instrumento de aperfeiçoamento da convivência social, do progresso democrático e, sobretudo, da afirmação da verdade.

Os integrantes da Comissão Julgadora entendem que o prêmio serve para afirmar princípios técnicos como a isenção e a objetividade, entre outros, assim como o elevado ideal ético e social da comunicação, sem os quais essa atividade perde a sua finalidade.

Neste sentido, deve contribuir para elevar o nível qualitativo do jornalismo alagoano, sem perder a dimensão ético-social que deve norteá-lo.

Entendemos que o Prêmio Salgema de Jornalismo enfim, se constitui numa referência para todos nós. A melhoria de nossa produção jornalística só será possível a partir de uma justa avaliação com base nos critérios profissionais e éticos referidos.

A Comissão Julgadora deste ano vê como salutar o surgimento de uma nova geração de profissionais de televisão cujo trabalho sinaliza no sentido de um jornalismo mais vigoroso e autêntico. Repórteres, editores e, também, cinegrafistas, revelam novas tendências nessa categoria de premiação, revitalizando a reportagem, seja pelo vigor da atuação desses repórteres, seja pelo cuidado técnico das edições e imagens.

Como um prêmio que se coloca acima e além dos limites de cada empresa, o Prêmio Salgema de Jornalismo, na ótica de sua Comissão Julgadora, serve também de advertência aos efeitos nocivos que podem causar a censura e a falta de estimulo profissional.

Como uma atividade que conjuga técnica, espírito criativo e empenho pessoal, o jornalismo tende a apresentar sinais de esgotamento quando tais fatores predominam. Sem liberdade, espírito crítico e valorização profissional, só podemos esperar um resultado opaco e destituído de sentido social.

A Comissão lamenta que a qualidade da maioria dos trabalhos da mídia impressa inscritos este ano não tenha atingido padrões que justificassem premiações. Daí porque decidiu destacar o telejornalismo com os prêmios tradicionalmente concedidos à mídia impressa.

A Comissão teve como princípio premiar o bom jornalismo. Deixou de fazê-lo nos casos em que considerou insuficiente a qualidade dos trabalhos inscritos.

Sugere, por fim, alterações no regulamento, de forma a contemplar melhor a distribuição e a participação de todos os trabalhadores da área de comunicação. Esperamos que os premiados desta noite entendam suas láureas como um estímulo profissional e insistam nesse caminho. Assim sendo, a Comissão resolveu premiar os seguintes trabalhos: Vídeo –
Reportagem – III Prêmio Salgema de Jornalismo
Repórter: Arla Coqueiro
Veículo: TV Pajuçara

“Feira do Passarinho”

Arla Cristiane Coqueiro

Um prêmio é sempre bom. Abastece o ego e incentiva a paixão pela profissão. Em 1992, o Prêmio Salgema de Jornalismo proporcionou isso a mim e a equipe da qual eu fazia parte. Foi o reconhecimento de um momento feliz vivido pelo telejornalismo alagoano. Hoje esse momento se repete, mas de maneira distinta.

Pessoalmente foi um divisor entre o período de recém-formada pelo curso de Comunicação Social da Ufal e o amadurecimento no mercado de trabalho. O mais importante para mim, no entanto, é o respeito pelo qual tenho o prazer de desfrutar no meio do jornalístico. Pouco afeita a diplomacias e a envolvimento com o poder, pelo menos até agora, tenho no Prêmio Salgema de Jornalismo um dos meus instantes de felicidade batalhada com esforço e sacrifício. A modéstia não é uma das minhas principais características.

Agradecimentos à Salgema Indústrias Químicas por fazer o que muitas empresas de comunicação não fazem: reconhecer o trabalho dos profissionais de jornalismo.
Homenagens especiais aos meus colegas, sem os quais teria sido impossível realizar a premiada matéria sobre a bizarra e interessante Feira do Passarinho.

Cinegrafista – Rogério Araújo
Motorista/iluminador: Nêgo Aprígio
Editores – Rachel Fiúza e Arlindo Euzébio
Produtora – Cleide Maria
Chefe de Redação – Amaury Barbosa

Erosão destrói estrada de CR$ 50 bilhões

A mais polêmica e mais cara rodovia de Alagoas, a AL-101 Sul entre Barra de São Miguel e Piaçabuçu, com o custo médio de Cr$500 milhões por quilômetro construído, inaugurada há pouco menos de um ano, está semidestruída e intransitável. Na verdade, ela nunca foi entregue ao tráfego porque a sua inauguração não passou de um apressado ato político do ex-governador Moacir Andrade que queria mostrar serviços e marcar o seu governo com uma obra de grande porte, tanto que deu à estrada o seu próprio nome, depois cassado pela Assembleia Legislativa. Apesar dos 23 quilômetros não concluídos e dos protestos do então governador eleito Geraldo Bulhões, a rodovia foi oficialmente inaugurada por Moacir três dias antes de passar o governo ao sucessor.

Como pretendia que a obra fosse inaugurada em sua administração, Geraldo Bulhões praticamente a ignorou, e desde que assumiu o governo em março de 1991, só tem feito corpo mole nos esforços junto ao governo federal para liberação dos cr$40 bilhões necessários à sua conclusão. Sem receber dinheiro, as construtoras levantaram acampamento e abandonaram o canteiro de obras. Por conta dessa pendenga a rodovia está com suas obras totalmente paralisadas há 11 meses, tempo suficiente para que a erosão destruísse parte dos 23 quilômetros que não receberam asfalto, no trecho entre Coruripe e a ponte sobre a lagoa do Roteiro, em Barra de São Miguel.

Com extensão total de 102 quilômetros, a AL-101-Sul tem 79 quilômetros concluídos, mas os 23 que ainda continuam em fase de terraplanagem formam o trecho mais caro e mais complexo da obra, onde o preço do quilômetro construído chega a Cr$800 milhões. A obra toda está orçada em Cr$50 bilhões e a contrapartida do Estado foi de Cr$ 10 bilhões, já liberados pelo então governador Moacir Andrade que tentou concluir a estrada a toque de caixa.

Problemas técnicos

A questão política terminou gerando problemas técnicos que se traduzirão em prejuízos para os cofres públicos, já que as construtoras deverão pleitear novas bases contratuais para concluir a estrada, sob a alegação de que a destruição parcial do trecho em terraplanagem ocorreu por culpa do governo que não liberou os recursos devidos. Por sua vez, o DER – Departamento de Estradas de Rodagem, a quem cabe a fiscalização dos trabalhos, mesmo reconhecendo que a paralisação das obras prejudicou os trabalhos, vai exigir das construtoras a conclusão da estrada, sem qualquer alteração contratual que implique no encarecimento da obra.

Para o diretor-geral do DER, engenheiro José Faustino, o problema mais grave enfrentado pelas construtoras foi a pressa exigida pelo então governador, que queria concluir a obra em apenas seis meses, quando o prazo mínimo seria de dois anos. “Com isso, ocorreram problemas de erosão pela falta de tempo para compactação dos trechos em terraplanagem, justamente a parte de topografia mais acidentada e que exigia estudos mais detalhados das bacias hidrográficas”, explicou José Faustino.

A União liberou, recentemente, uma parcela de Cr$7bilhões para a construtora Sérvia, responsável pelo trecho não concluído, mas o diretor-geral do DER disse que a empreiteira será obrigada a reconstruir todas as obras de arte destruídas pela erosão, sem direito a exigir novas bases contratuais. O argumento de José Faustino é que, segundo análises em laboratórios, muitas partes destruídas tiveram, como causa, a falta de compactação do terreno, falha técnica da inteira responsabilidade da construtora.

Foi o que ocorreu com a ponte sobre a Lagoa do Roteiro, que apresentou problemas em uma das cabeceiras, que afundou 16 centímetros por falta de compactação do terreno. O DER constatou a falha e obrigou a construtora OAS a corrigir o defeito. Com 480 metros de vão, a ponte é a maior do Estado e custou Cr$8 bilhões e o concerto Cr$500 milhões. “O mesmo procedimento será exigido da Sérvia na conclusão dos 23 quilômetros parcialmente destruídos pela erosão”, advertiu o diretor geral do DER, José Faustino, que ontem inspecionou o trecho em companhia do diretor de obras do órgão, engenheiro Franklin Vilela Vasconcelos. Pelas estimativas de Faustino, com liberação dos Cr$7 bilhões para a Sérvia, a obra será reiniciada ainda esta semana e deverá ser concluída dentro de 120 dias, mas isto depende da liberação pelo governo federal dos cr$33 bilhões que ainda faltam.

Problemas técnicos e ações na Justiça
Fazendeiros vão à justiça contra o Estado

Mesmo após a sua conclusão, a rodovia Al-101Sul, projetada ainda no primeiro governo de Divaldo Suruagy, ainda trará muitos problemas para o governo e seus usuários.
É que alguns proprietários de terras cortadas pela rodovia entraram com ação judicial contra o Estado, exigindo o pagamento de indenizações pela faixa de terra utilizada na construção da obra. É o caso do empresário Nivaldo Jatobá, que apesar do acordo verbal feito com o DER se comprometendo a não exigir indenização, entrou com a ação na justiça cobrando esse direito, apesar de a rodovia valorizar em mais de 2mil por cento as suas propriedades.

Para mostrar que não está brincando, o empresário já cercou com arame farpado todo o trecho de sua fazenda cortado pela rodovia. Nessa demonstração de força e poder, Nivaldo Jatobá invadiu até o acostamento da estrada e cercou todos os acessos ao mar, num flagrante desrespeito à lei.

Para os usuários, o problema é muito mais grave e não será resolvido na justiça porque não tem mais solução. É o caso das perigosas curvas no trecho entre Coruripe e Feliz Deserto, onde a rodovia teve seu traçado modificado pela intransigência de fazendeiros da região, como o deputado federal José Thomaz Nonô Neto, que, para preservar alguns coqueiros de sua propriedade, forçou o desvio da estrada por um perigoso contorno, já batizado de “curva do Nonô”.

Tudo isto também ocorreu pela pressa na construção da estrada. Sem tempo para recorrer à justiça e declarar áreas de interesse público, o governo do Estado se submeteu às exigências de proprietários gananciosos e sem escrúpulos. Terminou construindo uma rodovia com alto grau de perigo para seus usuários. Mas se o ex-governador Moacir Andrade cometeu o pecado da pressa, tem o mérito de ter iniciado em seu governo um projeto de grande interesse público, mas que há quase duas décadas estava engavetado.

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Informação Científica ou Tecnológica
Repórteres: Niviane Rodrigues, Maria Goretti e Susy Albuquerque
Veículo: Gazeta de Alagoas (19/07/92)

Transplantes de órgãos viram rotina em Alagoas

O avanço da medicina tornou possível a aplicação de uma técnica que durante muitos anos esteve longe do alcance do homem: o transplante de órgãos. Graças às novas descobertas da humanidade e do desenvolvimento da Ciência, o transplante é uma realidade. Diariamente em todo o mundo, pessoas ganham vida com um coração, fígado, rins, pâncreas e pulmão, além de visão através do transplante de córneas. As experiências com transplantados demonstram que os níveis de aceitação aos novos órgãos também são positivos e que a qualidade de vida após o transplante é normal.

No Brasil, o primeiro transplante de coração foi registrado em 1968. O transplante foi realizado pelo cardiologista Zerbini e a partir de então a técnica passou a ser utilizada, com sucesso, em outros Estados. Vinte anos depois, Alagoas registra seu primeiro transplante renal, realizado pela equipe de nefrologia da Santa Casa de Misericórdia de Maceió no dia 12 de agosto de 1988.

O agricultor Euclides Bezerra de Castro, 32 anos, morador do município de Canafístula foi o primeiro alagoano a receber um rim novo. Ele sofria de insuficiência renal crônica e por isso era obrigado a, pelo menos três vezes por semana, se submeter às sessões de hemodiálise em Maceió. Para continuar sobrevivendo, Euclides Bezerra precisava de um rim novo. Depois de muita hemodiálise, ele finalmente conseguiu um doador e o transplante foi realizado.

Esse foi o primeiro passo para que novos transplantes acontecessem até hoje, somente na Santa Casa foram realizados 15 transplantes renais, além de cardíacos. Mas é no Hospital do Açúcar onde está o maior número de transplantes do Estado. De 1960 até 1978, o hospital realizou 275 transplantes de córneas e após uma interrupção das cirurgias, por falta de doadores o programa foi reiniciado, realizando mais 12 cirurgias.

O problema mais grave enfrentado pelas pessoas que precisam de um transplante para continuar sobrevivendo é a falta de doadores. Em Alagoas não existe um programa de incentivo às doações, por isso quem deseja doar algum órgão tem que recorrer aos hospitais e autorizar a doação. “A questão – segundo o médico Arnon Campos, da equipe de nefrologia da Santa Casa – é basicamente cultural porque no país as pessoas ainda sentem muito constrangimento em doar os órgãos.

Doação de órgãos, a grande dificuldade

Os pacientes que necessitam de um transplante de órgãos para continuar sobrevivendo esbarram em um problema grave: a falta de doadores. Ao contrário do que acontece na maioria dos países desenvolvidos, no Brasil não há um programa de incentivo às doações, tornando-as cada vez mais raras. “O problema é basicamente cultural. Aqui, no país, a pessoas ainda sentem muito constrangimento em doar os órgãos, esquecendo-se que com esse gesto poderiam salvar a vida de várias pessoas”, observou o médico Arnon Campos, da equipe de nefrologia da Santa Casa.

Em Alagoas, o problema é ainda mais grave. Não há no Estado um banco de doadores, nem tampouco um programa por parte do governo do Estado. Muitas vezes, as doações acabam se tornando inviáveis, graças à inexistência desse programa. “Durante algum tempo mantivemos um banco de doadores aqui no hospital. Eles tinham uma carteirinha, que funcionava como uma espécie de documento de autorização das doações, mas devido à falta de incentivo, o programa acabou suspenso e hoje está cada vez mais difícil conseguirmos uma doação”, revelou o diretor do Departamento de Nefrologia da Santa Casa, José Dagmar Vaz.

Sem o programa de doadores, quem deseja fazer a doação de um órgão é obrigado a procurar o hospital de referência para esse tipo de cirurgia, no caso de Alagoas, a Santa Casa. “Isso dificulta as doações. A família, na maioria das vezes, está muito sentida, vivendo um momento difícil, então raramente se lembra que, doando os órgãos do parente, estaria salvando vidas. Se tivéssemos com esse programa de doadores funcionando, parte desses problemas seriam solucionados”, revelou o médico Arnon Campos.

Somente no Departamento de Nefrologia da Santa Casa existem hoje 120 pacientes em programa de hemodiálise à espera de um rim novo. O mesmo acontece com o programa de córneas, do Hospital do Açúcar, onde 15 pessoas estão à espera de um transplante. “Essas pessoas costumam esperar durante muito tempo para conseguir a doação e muitas vezes têm que se submeter a tratamentos durante a vida toda, como é o caso das pessoas que fazem hemodiálise”, salientou Arnon Campo.

Com a morte cerebral não há mais vida

Para que o transplante de órgãos seja realizado, é preciso, antes de tudo, que se confirme a morte cerebral. Motivo de polêmica entre os religiosos, o assunto é discutido também entre os seguidores do espiritismo. Na opinião do presidente da Federação Espírita de Alagoas, Coelho Neto, “desde que seja confirmada a morte cerebral, quando acontece desencarnação e o transplante seja autorizado pela pessoa ainda em vida, acreditamos que deva ser realizado sem qualquer problema”, disse.

Coelho Neto cita a Epístola única de Tiago: “Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também sem a fé as obras são mortas”. Ele lembra que o “homem tem em si o corpo, o perespírito e o espírito. O perespírito une a matéria (corpo) ao espírito, quando o laço, ou seja, quando o espírito desencarna do corpo, há morte e aí não há porque se impedir o transplante de um órgão que poderá dar vida a várias pessoas”.

Em sua análise, Coelho Neto cita ainda Alan Kardec, codificador das doutrinas dos espíritos. No livro dos Espíritos, Alan Kardec pergunta: “Qual a causa da morte dos seres orgânicos? Esgotamento dos órgãos”. Portanto, quando esse esgotamento se dá e quanto há autorização da família e da pessoa em vida o transplante deve ser feito.

Agricultor vive há 4 anos com um rim doado

O primeiro transplante em Alagoas foi realizado dia 12 de agosto de 1988, na Santa Casa de Misericórdia de Maceió. O paciente, o agricultor Euclides Bezerra de Castro, 32 anos, casado, morador do município de Canafístula recebeu um rim novo de um doador cadáver e durante algum tempo foi acompanhado pela equipe de nefrologia do hospital. Hoje, Euclides Bezerra leva uma vida normal, vindo à Santa Casa apenas a cada seis meses para fazer exames de rotina.

Centro de referência em Alagoas para transplantes, a Santa Casa registra hoje um total de 15 transplantados renais. “Além de referência para o Estado a Santa Casa é também um dos únicos hospitais no Nordeste a realizar transplantes de órgãos”, revela o médico Arnon Campos, da equipe de nefrologia do hospital. Passados quatro anos do primeiro transplante de rim no Estado, o trabalho da equipe de nefrologia do hospital acabou se tornando rotineiro. “Nossa meta, disse Arnon Campos, é realizar pelo menos um transplante de rins por mês em Alagoas”. Apesar das dificuldades em encontrar doadores, os transplantes têm sido realizados sempre com boa aceitação pelos organismos dos pacientes receptores dos novos órgãos.

Na última sexta-feira, o hospital realizou um novo transplante, desta vez de coração. A paciente, Maria Luzinete Bento da Silva, 41 anos, recebeu um coração novo e deverá permanecer no hospital durante 20 dias, quando será acompanhada pela equipe de cardiologia responsável pela cirurgia. Maria Luzinete é a primeira mulher a receber um transplante de coração em Alagoas. Ela sofria de miocardiopatia dilatada e somente com o transplante tinha chances de continuar sobrevivendo.
Também receberam órgão novo neste último final de semana, o estudante Gilberto Feitosa, de 25 anos, e Paulo Soares de Melo, 48. Eles sofriam de insuficiência renal crônica e estavam fazendo hemodiálise na Santa Casa. Graças à doação conseguiram realizar o transplante esperado durante cinco anos.

Mais de 100 pacientes esperam por um doador

A insuficiência renal crônica é um dos problemas que mais tem atingido o brasileiro. A estimativa, segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, é de que para cada um milhão de habitantes, 250 novos pacientes devem entrar no programa de hemodiálise, sendo que destes, 80% necessitarão de um transplante renal. Em Alagoas somente na Santa Casa de Misericórdia de Maceió, hospital referência para o Estado, existem hoje 120 doentes em tratamento de hemodiálises, a maioria esperando um doador.

“Essas pessoas, escravas do hospital, poderiam voltar a ter uma vida normal caso conseguissem a doação de um rim”, observa o médico Arnon Campos, da equipe de Nefrologia do hospital. Doenças como a anomalia de trato urinário, hipertensão arterial, nefrites e diabetes podem levar à insuficiência renal crônica.

“Algumas dessas doenças podem ser controladas, através do tratamento de prevenção à nefrologia”, lembra Arnon Campos. A insuficiência renal crônica é diagnosticada quando o paciente começa a apresentar diminuição da diurese, inchaço, anemia, perda de apetite e pressão alta, entre outros. “Depois de diagnosticado, o paciente deve ser submetido rotineiramente ao tratamento de hemodiálise. Na maioria das vezes, as pessoas que sofrem de insuficiência renal crônica querem fazer o transplante e para isso têm que esperar na fila por um doador”, disse Arnon Campos.

As sessões de hemodiálise duram em média três a quatro horas e devem ser feitas pelo menos três vezes na semana. “A pessoa se transforma em um verdadeiro escravo do hospital, por isso a opção pelo transplante”, salientou Arnon Campos.

Dos 15 transplantes de rins realizados na Santa Casa, oito foram em homens com idade média de 40 anos. “Temos hoje um percentual de 70.97% de transplantados do sexo masculino e 29.03% do sexo feminino”, lembra o médico José Dagmar Vaz, diretor do Departamento de Nefrologia da Santa Casa.

Hospital do Açúcar transplanta córnea

De 1989 até hoje foram realizados em Alagoas apenas 12 transplantes de córnea. A média de operações, segundo o cirurgião Everaldo Lemos, chefe do setor de oftalmologia do Hospital do Açúcar, é de um a cada 4 meses. O hospital é o único a realizar esse tipo de transplante no Estado e enfrenta um grave problema – considerado comum quando se fala em transplante no Brasil: a falta de doadores.

A cirurgia de transplante de córnea, segundo Lemos, é classificada como de média complexidade. Normalmente, ela dura de 40 minutos a 1 hora e o paciente pode ter alta em até 24 horas. “A operação consiste na retirada parcial (nos casos de doenças inflamatórias) ou total (doenças mais graves, como a úlcera) da córnea sadia – que está localizada na frente da íris – para a colocação no olho do paciente que está com sua córnea defeituosa”, explica.

Transparência

O transplante de córnea é recomendado sempre que há uma perda da transparência da córnea, o que acaba impedindo a visão. O motivo frequente dessa perda de transparência é a úlcera de córnea, uma doença que acomete, principalmente, a população de baixa renda, com poucos cuidados coma higiene. “A úlcera pode resultar de um arranhão no olho, que não recebe os cuidados”, afirma Everaldo Lemos.

O principal risco para quem faz um transplante de córnea é a rejeição, que pode provocar a volta do problema ocular. Segundo o chefe da oftalmologia do Hospital do Açúcar, alguns pacientes necessitam fazer até um tratamento a laser para diminuir esse perigo. Após a cirurgia, o paciente fica um ano em observação. “O pós-operatório é muito mais complicado que a cirurgia porque envolve o risco de rejeição”. Seis meses depois do transplante, o receptor da córnea recupera a visão final. “Se ele não tiver outra doença, além da que provocou o transplante, a recuperação da visão pode ser de 100%”, acrescenta Lemos.

Banco de Olhos conta com 8 mil doadores

Existem, atualmente, 15 pessoas à espera de um transplante de córnea registradas no Hospital do Açúcar. Os “candidatos” aguardam, em média, de 6 meses a 2 anos por um doador, apesar de o banco de olhos do hospital contar com um arquivo de 8 mil nomes.
“O grande problema é que as famílias não costumam informar a morte do doador para que nós possamos remover a córnea, que só serve para transplante se for retirada num prazo de até 6 horas”, explica o oftalmologista Everaldo Lemos. De acordo com a legislação brasileira, a doação só pode ser feita através de autorização expressa do doador ou da família.

De 1960 até 1978, o Hospital do Açúcar realizou 275 transplantes. Em 78, a falta de doadores provocou a interrupção das cirurgias, que só recomeçaram em 89. “Antes nós atendíamos indigentes – figura que, hoje, não existe mais, já que todos podem ser atendidos pelo SUS – e, no caso de morte, o hospital tinha o direito de retirar os órgãos dessas pessoas para transplante” – lembra. Com a modificação na lei, que passou a exigir a legalização da doação, as dificuldades para quem necessita de uma córnea aumentaram.

Prioridade

Os casos considerados prioritários – quando o paciente tem os olhos estragados ou sofreu traumatismos graves – costumam ser resolvidos em até 6 meses. A fila de “apenas” 15 pacientes à espera de transplantes não significa, entretanto, que o número de alagoanos com problemas de córnea seja pequeno. “Muitas pessoas se inscrevem em hospitais de outros Estados e até conseguem trazer córneas de outros lugares. Além disso, as operações só foram retomadas em 89”, diz Lemos, acrescentando que, se houvesse apenas uma doação por mês, o problema no Estado seria solucionado.

O chefe do setor de oftalmologia do Hospital do Açúcar é a favor de uma modificação nas leis sobre doação. “A legislação francesa, por exemplo, determina que toda pessoa é doadora, a menos que manifeste em vida, um desejo contrário”, alega. A princípio, qualquer pessoa pode doar seus órgãos. No caso do transplante de córnea recomenda-se que o doador tenha, no mínimo, sete anos de idade. Não há, porém, uma idade limite. O último transplante feito no hospital teve como doador uma pessoa de 77 anos. Algumas doenças, como hepatite, raiva e AIDS impedem o transplante. “Nosso grande problema em Alagoas é a hepatite”, informa o oftalmologista.

Catarata

Everaldo Lemos revela ainda uma estatística assustadora: 30% dos pacientes cegos do Hospital do Açúcar poderiam ter sido curados pelo transplante. “Essa grande incidência decorre, principalmente, dos problemas de úlcera da córnea”, complementa.

A úlcera, entretanto, deverá dividir o “primeiro lugar” com uma consequência das operações de catarata: a pacificação da córnea. Segundo Lemos, a modernização do tratamento da catarata, que provocou a substituição dos óculos de grau pelas lentes intraoculares, tem aumentado a incidência dos transplantes. “Nos Estados Unidos, o fator principal para os transplantes é a cirurgia de catarata”. Aqui no Estado, apenas a Santa Casa de Santa Luzia realiza 150 implantes de lentes intra-oculares por mês. “Daqui a 2, 3 anos esses pacientes vão precisar de transplante e a média de enxertos será de 2 a 3 por mês, se houver doadores”, estimou.

NE-TX: Intercâmbio para doar
Pacientes vão receber órgãos em outros Estados

O NE-TX – Programa de Transplantes Cardíacos no Nordeste é uma experiência pioneira não apenas a nível nacional, mas também mundial, que integra equipes de cardiologia no Norte/Nordeste. Além de Alagoas, figuram os estados de Sergipe, Rio Grande do Norte, Bahia e Pernambuco.

O chefe de Serviço de Cardiologia do Instituto de Doenças do Coração da Santa Casa de Misericórdia de Maceió, médico-cirurgião José Wanderley Neto, informa que o programa consiste em promover o intercâmbio de doadores e receptores de coração, em levar o paciente a fazer o transplante no Estado em que esteja o doador.

Pioneirismo

Alagoas e Sergipe, diz o cirurgião foram os pioneiros nessa metodologia de tornar o transplante de coração uma cirurgia móvel. “Trabalhamos de forma integrada há 14anos. No início, o programa era visto com certo ceticismo por alguns setores da medicina. Era tratado e rotulado como uma aventura. Após 3 anos, mostramos que o programa está assentado em bases cientificas sólidas, tanto que motivou ao professor Zerbini a elogiar, no último congresso, o nosso trabalho”, completa Wanderley.

Apoio

Entre os benefícios do programa, Wanderley Neto destaca o aproveitamento de conhecimentos sobre outros problemas da medicina e o espírito da solidariedade que norteia cada operação. “Neste programa o transplante é bancado em parte pela Previdência, através dos materiais usados na cirurgia propriamente dita; o hospital que sedia o transplante, no período pós-operatório, com medicações e a infra-estrutura, entre as quais os profissionais treinados, a exemplo dos enfermeiros. O Estado também, através da Secretária de Saúde, que bancava a droga contra a rejeição, a ciclosporina. E aproveito para destacar o empenho do secretário José Medeiros em não deixar faltar a droga. E até os médicos também participam na medida em que viajam com seus próprios recursos. Esses gastos são compensados pelos resultados bem-sucedidos e no investimento que fazemos em nós mesmos, com a troca de experiências”, acentua.

Prioridade

O médico Wanderley Neto explica que, no final, esses investimentos são extensivos, por tabela, a pacientes com outras patologias, sem contar com a melhoria do padrão de qualidade dos serviços oferecidos pelo hospital e do desenvolvimento harmônico de toda a região. E arremata: “A nossa prioridade é ter o paciente bem atendido em qualquer local, propiciar a ele o que for necessário para seu completo restabelecimento. ”

Santa Casa já fez 10 transplantes cardíacos

Nos dez transplantes cardíacos realizados pelo Programa NE-TX Nordeste Transplante, consta apenas uma mulher. Maria Luzinete Bento da Silva, 41 anos, que se submeteu a cirurgia no último dia 10. A idade dos pacientes desde o primeiro caso em 1986, até este ano, varia entre 17 a 59 anos.
As patologias mais comuns que motivaram os transplantes nesses pacientes foram, pela ordem, quatro miocardiopatia dilatada (doença dos músculos do coração), três por miocardiopatia chagástica (provocada pelo mal de Chagas) e um, respectivamente, por miocardiopatia hipertrófica (inchamento do órgão), miocardiopatias reumáticas e isquêmica.

Vantagens

Entre as vantagens mais evidentes em se fazer um transplante via NE-TX está em o paciente dispor de mais alternativas, não apenas no seu Estado de origem, mas em todos integrados ao programa. O princípio básico está na doação.

O médico Antonio Di Biase Wyszomirki, integra a equipe coordenadora do Serviço de Cardiologia do Instituto de Doenças do Coração da Santa Casa, informou que as doações acontecem de forma espontânea e mais frequentemente nas famílias de baixa renda, ainda. “É preciso que esteja certificada a morte cerebral do doador, preencher os trâmites legais, a autorização da família para a doação, que pode ser dada através do marido quando se trata da mulher, ou do parente mais próximo, segundo o grau de hierarquia. Sem essa autorização não há transplante”, adverte.

Custo zero

O custo da cirurgia para o paciente é zero, revela o médico Joé Wanderley Neto. O hospital que sedia o transplante é que banca a parte dos gastos, inclusive na infra-estrutura dos seus centros cirúrgicos. É que para a cirurgia ser feita são necessárias duas salas no mesmo centro, a exemplo do que ocorreu com a Santa Casa de Misericórdia de Maceió. “A partir de nossa experiência bem-sucedida, logo no início, a administração do hospital se preocupou em dotá-lo de uma estrutura a altura.
Atualmente, o Instituto de Doenças do Coração da Santa Casa está apto a não apenas realizar transplante de coração, mas também de rins, córnea. É por isso que cada operação envolve cardiologistas, nefrologistas, oftalmologistas, enfim, enfermeiros e os demais profissionais de apoio. Isso dá ao hospital um alto padrão cientifico credenciando-o a ser mais procurado por outros doentes, que por sua vez fazem gerar a receita que ele necessita para investir mais”, destaca Wanderley Neto.

Funcionalidade

Essa adequação de funcionalidade na estrutura do hospital, atesta Antonio Di Biase, contribui também para o sucesso das cirurgias envolvendo transplantes. E explica: “Na forma convencional, quando o órgão é transportado de um local para o outro, apesar dos cuidados que envolvem a sua conservação, acontecem alterações na sua estrutura. O receptor indo até o local onde está o doador isso não acontece, o transplante é feito de forma simultânea, enquanto se retira o órgão doente a ser transplantado passa pelo mesmo processo. Resultado: ele fica menos tempo em anóxia (parado) proporcionando ao paciente uma melhor recuperação quando recomeça a bater. Isso foi observado ao longo das nossas experiências, desde a primeira operação”.

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