Ricardo Rodrigues

Artur Xexéu: de pássaro a cidadão

ARTUR XEXÉU: de pássaro a cidade; de cidade a cidadão

Uma homenagem ao jornalista, escritor e cronista carioca, que faleceu no Rio de Janeiro no último final de semana

Por Ricardo Rodrigues

Xexéu se foi como um pássaro que voa alto e deixa um legado de paz. Não morre, se aninha no universo. Como se povoasse a cidade de Xexéu, na Zona da Mata de Pernambuco. Nasceu no Rio de Janeiro, era um carioca da gema, mas seu nome é o mesmo no município pernambucano, que faz limite com Alagoas. Portanto, Xexéu é nosso vizinho.

Como escritor, Xexéu tem entre seus textos, crônicas, roteiros, peças e livros. Cito aqui três obras que têm a sua assinatura: "Janete Clair: a usineira de sonhos", "O torcedor acidental (crônicas)" e "Hebe, a Biografia".

Xexéu morreu no domingo e deixou uma legião de fãs, pelo Brasil inteiro. Quem nunca se deliciou com suas crônicas no saudoso Jornal do Brasil ou com o desfile de informações em sua coluna de O Globo, ainda pode fazê-lo, nos anais da imprensa nacional.

A leitura de suas obras é uma lição de vida. Seu texto sempre foi carregado de emoção, humanismo e pluralidade. Era a ponte entre ele e o leitor. Mas o rio de cultura que o conduzia não tinha margem. Xexéu era do mundo. Sua alma era grande e bateu asas por essas bandas, aqui do Nordeste.

DE AURORA A XEXÉU

Além de cidadão do mundo, Xexéu também foi distrito, criado com essa denominação em 24 de abril de 1930, subordinado à Água Preta. Foi promovido à categoria de município em 1º de outubro de 1991. Este ano, completa 30 anos de emancipação política.

Xexéu foi rota de fuga dos escravos que viam para Alagoas, em direção ao Quilombo dos Palmares. Por ser passagem obrigatória para os negros fujões, criou-se, em 1675, um núcleo de resistência negra na cidade, o engenho Macaco. A comunidade chegou a ter cerca de 15 mil integrantes.

O número cada vez maior de feirantes, trabalhadores e senhores de engenho tornava o local um ponto de comercialização. Lá eram definidos os preços do açúcar e de outras mercadorias importantes.

No final do século XIX, Xexéu recebe o nome de Aurora por causa da passagem das tropas do marechal José Semeão. O caçador de escravos fujões ficou encantado com o amanhecer radiante da cidade, denominando a localidade de Aurora.

No entanto, logo depois, o município volta a chamar-se Xexéu, em homenagem ao pássaro do mesmo nome que impressiona a todos com seu canto harmonioso. Ainda bem, já que Aurora tinha sido o nome dado por um escravocrata.

DE CIDADE A CIDADÃO

De cidade a cidadão, o nome do pássaro justifica o canto e esse traço de união. Seu xará, Artur Xexéu também tinha o poder do encanto e se foi prematuramente, vítima de um câncer, na véspera do Dia Internacional do Orgulho Gay. Deixa marido, um legado cultural valiosíssimo e uma legião de fãs.
O escritor e jornalista morreu no domingo (27 de junho) aos 69 anos, vítima de um câncer. Ele estava internado na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro.
Desde 2015, após a morte do ator José Wilker, Xexéu era comentarista da premiação do Oscar na TV Globo. Ele também atuou como comentarista e jurado em programas de auditório, como no quadro ‘Dança dos Famosos’, no Domingão do Faustão.
Muito querido no jornalismo e no meio artístico, Xexéu seria com certeza uma unanimidade, se esse termo não tivesse sido tão esculachado pelo também talentoso Nelson Rodrigues. Nas mídias sociais, famosos lamentaram a morte de Xexéu e destacaram sua genialidade. A imprensa brasileira está de luto.
Colunista do jornal O Globo e ícone do jornalismo cultural, Xexéu lutava contra um linfoma descoberto há duas semanas. Ele tinha iniciado o tratamento na última quinta-feira (24/6), mas sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu nesse final de semana.
Xexéu se foi para outro plano espiritual, mas ficaram o pássaro que o batizou ficou e a cidade com seu nome. Ficaram também as lembranças dos abraços, sorrisos e risadas que ele dava. Bem como as lembranças de seus textos e crônicas, a encantar leitores até hoje, mundo afora.

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