Passo de Camaragibe completa nesta terça-feira, 14 de junho de 2022, exatos 142 anos de Emancipação Política. A freguesia foi elevada à condição de cidade, por Lei Estadual, em 14 de junho de 1880.
Para celebrar esta importante efeméride, sobre a terra natal do Mestre Aurélio, publicamos o artigo de Márcio Fernando Bomfim, originalmente publicado no site da prefeitura do município, com o seguinte título:
O homem por trás do DICIONÁRIO
ARTIGO SOBRE MESTRE AURÉLIO REVELA COMO O ‘PAI DO DICIONÁRIO’ TURBINOU O PRÓPRIO NOME
Por Márcio Fernando Bomfim*
Crítico, lexicógrafo, filólogo, professor, tradutor e ensaísta brasileiro. Nasceu na simplória e pacata cidade de Passo de Camaragibe, em 03 de maio de 1910, na Rua 13 de Maio, filho do casal Manoel Hermelindo Ferreira e Dona Maria Buarque Cavalcanti Ferreira (Accili Lins, seu sobrenome de solteira).
Seu Manoel ou seu Milú, como era conhecido, era de família modesta, descendente de portugueses que se estabeleceram no Vale do Camaragibe, já dona Maria, a Quinha como era chamada, foi criada com muito zelo e todos os requintes de uma moça de engenho, vinda do Engenho Boa Esperança, e do engenho Marrecas de seus avôs. Desse casal Milú e Quinha nasceram seis filhos: Maria Luísa, Antonio, José e Aurélio. Outros dois faleceram ainda crianças.
Aurélio foi alfabetizado por sua mãe e depois com a professora Maria Palmira Cardoso. Em 1923, mudou-se para Maceió (AL), onde, aos 14 anos de idade, começou a dar aulas particulares de português. Aos 15, ingressou efetivamente no magistério: foi convidado pelo Ginásio Primeiro de Março a lecionar em seu curso primário. Já naquela época passou a se interessar por língua e literatura portuguesas.
Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife em 1936. Nesse mesmo ano, tornou-se professor de Língua Portuguesa e Francesa e de Literatura no Colégio Estadual de Alagoas. Em 1937 e 1938, assumiu o cargo de diretor da Biblioteca Municipal de Maceió.
Em 1938, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde continuou sua carreira de magistério ensinando Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no Colégio Pedro II e no então Colégio Anglo-Americano.
‘A CASINHA POBRE DE MINHA RUA’
Vindo de terras boreais publica ainda jovem sua décima poesia titulada de “A casinha pobre de minha rua”, assinalando pela primeira vez com o nome AURÉLIO BUARQUE DE HOLLANDA FERREIRA, quando seu nome verdadeiro era Aurélio Buarque Cavalcanti Ferreira, embora não conste em seu registro de nascimento mais que o prenome.
Nunca se valeria do segundo sobrenome, sempre o omitindo para subscrever-se Aurélio (ora com, ora sem acentuação aguda na segunda silaba) junto de Buarque Ferreira.
Até a publicação de “A casinha podre de minha rua”, não se confirmou a idéia que tivera de incluir entre os dois sobrenomes e em lugar do CAVALCANTI da mãe o mesmo Hollanda que se havia omitido com as gerações de D. Maria Buarque, mãe da mãe de Aurélio.
Dizia ainda que Hollanda, posto entre o Buarque e o Ferreira, conferia sonoridade agradável ao seu nome. “Ho-lan-da”, repetia. Com um duplo “l” ou não, o efeito era o mesmo. Evitava a quase cacofonia de “Bu-ar-que Ca-val-can-te”, emprestando ainda uma carga sonora aos termos quando lidos juntos à preposição: “Aurélio-Buarque-de-Holanda-Ferreira”. Porque o “l” de Aurélio parecia ir ecoar para junto do “l” de Holanda e do monossílabo “de” (indicativo de precedência).
No poema “A casinha pobre de minha rua” o poeta Aurélio havia tomado por inspiração as casa humildes em que havia morado – desde Passo de Camaragibe até alcançando Maceió. Ou falando de si mesmo, definindo sua própria arte, que vencera a nona sinfonia: a casinha velha, antes despercebida, traduzia-se na verdade nos versos ora libertários de seu estilo moderno. Daí a comparação: o adolescente que deixara de ver a “humildade” da velha casinha, onde residia seu verdadeiro valor.
Soneto – 1944
Aurélio Buarque de Holanda
Amar-te por amar-te: sem agora,
Sem amanhã, sem ontem, sem mesquinha
Esperança de amor, sem causa ou rumo.
Trazer-te incorporada vida fora,
Carne de minha carne, filha minha,
Viver do fogo em que ardo e me consumo.
(…)