Máfia das Apostas: oito jogos da Copa Alagoas estão sob suspeita

13 / 05 / 23

Investigação aberta pela Polícia Civil, a pedido da FAF, vai ouvir empresários, dirigentes, juízes, apostadores e jogadores

Autor: Ricardo Rodrigues, com agências de notícias

Investigação aberta pela Polícia Civil, a pedido da FAF, vai ouvir empresários, dirigentes, juízes, apostadores e jogadores; partidas sob suspeita de marmelada podem ser anuladas e mudar o resultado da competição

 

A suspeita de manipulação de resultados em pelo menos oito jogos da Copa Alagoas de 2023 foi confirmada pelo presidente da Federação Alagoana de Futebol (FAF), Felipe Feijó. Com base numa auditoria realizada por ume empresa contratada que Federação, ele pediu à Polícia Civil a abertura de investigação para comprovação da fraude e punição dos responsáveis 

 

De acordo com a assessoria da FAF, na quinta-feira (11/5), Felipe Feijó se reuniu com delegado Igor Diego, da Delegacia de Investigação e Captura (Deic), que estará à frente no caso. Nessa reunião, o presidente deixou o delegado ciente de todas as informações que foram produzidas. Agora, o delegado vai analisar essas informações e ouvir os envolvidos para dizer se houve ou não a prática fraudulenta.

 

Caso a suspeita seja confirmada, a competição fica comprometida e Alagoas entra de vez na rota da Máfia das Apostas. A manipulação de jogos, com a corrupção de jogadores de futebol, começou sendo investigada em Goiás, com a deflagração da Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público Goiano. Foi a capital goiana onde surgiram as primeiras denúncias, envolvendo o time do Vila Nova.

 

No entanto, as investigações avançaram e chegaram a outros Estados, com o envolvimento de quase uma centena de atletas, dos principais times do País. Estão sob suspeitas partidas das séries A, B e C, além de competições regionais e estaduais, a exemplo da Capa Alagoas. Na medida que as apurações avançam, o número de envolvidos aumenta cada vez mais. São muitos dos nomes de jogadores citados, mas a maioria nega participação no esquema investigado.

 

Operação Cartão Vermelho

 

Com base na apuração feita pelo MP de Goiás, o ministro da Justiça, Flávio Dino, pediu à Polícia Federal a abertura de inquérito policial para investigar a Máfia das Aposta. Com isso, está sendo preparada, para se deflagrada na próxima semana, uma espécie de “Operação Cartão Vermelho”, que tem como objetivo investigar e prender os mentores do esquema. A ordem do ministro é fechar o cerco contra as casas de apostas.

 

O alvo das investigações são os atletas identificados pela Operação Penalidade Máxima e a relação deles com as empresas de aposta. O volante do CRB e capitão do time teve seu nome citado, mas nega ter participado do esquema ou recebido qualquer tipo de vantagem. No campo legislativo, uma Medida Provisória (MP) está para ser editada pelo governo Lula, estabelecendo regras para as empresas de apostas e cobrança de impostos.

 

NOMES CITADOS

 

Até o momento, há pelo menos 15 jogadores e nove apostadores nas anotações do MP de Goiás como denunciados. Alguns fizeram acordo, outro continuam sob suspeita. Há ainda aqueles atletas que tiveram os nomes citados, mas ainda não foram confirmados como envolvidos com a Máfia das Apostas. De acordo com as investigações, entre os jogadores investigados constam os seguintes nomes:

 

Allan Godói (zagueiro, Operário-PR),

André Luiz (volante, ex-Sampaio Corrêa)

Eduardo Bauermann (zagueiro, Santos),

Fernando Neto (volante, São Bernardo),

Gabriel Domingos (volante, Vila Nova),

Gabriel Tota (meia, Ypiranga-RS),

Igor Cariús (lateral-esquerdo, Sport),

Joseph (zagueiro, ex-Tombense),

Mateusinho (lateral-direito, ex-Sampaio Corrêa, hoje no Cuiabá),

Matheus Gomes (goleiro, sem clube),

Paulo Miranda (zagueiro, sem clube),

Paulo Sérgio (zagueiro, ex-Sampaio Corrêa, hoje no Operário),

Romário (meia, ex-Vila Nova),

Victor Ramos (zagueiro, Chapecoense)

Ygor Catatau (atacante, ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã).

Já os apostadores são: Bruno Lopez de Moura, Ícaro Calixto, Luís Felipe Rodrigues, Pedro Gama dos Santos, Romário Hugo dos Santos, Thiago Chambó, Victor Yamasaki, Willian de Oliveira Souza e Zildo Peixoto.

 

Jogadores fizeram acordo com o MP:

 

Kevin Lomónaco (zagueiro do Bragantino), Moraes (lateral-esquerdo do Atlético-GO), Nikolas Farias (volante do Novo Hamburgo-RS) e Jarro Pedroso (atacante do Inter de Santa Maria). Os dois primeiros receberam dinheiro para receber cartão amarelo, enquanto os outros dois foram pagos para cometer um pênalti. Além deles, outras duas pessoas estão no “Rol de Testemunhas e Informantes”.

 

Quantas ações há?

 

A primeira operação Penalidade Máxima foi realizada no dia 14 de fevereiro, pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Goiás. A segunda fase vem de abril a maio, com mais denunciados, mais prisões preventivas e muito mais abrangente, saindo da Série B e chegando à Série A. Envolvendo, inclusive, jogadores dos grandes clubes do futebol brasileiro.

O MP goiano apresentou duas denúncias na semana passada à Justiça de Goiás. Numa delas, pede a manutenção da prisão preventiva de Bruno Lopez de Moura, Thiago Chambó Andrade e Romário Hugo dos Santos.

O que pode acontecer com os jogadores?

Pelo artigo 41-C do Estatuto do Torcedor, a punição prevista é de prisão de dois a seis anos e multa. O texto do Estatuto do Torcedor, que será incorporado na nova Lei Geral do Esporte, diz o seguinte: “solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado”

Pelo atual Código Brasileiro de Justiça Desportiva, há dois artigos possíveis. Um deles é o 242, que trata de dar ou prometer vantagem indevida a membro de entidade desportiva para influenciar o resultado de partida. O outro é o 243-A, que fala sobre atuar, de forma contrária à ética desportiva, com o fim de influenciar o resultado de partida.

As punições previstas são as seguintes: no 243-A, há previsão de multa de R$ 100 a R$ 100 mil, seis a 12 partidas de punição e suspensão de 180 a 360 dias. No artigo 242, a punição prevista é mais pesada, com eliminação do esporte, além de multa estabelecida de R$ 100 a R$ 100 mil.

Como os clubes estão se manifestando?

Quase todos os clubes com jogadores investigados pelas denúncias do Ministério Público rescindiram o contrato ou afastaram os jogadores denunciados.

Tiveram os contratos rescindidos: Romário (Vila Nova), Joseph (Tombense), Gabriel Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Sampaio Corrêa rescindiu, mas ele foi contratado pelo Operário-PR), Paulo Miranda (Náutico) e André Luiz (Ituano).

Foram afastados: Kevin Lomónaco (Bragantino), Fernando Neto (São Bernardo) e Eduardo Bauermann (Santos).

Continuam atuando: Mateusinho (Cuiabá), Ygor Catatau (Sepahan-IRA), Paulo Sérgio (Operário-PR), Moraes (Emprestado para a Aparecidense), Igor Cariús (Sport), Gabriel Tota (Ypiranga) e Victor Ramos (Chapecoense). Matheus Gonçalves (Sergipe) atuou pela última vez em abril deste ano.

Não conseguimos informações sobre Nikolas Farias e Jarro Pedroso.

Acontece que além desses jogadores investigados, existem também os que são apenas citados nas evidências do inquérito. Mas vale destacar que eles não foram denunciados até o momento. Mesmo assim, alguns clubes se anteciparam à apuração da Justiça e optaram por afastar preventivamente os jogadores.

São os casos de: Vitor Mendes (Fluminense), Max Alves (Colorado Rapids), Pedrinho e Bryan Garcia (Athletico-PR), Richard (Cruzeiro), Raphael Rodrigues (Avaí), Nino Paraíba (América-MG), Alef Manga e Jesus Trindade (Curitiba).

Mas outros times mantiveram os jogadores em seus elencos, como aconteceu com Nathan, do Grêmio. No lado do rival no Rio Grande do Sul, o Internacional apenas retirou Maurício da partida da última quarta-feira, contra o Athletico-PR, mas informou que confia na inocência do jogador e que ele continuará a rotina no clube a partir desta quinta-feira.

Quantos jogadores foram afastados?

Entre investigados e citados na Operação Penalidade Máxima, foram 11 jogadores afastados pelos respectivos clubes, no entanto, há suspeita de envolvimento de uma centena.

Há árbitros envolvidos?

Alvo de grandes investigações anteriores envolvendo manipulações esportivas – na Loteria Esportiva em 1982 e na Máfia do Apito em 2005 -, os juízes de futebol não estão, até o momento, envolvidos em qualquer denúncia nesta operação Penalidade Máxima.

Quais são os jogos?

10/09/2022 – Palmeiras 2 x 1 Juventude

18/09/2022 – Juventude 1 x 1 Fortaleza

16/10/2022 – Ceará 1 x 1 Cuiabá

28/10/2022 – Sport 5 x 1 Operário

05/11/2022 – Santos 1 x 1 Avaí, Goiás 1 x 0 Juventude, Bragantino 1 x 4 América-MG, Criciúma 2 x 0 Tombense, Sampaio Corrêa 2 x 1 Londrina

06/11/2022 – Cuiabá 1 x 1 Palmeiras, Vila Nova 0 x 0 Sport

10/11/2022 – Botafogo 3 x 0 Santos

08/02/2023 – Guarani 2 x 1 Portuguesa

11/02/2023 – Esportivo 0 x 0 Novo Hamburgo

12/02/2023 – Caxias 3 x 1 São Luiz

Quem são os apostadores?

Os nomes divulgados pelo MP-GO são de Bruno Lopez de Moura, Camila da Silva Motta, Ícaro Calixto, Luís Felipe Rodrigues, Pedro Gama dos Santos, Romário Hugo dos Santos, Thiago Chambó, Victor Yamasaki, Willian de Oliveira Souza e Zildo Peixoto.

Bruno Lopez de Moura é apontado como líder do grupo. Ele é dono da empresa BC Sport Management, que tem como sócia a esposa Camila da Silva Motta, também denunciada pelo MP-GO.

O empresário foi preso pela segunda vez na operação Penalidade Máxima. Em fevereiro, da primeira, Bruno foi detido em São Paulo e ficou preso por cinco dias até conseguir habeas corpus. De acordo com as investigações, Camila comanda as transferências realizadas para pagamento aos atletas aliciados.

De acordo com as investigações, a conta bancária de Camila “registrou, em apenas nove meses durante o ano de 2022, expressiva movimentação no importe de R$ 1.036.160,00 (um milhão, trinta e seis mil, cento e sessenta reais) a crédito e R$ 1.047.233,00 (um milhão, quarenta e sete mil, duzentos e trinta e três reais) a débito”.

Como funcionam as apostas?

O contato é feito através de redes sociais – seja por telefone compartilhado ou até por mensagem direta via Instagram – e é feita oferta para algum evento do jogo, como cartão amarelo. Algumas vezes, pelo que se percebe das investigações, é realizado até mesmo “sinal” – com parcela menor do dinheiro prometido -, com pagamento posterior de montante complementar.

Tendo combinado com os jogadores, os apostadores realizam uma aposta múltipla (quando vários acontecimentos são necessários para acertar a aposta) e o retorno é muito maior do que uma aposta comum.

Um exemplo que consta na investigação é a aposta em cartões para cinco jogadores em que há a suspeita do esquema, além da vitória do Internacional em cima do Atlético-GO (não há indícios de que houve manipulação neste jogo específico). Nessa operação – que consta no MP – o apostador colocava R$ 300 e teria um retorno de mais de R$ 110.000, ou seja, um retorno de mais de 36.667%.

O transcorrer das investigações mostra até mesmo cobrança inversa. Ou seja, grupo de jogadores se comunicando e relatando atraso no pagamento, como aconteceu no Sampaio Correia. “Não pingou”, relata um dos jogadores do Sampaio Correia, sobre a grana que não caiu na sua conta.

De acordo com as denúncias, cada jogador recebia R$ 150 mil para cometer um pênalti no primeiro tempo de jogo.

O Campeonato Brasileiro pode ser paralisado?

É difícil responder com precisão esta questão por que envolve outras instâncias que ainda vão começar a investigação, como a Polícia Federal. Por parte da CBF, pelo presidente Ednaldo Rodrigues, e do presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, pelo menos, por ora, não há chance de paralisação de competições.

Algum jogador recusou a oferta?

De acordo com as informações das investigações, a resposta é sim. Alguns recusaram. Por exemplo, o ex-zagueiro de Vasco e Flamengo, entre outros clubes brasileiros, Rafael Vaz se manifestou no Instagram dizendo que foi procurado pelo Instagram para, num primeiro momento, parceria para roupas. Quando o interlocutor mudou o rumo da prosa e disse do que se tratava, ele recusou.

Rafael Vaz é apenas citado, mas sem qualquer implicação nas denúncias – um dos possíveis cooptadores trata em determinado momento que estava tentando “trazer para nós” – e é um dos casos de recusa de oferta da qual se tem notícia até agora.

Porém, há outras recusas que vieram a público. Quatro destes jogadores, inclusive, se tornaram testemunhas e informantes na operação Penalidade Máxima. São os jogadores do Vila Nova (GO) Jean Martim, Willian, Van Basty e Riquelme – este receberia R$ 200 mil, caso aceitasse a oferta do denunciado Romário, antes de partida contra o Sport.

O jogo era da última rodada da Série B e terminou empatado por 0 a 0 – curiosamente, entre jogadores do banco e no jogo, o clube pernambucano teve seis jogadores expulsos de campo.

 

Nota oficial da FAF

 

Recebemos os alertas de alguns jogos na Copa Alagoas e fizemos o devido encaminhamento aos órgãos competentes, isso ainda em fevereiro, mais precisamente no dia 9. O Tribunal de Justiça Desportiva de Alagoas, Ministério Público e GAECO estão todos cientes. Toda e qualquer denúncia precisa ser apurada e, havendo a confirmação, precisa haver a punição.

 

Sempre buscando manter a integridade do jogo, fomos uma das primeiras federações a fechar contrato com a Sportradar, visando monitorar a questão das possíveis manipulações de resultados aqui em Alagoas. Há cinco anos temos essa parceria. A Sportradar é uma empresa internacional e de referência no assunto. Neste ano, ampliamos o contrato com eles justamente visando um maior acompanhamento.

 

Nossa preocupação é constante. Temos um grupo de trabalho com o MP, PM e PC, e assim vamos trocando ideias e informações a cada novo encontro. Em janeiro, fizemos a primeira edição do seminário Jogando Limpo, que trouxe especialistas, autoridades e envolveu todos que fazem parte do futebol. O trabalho é sempre voltado para manter o esporte limpo e longe de qualquer pessoa que queira tirar vantagem de maneira ilegal.

 

Estamos tratando tudo com responsabilidade, mas sem fazer pré-julgamentos. Nossas campanhas contra a manipulação de resultados vão continuar durante todo o ano, assim como a campanha de combate ao racismo.

 

FELIPE FEIJÓ, PRESIDENTE DA FAF.

 

 

 

 

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