Ricardo Rodrigues

Caro Mário Buíque, sempre polêmico

O texto abaixo, republicado hoje, é do jornalista Mário Buíque, um dos mais brilhantes de Alagoas. Ele completou ontem 64 anos, mas sua saúde não é boa. Por isso presto essa homenagem em vida, torcendo para que ele se recupere.

Buíque é uma legenda indelével do jornalismo alagoano; foi ele com sua empolgação de repórter quem me inspirou a seguir essa profissão, esse ofício, essa missão, quase um sacerdócio. Para a minha geração, que fez jornalismo nos anos 80, Buíque é referência, é escritor, é poeta e cantor. Um jornalista de mão cheia, boêmio, polêmico, talentoso, amigo e um coração cheio de amor.

Tive a honra de ter iniciado com ele no jornalismo estudantil, em 1977, no Jornal da Escola Técnica Federal de Alagoas – o Jetfal, sob o comando da professora Lígia, nossa Orientadora Educacional. Foi a partir dali que mudei de opção pela profissão: de engenheiro pra jornalista. Malditas e benditas sejam as linhas do destino, parafraseando meu dileto amigo Mario Buíque, o Marco Polo do jornalismo alagoano. Uma alma anarquista, um sujeito intrépido, tranquilo, impassível e genial. De casa e da rua, do Novo Mundo, onde mora com Rosa e filhos. Um cara fora do normal.

O texto abaixo do Buíque, sobre o sistema público de transporte, é do início do ano de 2011, tem quase 20 anos, mas permanece atual. Confira:

20 de Janeiro de 2011

Cambalacho nas empresas de transportes

Maceió é uma das capitais brasileiras onde a passagem é uma das mais caras do Brasil. Um sistema corrupto sem precedentes instalou-se no antro da prefeitura de Maceió, talvez até sem conhecimento do prefeito Cícero Almeida, e fazem do município a bacia das almas dos negócios espúrios da calada da noite.

Os sonhos de um povo se perdem no cotidiano. Um prefeito sem alma, que beija sem sentimentos, que sonha sem verdades, que diz e que não faz, que promete e não concretiza, que anuncia e deixa a comunidade sonhando acordada com um amor que nunca vem.

Lágrimas rolam de faces carcomidas pelo tempo. Devotos de meu Padim Ciço, em sua religiosidade disfarçada, não tem prá quem apelar, mas deveria ter. O que há de errado, então?

Ninguém diz nada. A Prefeitura muito menos. Os que não têm na expressão popular um pau que dê num gato, vê com tristeza os sonhos se diluírem, os objetivos de sua luta se perdem como nunca. Alguém já disse que um sonho que se sonha só não é um sonho. E de fato não é. E de fato não será nunca.

O prefeito Cícero Almeida (PP) nunca, em tempo algum, se comprometeu com o errado. Seu compromisso, como ele tem reiterado, é com o povo maceioense. Até aí tudo bem. Os nossos transportes coletivos parecem carroças velhas, de uma frota ainda inexistente, apesar de sabermos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda uma vida útil de dois anos.

Não há como pensar que tudo é uma festa de distribuição de brindes a pessoas despreparadas que, graças ao Partido dos Trabalhadores (PT), não deram certo nas urnas, nem muito menos na vida.

Para a coordenação-geral da Associação dos Usuários de Transportes Urbanos do Estado de Alagoas (Assutual), o que está havendo é uma ignomínia, pois há muitos passageiros, amigos dos cobradores que utilizam seus cartões de créditos de passageiros para financiar as passagens de outras pessoas embolsando os valores correspondentes.

Eu testemunhei inúmeras vezes cobradores repassando aos amigos os valores. Tudo bem, só que no final das linhas, os amigos dividem o que foi arrecadado nas viagens em que os esquemas funcionam, sobretudo no horário noturno, e que em alguns casos chegam a R$ l00.

Não sabem estas pessoas que com isto estão contribuindo para o seu próprio desemprego no futuro, pois, na medida em que as empresas têm prejuízos, a tendência é demitir quadros, por melhores que sejam. Das empresas que servem aos maceioenses, a que ostenta melhor postura é a Real Alagoas.

Por sua vez, quem também está altamente preocupado com o suposto desvio de R$ 54 milhões da famigerada Câmara de Compensação é o presidente da Força Sindical no Estado de Alagoas, Guima.

Para ele é preciso urgentemente que estas falcatruas acabem de uma vez por todas para garantir não apenas a tranqüilidade dos passageiros, como para assegurar o emprego daqueles que no dia a dia estão tirando o sustento de seus familiares e dos seus compromissos financeiros assumidos anteriormente.

O que fazer para, de uma vez por todas, acabar com este medo desenfreado da violência não só em Maceió como no Estado de Alagoas? A resposta está em cada um de nós. Está na fé que a grande maioria do nosso povo deposita em Nossa Senhora dos Prazeres e em Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil.

Na opinião abalizada do jornalista e escritor Reinaldo Cabral, que lançou recentemente seu novo romance “O Vôo do Gafanhoto”, também fundador e presidente da primeira associação de bairro de Maceió, urge que o novo superintendente da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), José Pinto de Luna, tome as providências cabíveis que o caso requer.

Outro mote levantado por simpatizantes do Partido Verde (PV), partido ao qual estou filiado, é que os escândalos que envolveram, no passado o diretor e ator da rede Globo de Televisão, Francisco de Assis, não fiquem, mais uma vez, impunes.

As ruas estão, cada vez mais, entupidas de veículos. São 23 mil carros novos por ano, fora os velhos que são vendidos em vários pontos da cidade. O estrangulamento das vias públicas é notório. A paciência dos que dependem deste sistema falido de transportes chega ao fim.

O buzinasso ensurdecedor das madrugadas no calor das noites quentes de verão está cada vez mais definhando. E assim, como dizia Lulu Santos, caminha a humanidade.

É preciso que o prefeito Cícero Almeida e o seu superintendente dos Transportes tomem as rédeas da situação e possam fazer o excelente trabalho que, com certeza, eles sabem realizar. Com isto ganha Maceió, ganha Alagoas e porque não dizer, ganha o nosso País, onde nossos poetas deixam de cantar seus males para sofrerem indefinidamente aquilo que se convencionou chamar de “a insustentável leveza do ser”.

Mário Buíque

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