Usina Nuclear Angra 1 completa 40 anos em operação

15 / 03 / 22

Há exatos 40 anos, entrava em operação, no dia 15 de março de 1982, a Usina Nuclear Angra 1, no litoral fluminense, dando início ao programa nuclear brasileiro

Autor: Redação e Johnata Amado

Há exatos 40 anos, entrava em operação, no dia 15 de março de 1982, a Usina Nuclear Angra 1, no litoral fluminense, dando início ao programa nuclear brasileiro. No entanto, somente em 1985 seria inaugurada, com validade de 40 anos, prazo que dura apenas até 2024.

REPORTAGEM

Primeira usina nuclear do Brasil, Angra 1 só tem operações garantidas até 2024

Em meio a uma crise energética que não tem previsão de chegar ao fim, o Brasil se vê ameaçado de ter que parar as atividades de sua primeira usina nuclear. Inaugurada em 1985, Angra 1 foi concebida com vida útil de 40 anos.

O prazo expira em 2024 e, para que a unidade possa continuar funcionando, a Eletronuclear depende de uma nova autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que analisa um pedido já apresentado pela empresa, subsidiária da Eletrobras.

A companhia pediu a prorrogação do prazo por mais 20 anos, o que a permitiria continuar a operação de Angra 1 até 2044. Caso ela não seja concedida, as atividades serão obrigatoriamente paradas. Assim, a empresa, que planeja também a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3 — iniciadas em 1984 e paradas desde 2015, por escândalos de corrupção da Operação Lava Jato –, manteria apenas Angra 2 em funcionamento até 2026. Essa é a data prevista para a conclusão das obras da terceira unidade.

Segundo a Eletronuclear, o pedido de prorrogação foi apresentado em 2019, com documentos que informam sobre a rotina de funcionamento de Angra 1 e o monitoramento do envelhecimento da unidade, seguindo parâmetros estipulados pela CNEN e pela Comissão Reguladora Nuclear dos Estados Unidos. A estatal fez um programa de extensão de vida útil da usina, com custo estimado em 300 milhões de dólares (R$ 1,66 bilhão).

“Os recursos financeiros necessários à execução desses projetos de modernização e de melhorias de segurança de Angra 1 estão sendo negociados com o Banco Santander, o Banco de Exportação-Importação dos Estados Unidos (Exim Bank) e a Eletrobras”, informa a Eletronuclear, por meio de nota.

De acordo com a estatal e a CNEN, a prorrogação do licenciamento é feita em etapas. A próxima é a terceira reavaliação periódica de segurança, que ocorrerá em dezembro de 2023 e segue diretrizes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). “Este será o principal marco do processo de licenciamento para a happy wheels demo operação de longo prazo de Angra 1”, cita a Eletronuclear em outro trecho da nota.

A CNEN confirmou ter recebido o pedido e destacou ter elaborado duas notas técnicas com os requisitos necessários. “A avaliação está em andamento. Existe documentação complementar que ainda será submetida para avaliação, como, por exemplo, resposta a exigências geradas em auditorias já realizadas e o relatório da terceira e última reavaliação periódica de segurança, em desenvolvimento, com previsão de ser entregue em 2023”, informou a comissão a respeito do pedido da Eletronuclear.

Professor do curso de Engenharia Nuclear da UFRJ, um dos poucos do país nessa área, Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobras, destaca que a prorrogação da vida útil de usinas nucleares tem ocorrido no mundo inteiro, mas reforça os cuidados necessários para que isto aconteça.

“Nunca uma prorrogação deste tipo se dá apenas de forma documental. Ela sempre vem acompanhada de medidas de substituição de equipamentos e análise do reator. Todo reator é um sistema muito delicado, apesar de grande. É como um grande relógio. O reator de Angra 1 é de uma tecnologia dos Estados Unidos. Provavelmente, eles vão contratar uma empresa de lá que supervisione essa revisão”, afirma o especialista.

Embora tenha pedido a prorrogação da vida útil da usina em 2019, a Eletronuclear destaca que começou a tomar medidas para conseguir a extensão em 2002, e que isso inclui a troca de geradores a vapor, ocorrida em 2009, e a substituição da tampa do vaso de pressão do reator, realizada em 2013.

Com as duas usinas, o parque nuclear de Angra dos Reis tem 2.013 megawatts (MW) de capacidade instalada, o equivalente a 1,1% da matriz energética brasileira. Pode parecer pouco, mas a energia nuclear alimenta 30% da demanda de todo o Rio de Janeiro, percentual que pode chegar a 50% em 2026, em caso de prorrogação das operações de Angra 1, combinada com o início das atividades de Angra 3.

HISTÓRICO DO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO

Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA) é o complexo formado pelo conjunto das usinas nucleares Angra 1Angra 2 e Angra 3 (em construção), de propriedade da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras. Elas são o resultado de um longo programa nuclear brasileiro que remonta à década de 1950 com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) liderado na época principalmente pela figura do Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva, que lhe empresta o nome.

Está localizada às margens da rodovia BR-101, na praia de Itaorna, no município de Angra dos Reis, no estado do Rio de JaneiroBrasil. As razões determinantes dessa localização foram a proximidade dos três principais centros de carga do Sistema Elétrico Brasileiro (São PauloBelo Horizonte e Rio de Janeiro), a necessária proximidade do mar e a facilidade de acesso para os componentes pesados.

As usinas operam normalmente a plena capacidade, ou seja, em cem por cento do tempo, sendo desligadas uma vez por ano para recarga do reator. As paradas para recarga duram cerca de trinta dias e, além da recarga, são feitos diversos testes nos sistemas normais e de segurança, além de manutenções programadas. O despacho das usinas é comandado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A interligação elétrica da usina ao sistema elétrico é feita por três linhas de transmissão em quinhentos quilovolts para as subestações de Cachoeira PaulistaSão Paulo, e de São José em Belford Roxo, de Grajaú no Rio de Janeiro. Uma interligação em 138 quilovolts existe para alimentar os sistemas da usina nos períodos de parada.

Em 2010, foram produzidos na CNAAA 14 415 gigawatts-hora (GWh), correspondendo a três por cento do consumo de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional.[1] De 1985, quando entrou em operação comercial a usina Angra 1, até 2005, a produção acumulada de energia das usinas nucleares Angra 1 e 2 somam 100 000 GWh, o que equivale à produção anual da usina hidrelétrica Itaipu Binacional, na fronteira Brasil-Paraguai.[2]

História

Em 1982, após longo período de construção, teve início a operação comercial da Usina Angra 1, com 657 MW. O início da vida da usina foi marcado por diversos problemas, que levavam a constantes interrupções na operação. Houve mesmo longo litígio entre Furnas Centrais Elétricas, então operadora da usina e a Westinghouse, sua fornecedora.

A partir de 1995, com a solução dos problemas técnicos e com o aprendizado das equipes de operação e manutenção, o desempenho da usina, medido pelo seu fator de capacidade, melhorou substancialmente.

Em 2001, entrou em operação a Usina Angra 2 com 1350 MW. Essa usina foi construída com tecnologia alemã Siemens/KWU, ainda no âmbito do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha. Em seu primeiro ano de operação, Angra 2 atingiu um fator de capacidade de quase noventa por cento.

Paralisada em 1986, as obras de conclusão de Angra 3 foram incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e retomadas em 2010.[4] No entanto, a construção foi interrompida em 2015 por suspeitas de corrupção, no âmbito da Operação Lava Jato. O governo estuda um modelo de parceria com a iniciativa privada para colocar a usina em funcionamento até 2026.[5]

Instalações

Imagem aérea de parte do complexo, ainda durante a construção de Angra 2

A área da Central abriga, ainda, duas subestações elétricas (138 e 500 kV) operadas por Furnas Centrais Elétricas S.A., os depósitos de armazenamento de rejeitos de baixa e média atividade e diversas instalações auxiliares (prédios de engenharia, almoxarifados etc.). A potência total das usinas é de 2007 MW, dos quais 657MW em Angra 1 e 1350MW em Angra 2. Adicionalmente, está em construção a usina nuclear Angra 3, com capacidade maior que a Angra 2. Nas cercanias da Central, existem, ainda, as vilas residenciais de Praia Brava e Mambucaba, que abrigam os operadores das usinas, além de laboratórios de monitoração ambiental, centros de treinamento e hospitais.

Usinas nucleares da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto:

  • Angra 1 – 657 MW
  • Angra 2 – 1350 MW
  • Angra 3 – 1405 MW (em construção)

Angra 1

Usina Angra 1

Angra 1 está situada na Praia de Itaorna, em Angra dos Reis, foi a primeira usina do programa nuclear brasileiro, que atualmente conta também com Angra 2 em operação, Angra 3 em construção, conforme o planejamento da Empresa de Pesquisa Energética – EPE. Angra 1 teve sua construção iniciada em 1972, tendo recebido licença para operação comercial da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN em dezembro de 1984. É uma usina tipo PWR (Pressurized Water Reactor) onde o núcleo é refrigerado por água leve, desmineralizada. Foi fabricada pela Westinghouse e é operada pela Eletronuclear. Sua potência elétrica nominal bruta é de 640 MW.

Angra 2

Angra 2 está situada na Praia de Itaorna, em Angra dos Reis, entrou em operação comercial no ano de 2001. É uma usina do tipo PWR – Pressurized Water Reactor, com o núcleo refrigerado a água leve desmineralizada. Foi fornecida pela Siemens – KWU da Alemanha, no âmbito do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha e é operada pela Eletronuclear. Com potência nominal de 1300 MW (aproximadamente 50% do consumo do Estado do Rio de Janeiro), produziu no ano de 2008 um total de 10 448 289 MWh. Em abril de 2008 Angra 2 alcançou a marca de 80 milhões de MWh produzidos desde sua entrada em operação.

Usina Angra 2

Angra 2 foi a primeira usina construída a partir do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, firmado em 1975. As obras civis da usina foram contratadas à Construtora Norberto Odebrecht e iniciadas em 1976 com o estaqueamento. O início da construção propriamente dita se deu em setembro de 1981, com a concretagem da laje do prédio do reator. Entretanto, a partir de 1983, o empreendimento teve o seu ritmo progressivamente desacelerado devido à redução dos recursos financeiros disponíveis.

Em 1991, o governo decidiu retomar as obras de Angra 2, sendo realizada em 1995 a concorrência para a contratação da montagem eletromecânica da Usina. As empresas vencedoras se associaram formando o consórcio UNAMON, o qual iniciou as suas atividades no canteiro em janeiro de 1996. A usina tornou-se operacional em julho de 2000, iniciando a operação comercial em fevereiro de 2001.

A usina opera em ciclos de aproximadamente 13 meses para troca de aproximadamente 1/3 do seu combustível. A primeira parada foi realizada entre março e abril de 2000, e até maio de 2013 haviam sido feitos 10 reabastecimentos. Projetada para produzir 1 309 MW, ao entrar em operação Angra 2 alcançou a potência de 1 360 MW graças a atualizações do projeto.

Dentre as usinas do tipo PWR existentes no mundo, Angra 2 foi avaliada pela Wano (World Association of Nuclear Operators) como acima da média em 8 dos 13 parâmetros de desempenho, alcançando em três deles a melhor performance da categoria. Com a produção de 10 488 289 MWh em 2008, a usina ocupou o 21º lugar mundial, sendo que apenas 38 usinas, das 436 em operação no mundo, alcançaram mais de 10 milhões de MWh naquele ano.

Angra 3

Usina Angra 3

Angra 3 está localizada na Praia de Itaorna e que está em fase de instalação. Como Angra 2, terá um reator de água pressurizada (Pressurized Water Reactor), potência de 1 350 MW, e projeto da Siemens/KWU, atual Areva NP.

Após ter tido sua construção paralisada nos anos 1980, foi anunciada a retomada de seu desenvolvimento a partir de 2008. Aproximadamente 60-70% dos materiais para a construção desta estação de geração nuclear já foram adquiridos juntamente como a compra dos materiais de Angra 2. O equipamento é mantido no local, tendo sido gastos 600 milhões de reais na fase inicial (750 milhões de reais em valores de 1999), e projetados mais 8,4 bilhões de reais (4,5 bilhões de reais), sendo 70% destes comprados nacionalmente. Foi gasto na estocagem e manutenção dos materiais aproximadamente R$ 20 milhões/ano.

Estima-se que sejam necessários 15 bilhões de reais para a conclusão de Angra 3

As obras de conclusão de Angra 3 foram incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas ainda não foram concluídas. A construção recebeu a licença de instalação do IBAMA e a licença de construção preliminar da CNEN. O início oficial das obras foi em 1 de junho de 2010. Até 30 de novembro de 2011, cerca de 40% do volume total de concreto estrutural havia sido executado, representando aproximadamente 20% do progresso das obras civis de Angra 3.

As obras, no entanto, foram interrompidas em 2015 por suspeitas de corrupção, quando a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, apurou irregularidades nos contratos. Até 2019, cerca de 67% das obras estavam e haviam sido investidos 9 bilhões de reais no projeto pelo governo brasileiro. Estima-se que sejam necessários novos investimentos da ordem de 15 bilhões de reais para a conclusão de Angra 3. O governo estuda um modelo de parceria com a iniciativa privada para colocar a usina em funcionamento até 2026.

O projeto é controverso. Tem em seus defensores o argumento que é economicamente competitiva, contar com combustível abundante no Brasil o que é importante dentro do conceito de segurança energética, além de não ser fonte emissora de gases de efeito estufa. Cálculos feitos por técnicos do Operador Nacional do Sistema indicam que o custo marginal médio para a expansão do sistema hidrelétrico é de aproximadamente R$ 80/MWh, enquanto o custo de geração de Angra 3 está em torno de R$ 144/MWh.

A praia onde se localiza a usina, Itaorna, que em guarani significa “pedra podre”, sofre constantes deslizamentos de terra, o que gerou diversas críticas sobre a escolha. A Eletronuclear se defende dizendo que diversos estudos foram feitos, e que o principal fator de escolha foi a localização equidistante de centros urbanos de São PauloRio de Janeiro e Belo Horizonte. além da proximidade litorânea, pois a água é necessária como agente refrigerante.

Publicado em outubro 29th, 2021 | por Johnata Amado

Foto: Reprodução

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